quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Rio Parnaíba, Rio Jaguaribe

Pádua Ramos, ex-secretário Planejamento do Piauí.

Pádua Ramos 

O Rio Parnaíba, perene, é mais extenso que o Rio Jaguaribe, curso d´água que foi rio seco, depois perenizado pelos cearenses. O Parnaíba mede cerca de 1.400km de extensão. Ao passo que o outro, cerca de 600km. Menos da metade. Ambos foram construídos pelo artesanato divino, ao longo de milhões de anos, portanto em ritmo sincrônico com o do calendário da escala cósmica. 

Deve-se ao estadista Conselheiro Saraiva a descoberta do Rio Parnaíba como meio natural estruturante de nossa economia. Foi o primeiro projeto estruturante do Piauí – projeto executado pelo próprio Criador. Por isso, o Conselheiro realizou a transferência da Capital de Oeiras para Teresina, uma vez que aquela se situava longe das águas abundantes do grande Rio. Para isso, fez-se proteger por escolta, diante da compreensível revolta dos oeirenses. 

Muitos dos que se seguiram a Saraiva empenharam-se em animar, a navegação, de pessoas, animais & coisas, mensagens, costumes – portanto, também de integração cultural – a partir de Santa Filomena até à foz, no hoje Município de Luís Correia. E durante cerca de cem anos foram bem sucedidos – eis que da segunda metade do século XIX até a primeira metade do século XX o Rio Parnaíba era movimentado por navios a vapor e suas rebocadas barcaças, como conquista de uma modernidade que os anos não trouxeram nunca mais. Navios e barcaças subiam o rio, indo, e desciam o Rio, voltando. Costurando o Piauí ao Piauí. Segundo elevado sentido de integração. De sedimentação de nossa identidade. E segundo duplo sentido de comércio, prolongado em comércio exterior. Circunstâncias históricas, que agora não vêm ao caso mencionar, acabaram com a navegação a vapor e com o comércio inclusive externo. 

O Rio Jaguaribe era rio seco. Mereceu na época o belo poema do cearense Jáder de Carvalho, no qual o Autor se queixava desolado assistindo às mortes periódicas das águas e às suas ressurreições: “Resistindo e morrendo / morrendo e resistindo”. 

O Rio Parnaíba mereceu o imortal poema de Da Costa e Silva, que não trata de morte, mas de cantigas:“cantigas de águas claras, soluçando”. 

Depois de perenizarem o Rio Jaguaribe, os cearenses construíram, alimentado por suas águas, o açude que é, sob certo aspecto, o maior da América Latina: Açude Castanhão. O qual abastece d´água Fortaleza, com seus 2,5 milhões de habitantes. E estão construindo espécie de rio artificial, o Eixão das Águas, com 255km, partindo daquele açude e chegando ao Porto do Pecém, não sem antes apoiar a agricultura ao longo do percurso sinuoso. 

As elites piauienses de dentro do Governo e fora dele deram as costas ao Rio Parnaíba. Consentem passivamente no progressivo assoreamento de nosso Rio. Aceitam, sem reação, à decisão de que sua navegação deve ser restaurada só até Teresina. Em vez de até a foz. Onde o rio enquanto via, a mais barata, de transportes, teria coroada a navegação ao alimentar o Porto de Luís Correia. Quase ninguém percebe que a Ferrovia Transnordestina fisgará matérias primas que poderiam também ter o Rio como aquavia. Comentam – é incrível – não saberem para que serve nosso Porto. No Dia do Juízo, os dirigentes cearenses responderão, como na parábola dos talentos (Mt 25,14-30): – Sr., Tu nos deste um rio seco; nós te restituímos um rio perenizado, um grande açude e um canal de 255km. Os dirigentes piauienses responderão: – Sr., Tu nos deste um imenso rio perene; nós T´o restituímos meio assoreado e meio intrafegável. 

Ainda há tempo.

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