sexta-feira, 23 de julho de 2010

"A leitura dissipa a ignorância e afasta o tédio"

Marcílio Rangel (que Deus o tenha em bom lugar).
Arte de Netto.

Uma das marcas do Dom Barreto, a segunda melhor escola do país, é a valorização da leitura. Em uma das salas de estudo um painel gigante avisa: "A leitura dissipa a ignorância e afasta o tédio". O aluno chega a ler, espontaneamente, uma média de 15 livros no mês por obra e graça do projeto 'Ciranda', no qual ele lê e troca a obra com o colega. Na biblioteca existe cerca de 100 mil livros e é considerada uma das maiores do Estado. Na hemeroteca, além das revistas que circulam no País, o estudante encontra também os maiores jornais nacionais e até edição do The New York Time.

A jornalista Yala Senna, em reportagem sobre o Dom Barreto, destaca a biblioteca e a leitura ali praticada. E me dá uma saudade do Marcílio Rangel. Quando ele estava vivo e dirigindo o Dom Barreto, os intelectuais e os artistas tinham no Dom Barreto um porto seguro. Atualmente, é mais fácil um rico entrar no reino dos céus do que a dona Stela Rangel comprar um livro, uma tela, um ingresso para o teatro, um cd/dvd ou qualquer produto relacionados às letras e às artes.

Ano passado, fui vender O. G. Rêgo de Carvalho - Fortuna Crítica. O livro passou cerca de seis meses sendo analisado. Salvo engano, o Dom Barreto comprou, depois de pedir desconto e nota fiscal (que tive de pagar 6.50 por ela), um exemplar. Sai de lá decepcionado. Mas, a decepção maior ainda aconteceria total e totalmente em seguida. Este ano, fui vender História do Piauí, de minha autoria, com o professor e historiador Gervásio Santos. Cinco meses depois de análise do livro, fui chamado ao Dom Barreto para ouvir de uma senhora, muito minha amiga, por sinal, toda constrangida, que a dona Stela Rangel havia dito que não tinha o menor interesse em adquirir a obra. Embora já esperasse algo similar, pela recepção anterior, sai de lá cambaleando, com a vista turvada pelas lágrimas que escorriam sem que eu me desse conta de mais nada. Lembrei-me do ex-seminarista José Maria Vasconcelos, que há muitos anos, ainda em Parnaíba, quando foi lançar livro lá sobre o Assis Brasil, me disse: "Ninguém é profeta na sua terra". Será?

Mostrando que nem só da atual direção do Dom Barreto vivo de vender meus livros, eles estão sendo bem vendidos nas bancas e livrarias da cidade (e, em alguns colégios também, apesar da dificuldade que tenho de penetrar nestes templos sagrados do saber...).

E dona Stela Rangel, para honra e glória dela mesma, ainda é acadêmica da Academia de Letras da Região de Sete Cidades, que tem na presidência eterna o jornalista José Fortes Filho.

Mesmo assim, em memória do Marcílio Rangel espero que o Dom Barreto se destaque cada vez mais no cenário nacional como o colégio padrão que ele é. E que a dona Stela Rangel possa um dia compreender que um país se faz realmente com homens e livros. Castro Alves já dizia: "Ó! Bendito o que semeia livros... livros à mão cheia e manda o povo pensar! O livro caindo n'alma é germen - que faz a palma, é chuva - que faz o mar."

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