segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Lucas Dourado

Meninote, em Parnaíba, residia perto do seu Lucas Dourado, mecânico da Casa Ingleza, uma espécie de professor Pardal, com casa na Rua Coelho Rodrigues, Bairro Tucuns (hoje São José). Todos, na época, se lembram, do carrinho dele, movido por um motor a gasolina de 1 cilindro e 10 HP, pintado na cor verde. Pegava quando rodávamos uma manivela. Era maneiro. Ele o usava muito para buscar água no Rio Igaraçu. Muitas vezes pegamos o carrinho na porta da casa dele e saímos empurrando ruas e ruas adentro da Parnaíba. Ele ficava uma fera. Mas não ralhava. Acho que gostava das nossas diabruras com o carrinho dele. O Nestor Augusto Carneiro, filho do seu Fantu e de dona Almira, o Vinícius Fontenele, filho do seu Lucimar e de dona Mafísa, o Paulo, filho do seu Maurílio, o Júnior do Tércio, filho de dona Francisquinha, esta filha do seu Abreu e de dona Rosinha, o Pelé, que era um empregado filho do seu Luís da Graça, o Augusto César - Bode Louro, filho do seu Portela, todos faziam a festa com o carrinho do seu Lucas Dourado. Algumas vezes ele permitia que andássemos no carrinho. Pelas barbas de Netuno!, como era fantástico. Todos, ou melhor, quase todos tinham medo da casa dele. Por fora e por dentro, uma coisa estranha. Ele bolou um meio de refrigerar a casa. Por baixo do telhado uns canos, com bocas gigantescas que saiam por cima do telhado. A casa sempre ficava fresquinha, mesmo no pior momento de solão. Não entrava água de maneira alguma. Isto nos intrigava. Cavou um poço no quintal e ele mesmo bolou o catavento que puxava água constantemente. Era enorme. De fora o víamos e diziam que era para pegar menino e jogar no espaço, onde ficaríamos flutuando. Dava um medo danado. Poucos ousavam passar na calçada da casa dele. Eu fui um dos poucos a me atrever a fazer amizade com ele. A frequentar a casa dele. Ele detestava mosca. Fez um troço para matar mosca. Sem deixar de lado uma espécie de raquete, que levava para todo lugar, não deixando uma mosca viva. Era ver uma e pá, bum! Todos os equipamentos da casa eram da invenção dele. Cama, mesas, cadeiras, armários. Adorava um jogo de cartas. Mas não admitia perder uma partida. Quando perdia, expulsava o vencedor. Fosse quem fosse. Eu, sabendo disto, nunca ganhava. Passar o dia com ele era um sonho. Baixinho, gordinho, tinha uma agilidade impressionante. O seu Lucas Dourado vivia praticamente sozinho. Seu Lucas Dourado era casado com dona Silvina. Adotaram uma menina chamada Fátima, que teve uma filha com nosso amigo Pelé. Adotaram, ainda, um menino, o Dourado, conhecido por Gibi, que não se dava conosco. O Gibi era na dele. Tempos depois, em Teresina, o vi no Banco do Estado do Piauí. Era funcionário da casa. Travei várias conversas com ele. Andava num fusca todo enfeitado. Não sei o que foi feito do fusca. Mas, atualmente, anda num carro, mais moderno, mas igualmente enfeitado. Não fica indiferente quando passa nas Ruas. Ele gosta disto. Agora, este Helder Fontenele, com seus arquivos implacáveis, publica esta foto do seu Lucas Dourado, em seu carrinho, com uns felizardos caronistas. Bateu um troço de saudade grande em mim. Do seu Lucas Dourado, do carrinho dele, e de todas as invenções dele. Não sei se foram conservadas. Quando eu for a Parnaíba, tomarei tento. Ou, quando me encontrar com o Dourado em Teresina me informarei. Do carrinho, sei, o levaram para um desfile de carnaval e lá deram fim nele. Lamentável. Registro fotográfico de Mário Marinho, outro que nos ajudava a infernizar a vida do seu Lucas Dourado. No carrinho estão: Francisco Linhares, seu Lucas, José Linhares, Mário Marinho e Carlitos.

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