terça-feira, 20 de janeiro de 2015

A Vencedora, de Alcebíades Soares

A Vencedora, na esquina da Barroso com Coelho Rodrigues.

Nildomar Silveira

Inicio falando do seu proprietário que se chamava Alcebíades Soares. Tinha ele os irmãos: Antônio Cordeiro Soares e Adalberto Soares que residiam no Rio de Janeiro; Domingos Cordeiro Soares, meu pai; Alice Soares e a conhecida professora Ana Cordeiro Soares, antiga diretora do Grupo Escolar Gabriel Ferreira, na Vermelha e possui uma escola particular, tendo, nela, educado gerações, e Alarico Soares, médico no Rio de Janeiro.

Era Alcebíades Soares vocacionado para o comércio, tendo trabalhado por vários anos na Casa Carvalho, uma loja que fazia esquina com o relógio da Praça Rio Branco.

Em 1942, em sociedade com o senhor Brito Pinheiro criaram a loja A Vencedora, uma importante referência do comércio de Teresina. A sociedade foi desfeita, anos depois, ficando somente com Alcebíades Soares.  Houve problemas na dissolução da sociedade, entretanto apaguemos as coisas não boas do passado.

Lá eram vendidos, perfumes da Kanitez, cristais e prata (artigos de presente de uma maneira geral), além de brinquedos da conhecida marca Estrela e Trol. Comercializava, também, sapatos, inclusive os conhecidos "bicos finos", os de duas cores, chapéus, um componente quase que de uso obrigatório. As caixas que guardavam os chapéus ficavam em uma prateleira superior, exigindo subir em uma escada para de lá retirá-las, uma tarefa que eu, ainda menino, me divertia em fazer, sempre com a advertência de que poderia cair.

Havia uma máquina de fabricação estrangeira, registradora e guardadora do dinheiro apurado. Lembro-me, igualmente, que o meu tio Alcebíades, durante todo o dia, com uma chave, abria um setor da máquina e lia o valor apurado até aquele momento e eu acompanhava o seu semblante e traduzia o grande ou pouco apuro anotado. As compras para presente eram enrolado de modo especial, com a colocação de um laço, embelezando o invólucro, dando-lhe arte.

O prédio da referida loja mantém, até hoje a mesma estrutura, de dois pavimentos, tendo dele sido retirado as velhas portas de madeira, as quais tantas vezes, no horário de encerramento dos trabalhos, eram por mim cerradas, fazendo, até como divertimento, pois estava às mais das vezes, aguardando a saída do meu pai Domingos Cordeiro Soares, que lá prestava seus serviços como contador e produtor das correspondências e até auxiliar nas vendas. Havia, de um lado do interior da loja, um pequeno escritório, tendo uma mesa, cadeira rotativa e um cofre com segredo e cujos números só o meu pai e o tio Alcebíades, por mim chama tio bibio, eram sabedores. As portas eram trancadas, internamente, com ferrolhos e travancas de madeira, colocadas na horizontal. A divisória é - até hoje - de madeira, produzindo o som dos passos e das batidas lá em cima ocorridos. Fica na esquina da Rua Coelho Rodrigues com a Rua Barroso. "X" com A Vencedora funcionava a famosa loja Bela Aurora, especializada na venda de relógios e todos os tipos de joias.
  
 Anualmente Alcebíades Soares embarcava em um avião de carreira para o Rio, depois São Paulo. Lá, fazia as compras dos lançamentos existentes naqueles Estados. O que de novo os Sulista se deleitavam, ele trazia para vender em Teresina. Sabíamos dos nomes das mercadorias através do rádio, pois não havia a TV. Nas fotografias na Revista O Cruzeiro podíamos conhecer alguns dos produtos. Os maiores sucessos faziam os sabonetes Phebo, o Leite de Rosas e o Leite de Colônia. O perfume 20 quilates era só para os ricos. Meias, lenços, cintos, abotoadoras em ricas embalagens, bonecas para meninas e carrinhos para meninos, carrinhos para criancinhas, tudo em vários modelos

 No Natal a loja se enchia de brinquedos para a aquisição pelos fregueses. Nos dias que antecediam ao Dia do Nascimento de Jesus, eu para a loja me dirigia, sendo um dos vendedores e olheiro tentando localizar gatunos, o que raramente aparecia. As vendas eram boas, levando o tio Alcebíades a fazer caixa para a futura viagem a negócios. A presença da alta sociedade naquela loja era constante e durante todo o ano sempre tinha um bom papo de uma "autoridade" sentada em três cadeiras que o meu tio disponibilizava para os visitantes. Ele nunca se sentava, sempre ficava de pé, comportamento que adotou até perto de morrer. Homem de fibra, sério e de poucas brincadeiras, entretanto tinha um carinho especial para comigo, havendo, por desejo próprio, pago todas as despesas com a minha educação, bondade que jamais esquecerei.

Um acontecimento interessante. Retornando de uma das suas viagens ao Rio de Janeiro, lembro-me como se fosse hoje, ele proporcionou a mim uma grande alegria. Não conhecíamos o sorvete KIBON. Sabem que ele fez? Comprou no Rio uma garrafa térmica e dentro dela colocou vários sorvetes da KIBON e presenteou a mim e aos seus filhos já nascidos à época. Que festa! Naquele tempo lá em casa na tinha geladeira, pois era utensílio de gente rica.
  
Alcebíades Soares era casado com Aurora Basílio Soares (já falecidos), tendo os filhos Maria do Carmo Basílio (falecida), Renato Basílio (falecido), Edson Basílio Soares, Augusto Basílio Soares, Fernando Basílio Soares e Ana Helena Basílio Soares (falecida).

