terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Antônio Chrysippo de Aguiar

Fragmentos de História Política

Por Antônio Chrysippo de Aguiar

Essa cousa abstrata, a que se dá o nome de opinião pública, é a carta de menos valia no jogo da atualíssima política realista. Favas para princípios, coerência, escrúpulos e outras velharias obsoletas. O essencial é vencer e tem vencido o cinismo ajudado pelo malabarismo.
Todavia, ainda não nos convencemos das primazias desde realismo tão em voga e tão em prática. Saudosismo, passadismo, casmurrice, seja como queira, continuaremos a rabiscar bagatelas, que já não têm expressão talvez, nem sentido. E, por hoje, oferecemos aos nosso escassos leitores alguns fragmentos de história política, pegados ao acaso.
1953 - O Sr. Pedro Freitas entrava no seu terceiro ano de Governo, e, os que acordam cedo ou não dormem, em absoluto, já cogitavam da sua sucessão. Concomitantemente, caia enfermo Eurípides de Aguiar, o espantalho dos traficantes, onde quer que eles estivessem. E a ocasião apresentava-se azada para arrebata-lhe das mãos a flâmula da "eterna vigilância", que ele conduzia bravamente no Piauí., e ainda sustinha levantada, bem alto, apesar da doença que lhe abreviava os dias.
Movimenta-se o senador Matias Olímpio, secretariado pelo deputado Demerval Lobão. Investem, ameaçam e são destroçados, afinal, na convenção do partido, diante da resistência que lhe ofereceram, entre outros udenistas, Luiz Ribeiro, Adelmar Rocha e Lustosa Sobrinho. E, ao ter conhecimento de sua vitória, Eurípides de Aguiar, num dos raros momentos de euforia, que ainda lhe eram concedidos pela dispneia,  levantou a cabeça e disse, voltando-se para o que os cercavam: "é a última caçambada que dou nesses tratantes. Morro satisfeito". E pouco depois morria, levando para o túmulo a impressão de que limpara as trincheiras da sua UDN, à qual tudo sacrificara, inclusive a saúde.
1954 - Assalto ao PTB de João Emílio Falcão. A conquista foi fácil. Para impor-se a Jango, Matias tinha um mandato de senador e Demerval outro de deputado, que levavam da UDN, além dos quebrados estaduais. Após rápidas escaramuças, com recriminações dos legítimos donos da casa, consumou-se o esbulho de João Emílio, Inácio Soares, Benedito da Luz e outros, organizando-se, então, com os egressos da UDN, o novo trabalhismo, chamado de PTB. "Capão". Era simplesmente a escora de que necessitava o senador Matias para a sua premeditada marcha sobre o Karnak. E Pedro Freitas cedeu a tudo, e o resto foi o que se viu. O PTB teve a parte do leão no bolo sucessório.
1957 - Aproxima-se novamente a sucessão governamental. Demerval Lobão, secretário geral do PTB, e delegado do I.A.P.I, denuncia o pacto com o PSD, firmado em 1954. Houve, em princípio, relutâncias e negativas de parte à parte, Contudo, provavelmente cansado de aturar a rede de intrigas, disputas e ambições inesgotáveis, em que o envolveram desde os primeiros dias de seu Governo, o general Gaioso e Almendra decide-se, por fim, a repelir as últimas e descabidas exigências de seus antigos aliados.
E dá-se o rompimento, muito a contragosto, do senador Matias, que planejava contemporizar para explorar, até o derradeiro instante, o Governo do qual, ele e seus amigos, foram os maiores usufrutuários.
1958 - Janeiro. O deputado Cândido Ferraz fez doação da UDN ao senador Matias Olímpio. Das negociações entaboladas, e de que pouco tiveram notícia, saiu a candidatura do secretário do PTB ao Governo do Estado, o qual logo passou a comandar as oposições fundidas de sua preferência e confiança para os demais cargos eletivos. Que virá a seguir, só o tempo dirá, Por ora, os prenúncios são os piores.
......
Antecipando-se aos que nos queira negar credenciais para estranhar o fato consumado da candidatura Demerval Lobão, aceitamos a preliminar de que a nossa filiação aos quadros da UDN piauiense seja, de fato, muito recente. Oporemos, porém, a esse argumento, a nossa tradição de lutas democráticas, que data de muitos anos.
Para só falar no calendário da República nova, lembraremos as nossas atividades aqui dirigindo um jornal A Democracia, na primeira arrancada contra o regime ditatorial de 1930. E isso foi antes, muito antes do famoso "time das guabirabas" e dos misteriosos "incêndios de Teresina".
O que nos apontarão jamais é o ferro ou o carimbo de ditaduras, das quais nunca recebemos favores nem auferimos vantagens, embora reconheçamos que nem todas as interventorias foram nocivas ao Piauí, como igualmente temos de reconhecer que o general Gaioso e Almendra fez um Governo de tolerância. E tão tolerante, a ponto de desarmar adversários honestos e decepcionar amigos e aliados, que esperavam reforçar as suas posições através de truculências policiais.
Não negamos razão aos que nos subestimaram e nos alijaram de qualquer interferência nos mal encaminhados entendimentos udeno-trabalhistas. O que, cousíssima alguma, autorizava, porém, era acreditar que nos deixássemos atrelar, como matéria inerte, ao cargo triunfal da velhacaria, ou que adotássemos a filosofia da indiferença conformada. 
Enfim, as circunstâncias ditarão o rumo que tomaremos. E, acima das circunstâncias, os legítimos interesses da terra em que nascemos e de cujos destinos jamais nos alheamos.

Foto: Hermelinda e Antônio Chrysippo de Aguiar.

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