sábado, 17 de janeiro de 2015

Colégio Sagrado Coração de Jesus

Mamãe (Gracy Aguiar), influenciada por senhoras suas amigas, me conduziu para estudar no Colégio das Irmãs, como é chamado o Colégio Sagrado Coração de Jesus, lugar de meninas de posses.
Estudar no Colégio das Irmãs caía bem para as filhas de famílias abastadas. Era um paradigma que todas as mães seguiam. Acontece que eu achei aquilo tudo, de cara, muito enfadonho, conservador.
Papai assentia ou discordava das reivindicações dos filhos, conforme o problema fosse bem ou mal encaminhado. Desde cedo ele nos ensinou a ter pensamentos próprios. Então, fui a ele e expliquei que o ensino era bom, mas que as freiras nos faziam perder muito tempo com rezas infindáveis e pregações como se estivessem nos treinando para casamento com Deus. Para quem queria seguir o caminho religioso, era formidável, mas, como eu não desejava seguir essa carreira, eu achava que era de bom tom estudar em outro colégio, onde melhor aproveitasse meu tempo, com instrução mais adequada. Dadas as justificativas, solicitei a papai o desligamento do Colégio das Irmãs, que era mesmo muito tradicionalista para o meu gosto. Papai aceitou as minhas ponderações, malgrado a manifesta oposição de mamãe, dada a sua formação católica enraizada. Foi o primeiro grito de independência que eu proferi, saindo do preconceituoso para a realidade. 
O Colégio das Irmãs foi fundado em 1906 pelas freiras Savinianas, atendendo solicitação do primeiro bispo do Piauí dom Joaquim Antonio Almeida (1906-1911), no início só para meninos. Para os meninos, ele destinou o  Colégio Diocesano, criado também naquele mesmo ano.
Os positivistas:anticlericais:maçons não viram com bons olhos essa romanização do catolicismo piauiense, por meio da educação. Começaram a traçar planos para colocar suas ideias neste campo em ação. A oportunidade veio com a primeira mensagem de governo enviada à Assembleia Estadual, a 1º de julho de 1908, pelo Dr. Anísio Auto de Abreu, em que propunha uma ampla reforma no Departamento de Instrução Pública. Aprovada, coube ao Dr. Matias Olímpio de Melo colocar em prática o plano do governo. Para tanto, ele se cercou de um grupo de pessoas das mais representativas do Estado, como Anísio Brito, tio Antonino Freire, tio Pedro Borges da Silva, João Osório Porfírio da Mota, Francisco Portela, Abdias da Costa Neves, coronel Emílio Burlamaqui, capitão Manuel Raimundo Paz Filho, Honório Parentes, Francisco Parentes, João Santos, Miguel de Paiva Rosa, Brandão Junior e Gonçalo de Castro Cavalcanti,
Uma das primeiras medidas do grupo foi a criação, em 1908, da Sociedade Auxiliadora da Instrução, que logo tratou de restabelecer, com a denominação de Escola Normal Livre, a antiga Escola Normal criada, no governo Franklin Américo de Meneses Dória (1864 - 1866), que passou a funcionar com um curso de quatro anos de duração. Os professores lecionavam gratuitamente. Em 1915, passou a ser denominada Escola Normal Antonino Freire, em homenagem ao governador que a criou em 15 de maio de 1910. Atualmente se chama Instituto Superior de Educação Antonino Freire, com localização na Praça Firmina Sobreira, no Bairro Matinha, em Teresina.
Os conflitos entre a maçonaria:governo e a igreja foram intensos naquele período. Tio Antonino Freire, contudo, no governo, muito contribuiu, para o restabelecimento da paz entre as partes.
Dom Joaquim de Almeida, em “Carta de Despedida”, publicada em 24 de março de 1911, agradece ao Tio Antonino Freire: “Ao exmo. Sr. Dr. Antonino Freire da Silva, digníssimo governador do Estado, hipotecamos nossa eterna gratidão, não somente pelas boas relações que mantém conosco, mas também pelo prestigio e acatamento que dispensou à nossa autoridade, durante sua criteriosa e patriótica administração. Tratando da venda das fazendas da Santa de Piracuruca [...] Somos gratos ao exmo. Sr. Antonino Freire da Silva pelo muito que fez como homem de espírito conciliador e pacificador, em prol dos direitos da diocese, sem haver atritos de parte a parte.”
Quanto ao Colégio das Irmãs, ele está abrigado num belíssimo edifício eclético com inspiração neoclássica, localizado na Avenida Frei Serafim. Teve reconstrução em 1931. Em 1933, com pompa, recebeu a visita de Getúlio Vargas. Chamam a nossa atenção as elegantes escadarias em arco em sua fachada, circundando uma estátua de Cristo de braços abertos, e a capela da escola, em estilo neogótico. Sua iluminação noturna é uma atração por si só.

Do livro Genu Moraes - a Mulher e o Tempo.

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