terça-feira, 17 de abril de 2012

Advogados do diabo querem a volta do nazismo

Livro Advogados do Piauí - Seleção de Ouro
pode ser proibido de circular - como nos tempos nazistas

Sérgio Fontenele

A cidade foi surpreendida com a ação de um grupo de advogados que vieram a público protestar contra a edição do livro Advogados do Piauí - Seleção de Ouro, de autoria dos jornalistas Dina Magalhães e Allisson Bacelar. Mais do que isso, os advogados insatisfeitos foram à TV, aos jornais, portais de notícias na internet e às emissoras de rádio fazer ameaças aos autores da publicação, inclusive no sentido de impedir a venda de exemplares nas bancas de revistas e livrarias da cidade. O movimento considera que, por ferir uma “ética” profissional, o livro deve ser proscrito.

O incidente fez lembrar, automaticamente, a Juventude Hitlerista queimando 20 mil livros na Bebelplatz ou Praça Unter den Linden – proximidades da Universidade de Berlim –, em 10 de maio de 1933. Naquela triste noite, que entrou para a história, foram queimadas em praça pública obras consideradas inadequadas ao padrão cultural vigente, imposto, no caso, pelo regime nazista. Por outro lado, foram satanizados – censurados, perseguidos, exilados, desmoralizados, humilhados, condenados – os autores das obras incineradas sob a égide do Terceiro Reich.

A intenção de “queimar” o livro Advogados do Piauí - Seleção de Ouro tem, portanto, um evidente viés antidemocrático, capaz não só de tentar impedir a vendagem da publicação, mas também expor ao ridículo dois jornalistas experientes e conceituados no Piauí. Os contrários à veiculação do livro consideram que sua ação tem “fins sanitários”. Já a Juventude Hitlerista argumentava, ao queimar as obras na praça, a necessidade de “purificação radical” do pensamento e da inteligência nazista. Como se sabe, os verbos sanitizar e purificar são sinônimos. Não é impressionante?

Ataques despropositados

Segundo os portadores da insatisfação, o Código de Ética da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) receita “a moderação e a discrição” na conduta destes profissionais, e isto teria sido desrespeitado no livro Advogados do Piauí - Seleção de Ouro. Eles também consideram que a publicação descumpre os requisitos do exercício da publicidade na advocacia. No fundo, são ataques despropositados, baseados no sofisma de invocar a ética para impedir a veiculação de um livro cujo conteúdo seleciona um grupo de profissionais que, de acordo com os critérios dos autores, merece destaque. Que mal há nisso?

Que base legal pode haver na intenção de cercear a veiculação de um livro concebido e realizado por dois jornalistas independentes, sem financiamento público ou vinculação com OAB ou qualquer outra instituição? Afinal, em que País estamos vivendo, em pleno 2012 – 27 anos após o restabelecimento da democracia? Sendo assim, resta lamentar, entre tantos outros aspectos, que a própria OAB esteja sendo usada para legitimar propósitos inconfessáveis. Justamente a Ordem, fundamental na luta pela redemocratização do Brasil.

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