Moravam na rua Quintino Bocaiúva, parece-me que nº 151. Se enganado não estou esta loja encerrou suas atividades no ano de 1998.

Depoimentos:

Yeda Moraes Souza Machado - Nildomar Silveira, gostei de seu relato relembrando e contando nossa história. Quando cheguei a Teresina em 1975, vinda do Rio, me fiz de freguesa dessa loja. Gostava de sabonete da PHEBO e da Colônia da KANITS... e só comprava presentes lá devido aos afamados enfeites dos laços...Tenho lindos anjos comprados lá... Nunca vi réplica.

Carlos Augusto Pires Brandão - Excelente relato. Acrescento apenas que o senhor Alcebíades era de Pedro II. Parente de todos os Cordeiros que chegaram de Pedro II. São muitos em Teresina, União etc.

Nildomar Silveira - Omissão imperdoável, pois ele e o meu pai tinham orgulho de ser de Pedro II.

Ângela Braz - É, eu me lembro de ficar embevecida com peças de cristal e com outras que me pareciam ser de prata... a pouca idade não impedia de admirar a beleza e de ficar de ''butuca'' prestando atenção no conversê de seu Alcebíades com outros senhores. Ainda bem que nunca levei um passa-fora.

Gilberto Bezerra Da Silva - A Vencedora da família do Augusto Basílio. Em cima funcionou por muito tempo a Federação Piauiense de Futebol. Fica nessa rua, só que na esquina ao lado, essa foto não é desse prédio, isso fica perto da Bela Aurora.


Augusto Basílio - O tio Alarico trabalhou em uma loja de material fotográfico, no Rio de Janeiro. Acredito que b tio Domingos trabalhou lá também.
Curtir · Responder · 1 · 13 de julho de 2014 às 19:12


Mario Fernandes - Loja de seu Eurípedes, primo legitimo de minha mãe!!

Pádua Melo - Era do senhor Alcebíades Basílio, pai do Renato Basílio, que morou na Quintino Bocaiuva Sul,

Creso Genuino - Do seu Alcebíades. Esse prédio era dos meus avós. Em cima funcionava a Federação Piauiense de Futebol.

Eduardo Ferraz - Antes das lojas de departamento, tipo a Lobrás, ela tinha prestígio.

Mauricio Marques - Comprei muito na loja. Chique. Saudades. Tempo bom,

Adriana Sousa Jesus - Quanto tempo isso tem.

Hoje ali instalada a Sapataria Paralelas.

Yerece Gallas - Hoje é uma sapataria. Fica ao lado da loja Tecidão (acho que é esse o nome), na Rua Barroso com aquela Rua que vai dar no relógio da Praça Rio Branco. Loja de variedades. Vendia tudo.

Socorro Veloso - Hoje é Sapataria Paralelas, em frente ao Varejão.

Maria Daysée Assunção - Deu saudade! Comprei muito n'A Vencedora, do senhor Alcebíades. Só artigo de primeira.

Leonor Ribeiro - Isso.

Monica Fortes Creso - Você é parente do Dr. Creso, que morou na Coelho de Resende, nos anos 80?

Creso Genuino Filho. Quem morava na Coelho de Resende eram meus avós. Nós morávamos na Frei Serafim.


Marta Tajra Augusto Cesar Basílio - A loja de seu pai está em destaque no livro: História do Comércio de Teresina... Você ainda não adquiriu o livro???????

Kenard Kruel - O senhor Alcebíades Soares era casado com dona Aurora, filha do tabelião José Basílio da Silva, que era irmão da professora Maria Dina Soares, expressiva figura de mestra das letras e das artes, com elevado pendor para a música. De uma cultura invulgar, era a principal preceptora das crianças da sociedade teresinense, por ser a única a manter curso particular na cidade. Ficava entre as Ruas Areolino de Abreu e Sete de Setembro. Hoje o prédio pertence à Caixa Econômica Federal da Rua Areolino de Abreu.

A professor Maria Dina Soares foi casada com o senhor Virgílio,  com quem teve os filhos Virmar, médico, cirurgião plástico no Rio, Themis, professora, casada com o dentista João de Freitas Rezende, de Piripiri, Lígia, Vinícius, Aurora, casada com o Dr. Eduardo Neiva, que foi do Banco do Brasil, Inar e Pedro.

O Dr. João de Freitas Rezende era filho de Sesóstris Coelho de Rezende e Maria de Freitas Rezende. Perdeu os pais muito cedo e foi criado por sua tia Leonília de Freitas e Silva. Casou-se, em primeiras núpcias, com Maria das Graças Freitas, sua prima, nascendo-lhe , o único filho, mais tarde o des. Antônio de Freitas Rezende. Viúvo, muda-se para Barras, onde exerce a profissão de dentista e casa-se com Almiralice Rezende. Viúvo, outra vez, vem morar em Teresina, onde se casa com Themis Soares, nascendo-lhe as filhas Maria do Amparo e Maria Nazaré. Trabalhou no Hospital, Getúlio Vargas, em Teresina. Teve consultório nas cidades em que viveu.

A professora Maria Dina Soares, além das disciplinas normais da época, dedicava-se com afinco ao ensino da música. Nós gostávamos de cantarolar o seguinte modilho:

Dona Maria Dina, Dona Maria di... na
Abacate, limão doce e tangeri... na!

Também os solfejos de piano que ela ensinava, mereciam de nós uma cantiga onomatopaica:

Eu fico velha e não aprendo...
Eu fico velha e não aprendo...
Eu fico velha e não aprendo...

Em homenagem à professora Maria Dina Soares, temos importante escola na Rua 13 de maio, na Zona Sul de Teresina.

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