José Cândido Ferraz: Filho do comerciante
Antônio Leôncio Burlamaqui Ferraz (nascido em Oeiras, a 21 de junho de 1875 e
falecido em Teresina, a 23 de fevereiro de 1933) e de Elmira Nogueira Ferraz
(nascida em Valença, a 21 de julho de 1884 e falecida em Teresina, a 2 de abril
de 1948), José Cândido Ferraz nasceu em Teresina, a 21 de outubro 1915.
Era afilhado de Dom Severino Vieira de
Melo (Vitória, PE, 1880 - Teresina, 1955), primeiro Arcebispo do Piauí
(terceiro bispo do Estado), eleito a 8 de junho de 1923. A casa onde José
Cândido Ferraz nasceu, na Avenida Frei Serafim, próxima à Igreja de São Benedito,
é atualmente o Palácio do Bispo. Dona Elmira Ferraz fez a doação de uma parte
da residência e o bispado comprou o restante. Deve ser sempre residência do
bispo, esse foi um dos termos da doação.
Na residência dos Ferraz, foram hóspedes o
brigadeiro Eduardo Gomes, Lino Machado, da UDN do Maranhão, e o governador da
Bahia, coronel Juracy Magalhães, na campanha presidencial de 2 de dezembro de
1945, vencidas pelo general Eurico Gaspar Dutra (1946 a 1951), candidato do
PSD, apoiado pelo PTB, com 3.251.507 votos. Derrotou, além do brigadeiro
Eduardo Gomes, da UDN, Yedo Fiúza, do PCB, e Rolim Teles, do Partido Agrário.
José Cândido Ferraz formou-se em Medicina
pela Faculdade da Bahia (1939). Especializou-se em tisiologia e radiologia.
Durante o Estado Novo, foi chefe do
Serviço de Clínica Tisiológica do Hospital Getúlio Vargas. Por algum tempo,
manteve sociedade com o Dr. Raimundo Mendes, numa clínica de radiologia. Foi
secretário da Associação Piauiense de Medicina (1941).
No contexto da redemocratização, tornou-se
membro da Comissão de Estudos da Saúde Pública da UDN e assessor político do
brigadeiro Eduardo Gomes, candidato udenista à presidência da República
(1945).
Em 1943, acusado de ser mandante dos
incêndios de Teresina, foi, por ordem do Juiz de Direito Dr. Pedro Conde, preso
acusado de ser um dos autores dos incêndios de Teresina. Com ele foram presos
também o comerciante Albino Alencar e mais de uma dezena de trabalhadores. Era
o tempo da ditadura Vargas. Governo, no Piauí, de Leônidas de Castro Mello. No
comando das Polícias Militar e Civil o major do Exército Evilásio Gonçalves
Vilanova. Em maio daquele ano, graças às brilhantes defesas do advogado e
jornalista Victor do Espírito Santo (do Rio de Janeiro) e das firmes exposições
de juristas como Clodomir Cardoso e Rita Soares de Andrade, o Tribunal absolveu
o Dr. José Cândido Ferraz e desqualificou o crime para demais indiciados que,
em junho, seriam absolvidos pelo Tribunal de Justiça do Piauí. Prevaleceram no
julgamento os depoimentos do comandante da Guarnição Federal de Teresina, major
Adolvado Figueiredo de Sousa, e do bispo da capital dom Severino Vieira de
Melo.
Deputado federal em 4 (quatro)
legislaturas (1946 a 1963). Concentrou sua atuação na abordagem de questões
referentes à política regional do Piauí, centrando-se basicamente na feitura de
veementes críticas às indébitas e capciosas (VII, 279) intervenções efetuadas
pelo General Eurico Gaspar Dutra na política piauiense, acusando o presidente
da República e ex-ministro da Guerra estado-novista de querer implantar uma
“genrocracia” no Piauí ao nomear vários de seus genros e parentes para
postos-chave no Estado. Assim, participou de vários debates travados em
plenário sobre política piauiense, tendo proferido discursos sobre as
violências policiais no Piauí (IV, 202; IV, 271-279; XIX, 49-52), nos quais
efetuou diversas denúncias de arbitrariedades ocorridas nesta unidade da
Federação, e lavrou “(...) veemente protesto contra o reinício dos tiroteios e
vinganças policiais contra correligionários da UDN no Piauí” (VII, 271);
responsabilizando os interventores pessedistas Leônidas de Castro Mello e José
Vitorino Correia por esses acontecimentos, criticou ainda veementemente o papel
desempenhado por Dutra na nomeação dessas autoridades. Além disso,
manifestou-se contra a presença do embaixador salazarista português no Brasil,
a vigência da Carta de 1937 durante os trabalhos constituintes, e a favor do
sistema de governo parlamentarista, da autonomia do Distrito Federal, tendo
ainda declarado voto favorável à “Moção Otávio Mangabeira” louvando as Forças
Armadas pela deposição de Vargas a 29 de outubro de 1945. Não apresentou
emendas ao Projeto de Constituição, tendo, no entanto, sido signatário de várias
delas enviadas por seus companheiros de bancada. Senador da República (1963 a
1970).
Tirando Félix Pacheco e o marechal Firmino
Pires Ferreira, ninguém teve mais prestígio político, durante tanto tempo,
quanto o Dr. José Cândido Ferraz. Amigo do brigadeiro Eduardo Gomes e do
marechal Dutra, de Carlos Larceda e de Getúlio Vargas, do presidente Juscelino
Kubitschek de Oliveira, dentre outros figurões da República, recebia cargos
federais como nenhum outro. Colocou literalmente os políticos do Piauí a seus
pés. Foi o Dr. José Cândido Ferraz quem, com as amizades nos altos escalões da
República, conseguiu os recursos necessários para que o governador Tibério
Nunes (UDN) pagasse o funcionalismo público, garantindo, assim, a vitória de
Petrônio Portella (UDN) ao governo do Piauí, na sucessão de Chagas Rodrigues
(PTB), derrotando Constantino Pereira (PTB), do PSD dissidente, que era apoiado
pelo político parnaibano, nas eleições de 7 de outubro de 1962. Este,
inclusive, perde as eleições para o Senado, ganhando, entretanto, para a Câmara
dos Deputados, como a legislação eleitoral da época permitia.
Eleito senador em 1962, filiando-se a
Arena após o advento do bipartidarismo pelo Regime Militar de 1964. Postulante
à releição em 1970, o Dr. José Cândido Ferraz foi derrotado na convenção
partidária que indicou Fausto Gaioso e Helvídio Nunes candidatos ao Senado
Federal. O que inviabilizou a sua reeleição foi o fato de ter sido protagonista
do famoso protesto encabeçado por Daniel Krieger contra o Ato Institucional n.
5.
Quando faleceu (em Cleveland, Estados
Unidos, a 23 de junho de 1975), pouco mais de vinte amigos compareceram ao seu
velório e enterro. Não tinha mais nomeações a fazer.
Um comentário:
Quando um estuda radiologia no rio de janeiro tem que saber a biografia desta personagem porque foi muito importante nesse campo de investigação.
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