sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

A vida não é tão bela assim...

Na parada, todo mundo é gay.


Algo de inusitado surge afogando a gente na incerteza de que tudo é culpa de Freud., um sujeito que até hoje chafurda a alma humana.
Acontece que muita gente vê o mundo olhando apenas para o umbigo, e o problema é que ninguém é de ninguém, lutar pelo que é seu é tarefa heroica – o desejado, mas nunca se sabe da intimidade de certos relacionamentos pouco ortodoxos. Um dia, tudo vira de pernas para o alto, e uma nova vida a dois ou mais ressurge de uma situação patética.
O outro, a outra, seja lá o que for, uma mistura exótica que resulta sempre em coisa feia.
Pois é, eles formavam um casal lindo, romântico, doce...Numa manhã de sol forte na praia de Copacabana, receberam no apartamento a visita de um velho amigo do homem. Daí em diante, a névoa do amor envolveu a casa, homem e mulher, mulher e outro, o outro e o homem, os três juntos e unidos numa só carne. Depois a mulher ficou de escanteio. Emburrada, passou a implicar com o outro, que achava graça da ciumeira dela...
E aí, e a bomba espocou, decidiu: era ela ou o outro, este o escolhido, amaram-se perdidamente, indiferentes à presença da mulher, que pensava “Eu mato esse viado”.
Ah, meu santo Cristo, numa noite de luar o outro, entrando de surdina no quarto do casal, flagrou o homem transando com a mulher, e, sem contar conversa, pegou de uma tesoura de costura que se encontrava no criado-mudo, e partiu para o homem, ela interceptou-o, implorando ...
Sabe o que aconteceu, deu tudo errado, vou contar, o outro, enraivecido, passou a agredir a mulher. Fez o que os amantes enciumados quase sempre fazem: matam. Horrível, os mamilos amputados, os grandes lábios trinchados como carne de acém, o anel do ânus recortado e pendurado num pince preso na ponta do nariz da vítima.
Feita a besteira, o assassino, nu, recolhido a um canto do quarto, de cócoras e com os braços em quadro em cima dos joelhos, cabeça baixa comprimindo a base do pescoço. O homem chorava em silêncio, enquanto acariciava os cabelos da mulher e beijava-lhe os lábios lívidos. O outro, depois de levemente levantar a cabeça e vendo o gesto comovido do homem, partiu pra este, de tesoura em punho, mas, antes de aplicar o golpe fatal no amante, hesitou e depois passou a retalhar o próprio corpo, sem escolher lugar, ficou mais perfurado que tábua de pirulito. Irreconhecível.
O homem, com a morte do outro, perdeu o senso e, em seguida, pulou do oitavo andar do prédio, aos gritos de “TODO MUNDO É GAYYYYYYYYYYYYYYYYYYYY...”

Evandro Setúbal da Cunha e Silva é jornalista e advogado.

Um comentário:

Kenard Kruel disse...

evandro, meu caro, preciso de foto sua década de 1960, urgente, para a terceira edição do livro torquato neto ou a carne seca é servida, a ser lançado no salão do livro do piauí, em junho de 2012. kenard kruel.

PS: quem tiver foto de evandro cunha e silva, desse período, enviar para kenardkruel@yahoo.com.br

com fé, esperança e amor, beijos kenardianos.