terça-feira, 30 de novembro de 2010

Chagas Rodrigues pelos filhos

Francisco das Chagas Caldas Rodrigues nasceu em Parnaíba-PI, em 8 de novembro de 1922, filho de Poncion de Queiroz Rodrigues e de Ignésia de Caldas Rodrigues. Juntamente com seus irmãos, Maria da Conceição, José Alexandre, Inez, Teresa e Paula, passou a infância nas casas da Rua Duque de Caxias e da Rua Conde’Eu.

Realizou o curso ginasial no antigo Ginásio Parnaibano, hoje Colégio Estadual Lima Rebelo (1934-38), tendo sido escolhido o orador de sua turma. Aos quatorze anos escreveu suas primeiras poesias e seus primeiros discursos, publicados na época no jornal escolar “O Ateneu”. Aos 16 anos, cursou o pré-jurídico no Colégio Oswaldo Cruz em Recife (1939-1940), iniciando em 1941 o curso jurídico na Faculdade de Direito de Recife. Em 1943 transferiu-se para a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, participando ativamente do movimento estudantil e da luta pela redemocratização do país. Concluiu o curso em 1945, com distinção em Direito Constitucional e Filosofia do Direito.

Em seguida, estabeleceu-se no Rio de Janeiro, onde começou a advogar e a preparar-se para concursos públicos. Em 1947 foi aprovado em segundo lugar no concurso para o Ministério da Fazenda, sendo nomeado em 1949, Assistente Jurídico deste órgão. Assim, construiu as condições para casar-se com Maria do Carmo, também parnaibana, filha de José de Moraes Correia e Almira Basto Correia. O casamento ocorreu em 1948, e dessa união nasceram os filhos Teresa, Almira, Maria da Conceição e José Alexandre.

O cultivo de ideais éticos e humanistas, a prática da política estudantil e as raízes parnaibanas resultaram no convite para candidatar-se à Câmara Federal, que funcionava no Rio de Janeiro, então capital do país. Aos 28 anos, Chagas Rodrigues foi eleito para a sua primeira Legislatura (1951-54), sendo reeleito para a Legislatura seguinte (1955-58) e em pleitos posteriores. Como parlamentar destacou-se na defesa dos Direitos Humanos, da Democracia e da Justiça Social.

Foi eleito Governador do Estado do Piauí aos 36 anos, para o mandato de 1959-62, quando empreendeu uma política pública decisiva para o desenvolvimento e melhoria das condições de vida e de trabalho da população. Foi o primeiro parnaibano a governar o Estado do Piauí e também o primeiro governador a pagar o salário mínimo aos funcionários públicos. Após o mandato de governador, foi eleito por mais duas vezes consecutivas à Câmara Federal, para as Legislaturas de 1963-66 e de 1967-70, sendo que este último mandato não foi concluído.

Em consonância com seus princípios e sua história na defesa da liberdade de expressão, Chagas Rodrigues foi um crítico do autoritarismo implantado pelo golpe militar de 1964. Em conseqüência teve seu mandato cassado e seus direitos políticos suspensos por 10 anos, nos termos do Ato Institucional n. 5. Desta forma, ficou impedido não apenas de continuar sua luta política, mas também de ocupar qualquer cargo público. Por este motivo, foi aposentado compulsoriamente de seu cargo no Ministério da Fazenda. Durante este período extremamente difícil, Chagas Rodrigues voltou a advogar e passou a lecionar em uma instituição privada, a Faculdade de Ciências Econômicas, Contáveis e de Administração, do Centro de Ensino Unificado de Brasília - CEUB (1970-73).

Em 1982, nas primeiras eleições de âmbito federal após a recuperação de seus direitos políticos, candidatou-se ao Senado Federal. Embora tenha sido o mais votado individualmente, não se reelegeu pois a sua legenda não foi a mais votada como exigia a legislação eleitoral da época.

Em 1985 foi indicado Assessor Especial do Trabalho do Governo do Distrito Federal, com prerrogativas de Secretário de Estado, com o desafio de criar a secretaria e de implantar uma política progressista e participativa, o que realizou a partir de um diálogo com as lideranças sindicais de Brasília.

Retornou à política representativa com a eleição federal de 1986. Chagas Rodrigues foi eleito para o cargo de Senador da República, seu último mandato parlamentar. Contribuiu ativamente para a elaboração de uma nova Constituição Brasileira, a Constituição Cidadã de 1988. Orgulhava-se profundamente de ter recebido, em outubro de 1988, “Nota 10” e o Diploma “Palavra de Honra” do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar - DIAP, por seus posicionamentos na Assembléia Geral Constituinte, em favor da Justiça Social e dos Trabalhadores.

Em 1988, após a promulgação da Constituição, Chagas Rodrigues juntou-se a vários colegas para a fundação do PSDB em busca de um novo projeto político para o país. Anteriormente, em 1965, tinha sido também um dos fundadores do MDB, posteriormente PMDB, que congregava os oposicionistas ao regime militar. Em toda sua trajetória político-partidária conservou os ideais trabalhistas firmados desde os anos cinqüenta, com sua filiação ao então PTB.

Em 1994 enfrentou nova candidatura ao Senado, não logrando a reeleição. Nos anos subseqüentes começou a apresentar problemas de saúde. Aos oitenta anos, já recolhido da política, reuniu em uma publicação suas poesias de um longo período de vida, de 1937 a 2002.

Em abril de 2006 teve o primeiro Acidente Vascular Cerebral - AVC hemorrágico, do qual conseguiu se recuperar. Em novembro do mesmo ano ficou viúvo de Maria do Carmo, sua companheira de todos os momentos, inclusive de sua trajetória política.

Em 2007, com a saúde debilitada, mas sentindo imensa saudade de seu Estado, venceu as dificuldades de locomoção e fez uma viagem à Teresina e Parnaíba, onde pode rever parente e amigos, revisitar lugares expressivos e relembrar importantes momentos.

Em 2008 teve mais dois AVCs que o deixaram acamado, vindo a falecer em 7 de fevereiro de 2009.

Francisco das Chagas teve uma vida plena de realizações, desafios e conquistas. Soube enfrentar as suas frustrações e privações com dignidade. Realizou sua trajetória política baseada no rigor ético, na defesa da liberdade e de uma sociedade mais justa. Deixou um legado de solidariedade, luta e esperança por novos tempos.

Como pai, foi sempre amigo, generoso e cultivador de bons e vastos horizontes. Deixou com seus filhos o desejo de que seus livros – adquiridos desde 1940, quando era um jovem de 18 anos - fossem doados à sua cidade natal para uso de todos os parnaibanos. Neste gesto expressou seu amor e gratidão ao povo piauiense e à sua terra querida.

Com o seu falecimento, inúmeras homenagens lhe foram prestadas, provenientes de autoridades, instituições, lideranças, correligionários, da mídia, de amigos e admiradores, em âmbito estadual e nacional. Os vereadores de Teresina fizeram-lhe uma homenagem especial ao atribuir o nome de Senador Chagas Rodrigues ao novo prédio da Câmara de Vereadores. A Prefeitura de Parnaíba e o Governo do Estado do Piauí também lhe prestaram uma bela homenagem – o acolhimento de seu acervo bibliográfico e a criação da Biblioteca Governador Chagas Rodrigues. Com certeza, estas homenagens o deixariam muito feliz.

Brasília, 17 de agosto de 2009.

Teresa, Almira, Maria da Conceição e José Alexandre (filhos).

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