sexta-feira, 14 de outubro de 2011

70 anos de Ferrer: estamos todos de parabéns!

Ferrer Freitas, o guardião da velha urbe Oeiras.

João Cláudio Moreno

Então Ferrerzinho vai fazer 70 anos. Eita! Nosso Ferrer nem parece ter tantos anos. Está conservado na aparência de moço, bom mocinho, filho de Dona Lilásia, amigo de Possidônio, parceiro de Dagoberto, defensor de Oeiras, de plantão em pé por Oeiras; seus tesouros, suas tradições. Se na feição está novo, no âmago, é milenar. Curioso por tudo, ávido por saber. Se interessa por música, cinema, política, literatura. De tudo entende e dá opinião. Escreve bem, fala bem, ri bem e cala bem.

Conheci Ferrer através de Burane (Benedito Amônico de Freitas) e não o contrário: Burane pelo Ferrer. O artista de obra solitária me chamou a atenção e quem falava dele? Dagoberto com sua pesquisa minuciosa, Possidônio com eloquência clássica. Hipólito Reis com simplicidade, José Expedito Rego descrevendo os berços de seu Burane e Ferrerzinho evocando a poesia de José Vidal de Freitas, primo do pintor e escultor. Li o texto de Ferrer em 1987. Eu era assessor de comunicação da Fundação CEPRO e, em minutos de folga, corria para a sede da Academia Piauiense de Letras, que ficava ao lado, e foi lá no meio de uma conversa que Arimateia Tito Filho (Mestre do Piaui) me apresentou Burane que me apresentou o Dr. Pedro Ferrer Mendes de Freitas, ilustre presidente do Instituto Histórico de Oeiras em texto, estatura e semblante. Nossos encontros amiudaram e as conversas foram ricas, entrecortadas por informações, curiosidades, risadas e devaneios.

Eu quis ser o Ferrerzinho de Piripiri; defender a Oeiras que há em cada cidade antiga ou nova; quis encontrar meus próprios "Buranes". Quis fundar nosso próprio Instituto Histórico. Posso confessar que, da influência de Ferrer, surgiu o Museu de Periperi, uma gigantesca coleção iconográfica de minha cidade e a enciclopédia da terra que até hoje estou escrevendo. O Ferrer não sabe – eu nunca disse a ele – mas seu exemplo me marcou, e ele foi e é modelo pra mim.

Oeiras longínqua se aproximou. Passados tantos anos estou inserido nela, sinto-me em casa em Oeiras, hoje sem Burane, sem Possidônio, Expedito e Hipólito, mas ainda com Ferrer, com Bill, Dagoberto, Joca e muitos outros, todos com o mesmo espirito de sentinela, defendendo em diferenças bruscas, o que há de igual em todos eles, o apego a terra tão rica e tosca. Se não olham um para o outro, pelo menos olham na mesma direção.

Muito bem Ferrer, parabéns para nós! Obrigado por tantos textos belos, pelos sinceros e fiéis testemunhos, pelo seu "Solo distante" que nos tornou tão próximos. Seja feliz com sua ânsia de oeirensidade e sua sede de saber. Viva com pompa uma data que não é anódina; seus amigos estão em alvoroço, o incenso das igrejas sobe ao céu com teus murmúrios e ofertas, os morros rendem homenagens, os músicos tocam retretas, os espíritos fulgurantes da Velha Oeiras que tu defendes com garras e dentes vem te saudar, e a cultura humanística desse homem imenso que tu és, faz com que os assuntos brotem a propósito de tudo. A única coisa mágica no homem é a palavra. Em tua vida essa expressão se realizou. O homem é que é sábio, e não a natureza; a sinfonia da natureza só se realiza pelo homem. Nossa única certeza é a de sabermos nada, conhecer é poder. A qualidade essencial do mestre é ensinar como pensar e não o que pensar. O mestre que fica cansado depois da aula não é mestre, porque lhe falta a alma do entusiasmo.

Setenta anos não pode ser medido pelo calendário. Velho é o que tem dez anos a mais que nós, e a medicina moderna não é dar mais anos à vida, mas dar mais vida aos anos. Viver é também mudar, a fidelidade a si mesmo muitas vezes consiste em modificar-se frequentemente. Porém existe algo a mais que não muda: é a chama interior que transparece no olhar e marca a fisionomia dos grandes homens, a chama que vejo em ti. Parabéns! E não penses que o aniversário seja só uma festa pra te lembrar do que resta!

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