quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Fernando Pires Ferreira

Fernando Pires Ferreira (1) nasceu em Parnaíba, a 26 de abril de 1842. Filho de Antônio Pires Ferreira e de Lina Carlota de Jesus Rodrigues de Carvalho. Fez seus estudos primários no Engenho Paraíso, no município de São Bernardo, MA, e os estudos secundários em São Luís. Aos 19 anos obteve o diploma de bacharel em Ciências, em Paris, na França. Formou-se pela Faculdade de Medicina de Paris, a 2 de julho de 1867, tendo apresentado a tese de doutoramento na especialidade de oftalmologia, com o título De l´opération de la cataracte par l´extraction linéaire scléroticale (Blake, 1893, Vol 2:344). Foi auxiliar, assistente e por fim Chefe de Clínica Oftalmológica, aos 25 anos de idade, do célebre oftalmologista alemão radicado em Paris, Professor Dr. Louis De Wecker, grangeando a amizade de seus mestres Velpeau, Nelaton, Gosselin, Laugeire, Trousseau, Labbé, e etc... Membro da Associação Científica da França. Decidiu-se por estudar medicina em Paris, pois não existia no Brasil a especialidade de oftalmologia (havia apenas os chamados “médicos práticos”); além disto, sua mãe sofria de catarata e ele “queria dar a luz a quem lhe tinha dado à luz”. (Tenha-se ainda presente que os vínculos econômicos do norte do Piauí, associados aos do Maranhão, continuavam sob a influência dos conquistadores franceses, desde o século XVIII).

De volta ao Brasil, em 1868, operou afetivamente a mãe, dona Lina Carlota de Jesus Rodrigues de Carvalho, sobre uma mesa da casa-grande do Engenho Paraíso, dando cumprimento à promessa que se fizera de dar “a luz a sua mãe”. Isto o levou a ficar conhecido entre os escravos do Engenho Paraíso como “bruxo”: o fato da Sinhá ter recuperado a visão era para eles um “milagre”. Neste mesmo ano, apresentou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro a tese Breves considerações sobre as aplicações da iridotomia no tratamento da catarata. Graças a ela, o jovem Dr. Fernando Pires Ferreira foi admitido, a 22 de novembro de 1869, na Academia Imperial de Medicina: tinha 27 anos, e até hoje é o médico mais jovem a ser eleito para aquela entidade. Tornou-se logo colega dos mais eminentes médicos da época. Fundou em 1872, o Curso de Oftalmologia na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, tornando-se o “Pai da Oftalmologia” no Brasil: tanto por ser o primeiro médico brasileiro formado nesta especialidade, quanto por seu pioneirismo na implantação do Curso na Santa Casa, onde, aliás, passou a transmitir seus conhecimentos, criando escola e deixando brilhantes discípulos, entre os quais, o eminente Dr. José Antonio Abreu Fialho e o Dr. Otávio Rego Lopes. Ao mesmo tempo, exercia sua especialidade na Santa Casa de Misericórdia, no Hospital de São Francisco de Paula, na Sociedade Dom Pedro V, na Brigada Policial e na Ordem 3ª de Santo Antonio, onde nas manhãs de domingo atendia gratuitamente os pobres da cidade. Por iniciativa sua e amizade com o Visconde de Saboya, criou, em 1881, a Cátedra de Oftalmologia na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Fugindo ao monopólio e confirmando sua nobreza de caráter, indicou para esta cátedra seu amigo e colega o Dr. Hilário de Gouvea, recém chegado da Europa onde durante 15 anos adquiriu novos conhecimentos. (Hilário de Gouvea, formado em medicina no Rio de Janeiro, em 1866, foi para Heildeberg, na Alemanha, especializando-se em oftalmologia; voltou ao Brasil em 1881, com quase 40 anos de idade). Fernando Pires Ferreira enviuvou aos 45 anos, em 1887, o que o levou a não participar nem da organização nem dos trabalhos da secção de oftalmologia do Primeiro Congresso Brasileiro de Medicina, realizado no ano seguinte no Rio de Janeiro. Chamado à política, exerceu um mandato de deputado na Assembléia Geral pelo Piauí (1876-1878) (Costa, 1909:342). Dr. Fernando Pires Ferreira foi honrado com o Título de Oficial da Rosa. “Fazendo justiça aos seus méritos excepcionais de operador emérito e de eminente cultor da medicina, ofereceu-lhe D. Pedro II, em nome do governo, o título de Visconde. Soberano que era numa profissão sublime, onde as honrarias maiores e as considerações são moda, mimos ilusórios e pequeninos; diante do milagre de um cego que recupera a visão, de um atormentado a quem se restaura a vida - soube recusar a distinção” (do discurso de posse de Helion de Menezes Povoa, na Academia Nacional de Medicina). Herdou dos pais mais de 6.200 braças de terra, ao longo e ao norte do Rio Parnaíba, dos lados do Piauí e do Maranhão. Dr. Fernando Pires Ferreira casou-se a 19 de junho de 1869, no Rio de Janeiro, com Franklina Iria Cardoso de Mendonça, nascida em 1834, no Recife, e falecida em 22 de abril de 1887, no Rio de Janeiro. Filha de Manuel José Soares Cardoso e de Luíza Militana de Mendonça. Dr. Fernando Pires Ferreira faleceu no Rio de Janeiro, a 27 de outubro de 1907. Era irmão de Rosa Pires Ferreira, 1826, Angélica Pires Ferreira, 1828, José Pires Ferreira [4º], 1830, Cassiana Lina Pires Ferreira, 1832, Carlota Lina Pires Ferreira, 1833, João de Deus Pires Ferreira, 1835, Columba Pires Ferreira, 1837, Antônio Pires Ferreira Filho, 1838, Carolina Pires Ferreira [1ª], 1839, Maria de Deus Pires Ferreira [2ª], 1843, João de Deus Pires Ferreira, 1845, Manoel Pires Ferreira [1º], 1846, Anna Lina Pires Ferreira, 1847, Manoel Pires Ferreira [2º], 1849, José Pires Ferreira [6º], 1850, Eulália Pires Ferreira, 1851, Lina Pires Ferreira [2ª], 1854. Dr. Fernando Pires Ferreira e Franklina Iria Cardoso de Mendonça tiveram dois filhos: Lina Franklina Pires Ferreira, 1869, e Fernando Pires Ferreira Filho, 1872.
1 - Edgardo Pires Ferreira. A mística do parentesco - uma genealogia inacabada: Domingos Pires Ferreira e sua descendência. São Paulo: Livraria Correa Lago, 1990, página 91.
Foto: Fernando Pires Ferreira. Reprodução de quadro a óleo de Rodolfo Amoedo, pintado em 1903 no Rio de Janeiro, propriedade de Helena da Cunha Bueno. Acervo Helena [Heleninha] da Cunha Bueno.

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