sexta-feira, 23 de julho de 2010

Instituto Dom Barreto

Stela Rangel. Diretora do Dom Barreto.

YALA SENA - Teresina

Na entrada da escola sete relógios marcam a hora exata em Washington, Londres, Cairo, Tóquio e Teresina. Logo abaixo, uma imagem de Nossa Senhora da Conceição recepciona alunos e visitantes. Quem entra pela primeira vez no Instituto Dom Barreto em Teresina (PI), percebe que é um colégio que ultrapassa os limites da sala de aula e que preserva as raízes religiosas. Primeiro lugar geral no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2006, a escola caiu para 15º posição em 2008. Já no último Exame, o colégio ficou em 2º lugar no ranking nacional, com média 741,54, desbancando escolas de São Paulo e Rio de Janeiro.

Idealizada em um Estado em que 24% da população é considerada analfabeta, a escola foi criada há mais de 60 anos pelas Irmãs Missionárias Jesus Crucificado. De lá pra cá, a instituição vem apostando na qualificação do professor (80% têm mestrado e doutorado) e no aprendizado do aluno. A escola educa crianças desde 1 ano e 8 meses (maternal), passando pelo fundamental e ensino médio.

Cerca de 2.800 alunos estudam no colégio. A maioria entra na escola no ensino infantil e só sai ao passar no vestibular, somando cerca de 16 anos de convivência na mesma instituição. "Aqui, os professores e coordenação chamam os alunos pelo nome, devido a tanta convivência. Sabemos os problemas da família e o comportamento de cada aluno", explica a diretora geral da escola, Stela Rangel.

No Dom Barreto, o aluno tem oito horas diárias de aula, quando a média é de 5 horas em escolas públicas. Além disso, assistem aulas de segunda a sábado. Stela lembra que o Instituto foi o primeiro a adotar o xadrez como disciplina e agora está dando ênfase às matérias de Filosofia, Sociologia e Artes. "Temos aulas que ajudam o raciocínio lógico e até de latim para a compreensão da nossa língua", diz ela.

O colégio é voltado para alunos da classe média alta, com mensalidades que variam de R$ 543,00 a R$ 647,85. No laboratório de Física, que foi todo importado, os estudantes aprendem robótica e publicam em livros suas experiências científicas realizadas no laboratório. Outro local que chama a atenção é a "Sala do Futuro", onde o aluno não usa lápis e nem caderno, apenas o computador.

Professores também publicam livros. A escola tem bolsa que paga o docente para se especializar fora do Estado e em troca trazer conhecimento para a sala de aula. Os exercícios e as tarefas são todos elaborados pelos professores da casa através dos projetos "Algodoeiro" e "Carnaúba". Em início de carreira, o educador recebe entre R$ 706,00 e R$ 5mil dependendo da carga horária. São 268 professores no instituto.

Leitura

Uma das marcas da escola é a valorização da leitura. Em uma das salas de estudo um painel gigante avisa: "a leitura dissipa a ignorância e afasta o tédio". Percorrendo as bibliotecas espalhadas por todo um andar do colégio, Stela Rangel se orgulha em revelar um dado. "Aqui o aluno chega a ler uma média de 15 livros no mês através do projeto 'Ciranda', no qual ele lê e troca a obra com o colega. Não é uma leitura obrigatória, mas espontânea", diz Stela.

Na biblioteca existe cerca de 100 mil livros e é considerada uma das maiores do Estado. Na hemeroteca, o aluno pode encontrar peças raras como a primeira edição da revista Veja, publicada em 11 de setembro de 1968. Além das revistas que circulam no País, lá o estudante encontra também os maiores jornais nacionais e até edição do The New York Time.

Testes surpresas

Para ficar no ranking das melhores do País a escola se aperfeiçoou. Fez testes surpresas com alunos, aplicou simulado sábado à tarde e chegou a visitar escolas em São Paulo, Pernambuco e Ceará para ver como eles estavam preparando os estudantes para o exame. O resultado foi positivo. Dos 136 alunos que prestaram o vestibular 90% foram aprovados em universidades públicas. Mas Stela ressalta que o Colégio "prepara o aluno para a vida, para ser cidadão e não apenas para prestar um vestibular".

Aula no recreio

A integração entre professor e aluno foi o que impressionou o aluno Ricardo Furquim, 17 anos, quando entrou na escola, após sair de Goiânia para estudar em Teresina, há três anos. "A aproximação é muito forte entre nós e o professor. Certa vez, estava com problemas em uma disciplina e recebi aula na hora do recreio. O professor deixava de lanchar para tirar minhas dúvidas. Onde se acha um colégio assim?", questiona o estudante, que foi aprovado no curso de Medicina este ano.

Seu irmão Lucas Henrique Carvalho Furquim, 13 anos, disse que o que chamou sua atenção foi a estrutura que a escola proporciona para o aluno. Ele também destacou o trabalho dos monitores que ajudam os alunos a tirarem as dúvidas. "Aqui eles não enrolam e o aluno não pode levar na brincadeira", afirmou Lucas.

Professora há mais de 10 anos, Marilene Machado, que trabalha com o público infantil, disse que grande parte dos meninos e meninas matriculados no Instituto são filhos de alunos da escola. "Às vezes entram alunos que nem falam ainda. Por isso, além do ler e escrever, primamos por trabalhar sua independência e a socialização", disse a professora.

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