domingo, 8 de novembro de 2015

O cinema em Teresina


Simplício de Sousa Mendes

O primeiro cinema que se exibiu em Teresina, lembramo-nos bem, foi trazido pelo alemão Herr Blum, vindo até nós procedente de São Luís do Maranhão.
O Porco Mundano foi o filme de mais interesse no seio do povo.
Era, no cinema mudo da época, um paquiderme imenso, de cartola e vestido bem, a fraque, colête, conforme a indumentária do tempo.
O Porco Mundano causou sensação e valeu por grande acontecimento e extraordinário atrativo.
As exibições eram diárias, enquanto o Theatro 4 de Setembro ficava completamente cheio – ouvindo os gritos: - o Porco Mundano – Sr. Blum, queremos o Porco Mundano.
Por ai, pelo entusiasmo popular em exibições dessa natureza – verifica-se quanto era o atraso da arte cinematográfica naquele tempo e, sem dúvida, o mau gosto do povo, deliciando-se com a figura de um animal, um porco em pé, vestido e dançando.
Mais tarde – algum tempo depois – Leônidas Nogueira e José Omati, juntos e associados, passaram a explorar o cinema mudo, no 4 de Setembro.
Pedro Silva, compositor e espírito inteligente – que se destacava pelas aplaudidas composições musicais – construiu o Cine S. Luiz ou Cine Royal – ali na Praça Rio Branco – onde se localizaria depois a Singer e mais tarde as Lojas Pernambucanas.
Leônidas faleceu e José Omati prestou toda a sua afinidade, perseverança e tenaz entusiasmo ao cinema – dando tudo que lhe fora possível dar ao Film – já então sob o aperfeiçoamento do cinema falado.
Morre Omati ainda em pleno vigor. È quando aparecem outros exploradores da arte da tela cinematrográfica: - Bartolomeu Vasconcelos e Deoclécio de Moraes Brito – construindo o Cine Rex – da Praça Pedro II.
O Ferreira arrenda o Theatro 4 de Setembro e passa a competir – dedicando-se, igualmente, ao cinema.
Mas a evolução não para, é demorada, embora constante, Teresina cresce e exibe, no plano atual do desenvolvimento, um cinema à altura da cidade, que se aperfeiçoa atingindo mais alto grau de civilização e de conforto.
Outros espíritos empreendedores surgem com os Drs. Jorge Chaib e R. Portela de Melo.
Fundam uma sociedade por ações populares e conseguem o mais completo êxito.
E, assim, hoje, comemorando o dia nacional da independência – inaugura-se o suntuoso prédio da Rua Coelho Rodrigues, onde passará a exibir-se o cinema melhor instalado e mais confortável de Teresina e do Nordeste brasileiro: - o Cine Royal, num justo preito de homenagem ao pioneiro José Omati.
O prédio é suntuoso, as instalações estão à altura do edifício e correspondem às exigências da arte, bom gosto e de conforto da mais apurada elite teresinense. É um surto de iniciativa privada de grande animador alcance e que muito honra e eleva a sociedade evoluída, que tanto precisa e merece ser beneficiada.
Não resta dúvida que o esforço dos promotores do Cine Royal foi grande e arrojado. Mas fez-se na conformidade da evolução teresinense.
Os melhoramentos não vem senão a tempo, quando o meio está próprio e preparado para recebê-los.
E é o que acontece, de certo, com o Cine Royal que, vitorioso, passará, de agora em diante, a ser um marco luminoso do exuberante desenvolvimento e progresso da cidade do imortal conselheiro Saraiva.
Teresina civiliza-se, cresce – com arte, fina sensibilidade artística e notável sentimento estético – de que o aspecto arquitetônico é grande demonstração.
Estará, portanto, ao nível de corresponder, devidamente, àquilo que é valor e mérito dos devotados construtores do Cine Royal – José Omati – nessa deferência e acatamento à fina flor da população de Teresina.
É, sem dúvida, uma grande casa de arte e a arte fala aos sentimentos elevados e as faculdades emocionais de fino gosto e de boa educação.
O Cine Royal – José Omati é um marco imponente de uma fase nova na vida social dos teresinenses.
Estão de parabéns os seus arrojados e decididos promotores, de certo, merecedores de calorosos aplausos.
O mundo marcha e, como nós já estamos tão distantes do Porco Mundano de Herr Blum, do cinema mudo, do começo do século!
O Cine Royal é um marco civilizador.

Jornal O Dia, coluna Televisão
Página 3, 7.9. 1966

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