sábado, 25 de junho de 2011

Do jumento ao parlamento

Rosa Ribeiro e Maria Bezerra: pioneiros do Sul do Maranhão.

Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva é meu nome. Nasci no dia 3 de julho de 1936, às 14h30, uma sexta-feira, na cidade de Balsas, sertão sul-maranhense.

Esta peça literária, que ora tenho a satisfação de submeter à apreciação do nobre público leitor, não é uma biografia, mas, em seu desenvolvimento, muito de minha vida aflorará. São casos, histórias, aventuras, uns já levados ao prelo e outros ainda inéditos, nos quais tomei parte, desde os tempos de minha infância em Balsas, quando labutava com jumentos, no interior do Maranhão, até minha aposentadoria como funcionário da Câmara dos Deputados. No frigir dos ovos, tempos felizes!

No amigo que folhear este livro, possivelmente poderá surgir a curiosidade sobre minha pessoa, minha origem, meus ancestrais. Por isso, começo meu trabalho apresentando sucintos fragmentos biográficos de meus genitores.

Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, nasceu na fazenda Brejo, município de Floriano, Estado do Piauí, no dia 17 de fevereiro de 1891.

Filho de Pedro José da Silva e Isaura Maria de Sousa e Silva, compunha uma prole de dezessete irmãos. Os dois mais velhos, Raimundo Ribeiro e João Ribeiro, provinham de casamento paterno anterior, deles derivando-se o sobrenome com que os demais ficaram para sempre conhecidos.

Ainda em sua infância, em Floriano, para onde a família transferiu a residência, freqüentou o curso primário. Na adolescência, trabalhou como empregado em várias casas comerciais daquela cidade.

Organizado, meticuloso e metódico, iniciou, em 1909, a anotação, numa caderneta, dos fatos significativos que viveu ou presenciou, fonte que agora se revela utilíssima e imprescindível na elaboração deste apanhado biográfico. Era o prenúncio do futuro tabelião.

O ano de 1916 foi particularmente marcante em sua existência. Em meados de junho, incorporou-se a uma tropa de 350 patriotas que, sob o comando do major Carlino Nunes, se integrou a uma força de 1.500 guerreiros liderados pelo coronel Constâncio Carvalho, deslocando-se para Teresina, onde, a 1º de julho, vencidos os adversários, adeptos de uma facção denominada Miguelismo, deram posse ao legítimo governador, doutor Eurípedes de Aguiar.

A 1º de agosto, seguiu de mudança para a vila de Santo Antônio de Balsas, Maranhão, aonde chegou no dia 14, às seis horas da tarde.

Referindo-se àquele período, assim se expressa Eloy Coelho Netto, no livro História do Sul do Maranhão:

“Numerosos chefes de família dessa época entraram definitivamente para a história de Balsas e foram elementos em prol de sua vida política, social e econômica… como os irmãos João Ribeiro da Silva, José de Sousa e Silva e Emigdio Rosa e Silva, que desenvolveram, com trabalho e inteligência, o comércio e legaram a suas famílias e ao lugar exemplos de tenacidade dos que chegam para a conquista da vida e constroem o amanhã, transmitindo a seus descendentes precioso legado moral.”

Circunspecto, tímido e extremamente reservado, dono de afiado espírito crítico e verve aguçada, divertia-se intimamente diante do açodamento daqueles que não se acanhavam na prática do disse-me-disse, na revelação de segredos e na exposição a público de assuntos pessoais. Via, ouvia e calava. Essa prudência fez escola. O nome Rosa Ribeiro virou sinônimo de discrição.

Com a elevação, em 1918, da vila de Santo Antônio de Balsas à categoria de município, Rosa Ribeiro retirou-se da atividade comercial e ingressou no serviço público, tendo exercido os cargos de Escrivão Policial, Delegado de Polícia, Escrivão Eleitoral e Tabelião do 2º Ofício, no qual permaneceu até se aposentar compulsoriamente.

Casou-se, a 20 de dezembro de 1919, com Maria de Albuquerque e Silva, a Maria Bezerra, então com dezessete anos, nascida em Loreto, Maranhão, no dia 5 de janeiro de 1902, filha de José Bezerra de Farias e Ana de Albuquerque Bezerra.

Maria Bezerra, durante toda sua vida, esmerou-se na assistência às pessoas carentes, na organização e operosidade de festejos religiosos e na transmissão de conhecimentos práticos. Perita em corte e costura, bordado, tecelagem, pintura, artesanato em tecido, massa, papel, metal e algodão, confeitaria e culinária, ministrava essas prendas domésticas a mocinhas de famílias menos abastadas. Era a Madrinha Maria de todas. Seu salão de trabalho se constituía numa verdadeira Escola de Artes. Consolava os aflitos, aconselhava os transtornados, visitava os enfermos, assistia aos agonizantes e a todos ajudava espiritual e materialmente. Ao falecer, no dia 17 de fevereiro, aniversário de Rosa Ribeiro, em 1969, ano em que seriam comemoradas suas Bodas de Ouro, era comum ouvir-se na cidade e em seus arredores: “Morreu a Mãe dos Pobres de Balsas.”

Rosa Ribeiro e Maria Bezerra tiveram dez filhos: Maria Isaura, professora e bandolinista; Pedro, funcionário público, agropecuarista, orador e violonista; Maria Alice, funcionária pública, professora e florista; José, bancário, poeta e cantor; Bergonsil, químico industrial e artífice; Afonso Celso, funcionário público, advogado, gaiteiro, sanfoneiro e tecladista; Raimundo Floriano, funcionário público, contador e trombonista; Maria Iris, professora e calígrafa; Rosimar, médico e cirurgião; e Maria das Dores, assistente social, pintora, xilógrafa e escultora. Vinte e nove netos e 31 bisnetos completam sua descendência.

A 28 de maio de 1973, Rosa Ribeiro deixou a vida terrena, com a idade de 82 anos.

Em 1982, durante a administração do prefeito Jorge Moreira Cury, a Câmara Municipal de Balsas homenageou Rosa Ribeiro e Maria Bezerra, dando seus nomes a duas ruas da cidade.

17 de fevereiro de 1991 assinalou o centenário de Rosa Ribeiro. 5 de janeiro de 2002, o de Maria Bezerra. Seus filhos – sem Maria Isaura e Maria Alice, que já não se encontram entre nós –, reunidos, em singela manifestação, reverenciaram a memória daqueles que lhes deram a vida, a instrução e a educação, orientando-os para o trabalho e o bom relacionamento social.

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