Toni Rodrigues (*)
O cabo Amador Vieira de Carvalho comandou, em 1931, a segunda deposição de um governador piauiense em período republicano. O primeiro caso foi a deposição do governador João de Deus Pires Leal, o Joca Pires, antes, em 1930.
O cabo Amador tinha 24 anos de idade quando, no dia 3 de junho de 1931, comandou uma revolta contra os desmandos impostos pelo comando do 25º Batalhão de Caçadores, na época chefiado pelo coronel Sebastião Rebêlo Leite.
Segundo contou, numa entrevista ao jornal “Correio da Manhã”, datado de 23 de junho de 1963, os cabos e soldados eram submetidos a constantes maus tratos e constrangimentos. Ele disse que o manifesto pretendia, inicialmente, forçar a demissão do comandante. Assim, por volta de uma da madrugada, disparou um tiro de fuzil, fez prisioneiros três oficiais do 25/BC, partindo em seguida para o QCG (Quartel do Comando Geral), da Polícia Militar do Piauí, fazendo prisioneiro o oficial do dia, tenente Julião Leão. Na empreitada foi acompanhado por 12 cabos e praticamente todos os soldados da Guarnição Federal.
Do QCG, partiu para o Palácio de Karnak, ainda de madrugada, a fim de negociar com o interventor federal Landri Sales (visto que estávamos em plena ditadura de Getúlio Vargas) a demissão do comandante Rebêlo Leite. Landri Sales resistiu e foi feito prisioneiro juntamente com todos os oficiais que estavam de plantão em palácio. Amador, então, determinou que um destacamento de revoltosos fosse até a vizinha cidade de Timon, então denominada de Flores, para arrancar todos os trilhos da estrada de ferro, a fim de evitar a aproximação de tropas de outros estados que viessem dar apoio ao governo. Antes do nascer do dia, Landri Sales conseguiu escapar do cativeiro e fugiu para reorganizar o governo e a retomada do poder. Refugiou-se no Teresina Hotel, perto dali, onde foi recapturado apenas algumas horas depois. O líder da revolta, e do governo interino, foi procurado por Leão Marinho, Vaz da Costa e Lemos Cunha com uma proposta de rendição vinda do interventor/governador. Levou a proposta aos seus comandados e com ele ficaram apenas Aluisio Tasso Serra, Madureira Caxias, e outro de cujo nome não se recordou no instante da entrevista. Todos os demais optaram pela deposição das armas. Amador Vieira de Carvalho tornou-se, assim, um proscrito.
O cabo Amador Vieira de Carvalho foi governador do estado do Piauí por um período de aproximadamente 24 horas, no dia 3 de junho de 1931. Ele depôs e manteve prisioneiro o interventor federal Landri Sales. Seus comandados decidiram suspender o movimento e o deixaram praticamente sozinho depois de negociar intermediários de Sales. A eles, foi garantido que nada lhes aconteceria. Mas Carvalho seria preso e submetido a julgamento. Numa entrevista ao jornal “Correio da Manhã” em 1963, 32 anos após os acontecimentos relatados, ele disse que Landri Sales estava preso em palácio e foi libertado por um cabo chamado Calani, de cujo sobrenome não recordava. Disse ainda que o movimento foi prejudicado porque alguns dos participantes queriam assaltar a agência do Banco do Brasil, o que ele teria impedido pessoalmente.
Amador Vieira de Carvalho teve que fugir para não ser preso. “Estive primeiramente em Timon/Flores, depois fui para Caxias. De lá, segui para São Luís (MA). Mais tarde, Salvador (BA), Belém (PA) e Recife (PE). Tornei-me um verdadeiro peregrino. Somente voltei a Teresina em 1931 quando fui anistiado pelo presidente Getúlio Vargas. Mesmo assim, ao chegar na capital, fui bem recebido pelos meus colegas de farda, no quartel do 25/BC, mas não fui readmitido. Logo depois estava em casa quando chegaram uns homens dizendo-se policiais que queriam me prender. Tive que fugir novamente e passei mais três anos ausente do Piauí.” Em 1936 ele instalou-se na rua David Caldas, como ourives, onde foi entrevistado pelo repórter do "Correio da Manhã". O cabo Amador nasceu em 6 de junho de 1907 na cidade de Teresina, filho de Júlio Vieira de Carvalho e América Amélia de Carvalho.
Ele afirma na reportagem que não queria o poder pelo poder. Queria apenas que os cabos e soldados fossem tratados com dignidade pelo Exército brasileiro, que na época da revolta os tratava com muita agressividade. Eram obrigados a fazer coisas inacreditáveis. "Não creio que nos dias atuais (1963) as coisas continuem como naquele tempo. O Exército é uma grande instituição. Deve valorizar os seus integrantes, do menor ao maior", discorreu. O repórter anota que durante a entrevista percebeu lágrimas em seus olhos.
Toni Rodrigues - jornalista, radialista e escritor. Coordenador editorial da Rádio Teresina FM (91,9 MHz)
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