quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Parem de falar mal do Piauí

Patrícia Mellodi. Foto sem crédito.

Patrícia Mellodi

Sou fã de todas as manifestações do humor, piadas, caricaturas, charges, comédias, enfim, considero o humor o supra-sumo da inteligência, pois nos desperta pras coisas mais sérias através do riso. E mesmo sabendo e considerando o fato de que muitas vezes o humor é cruel, pois tem sua matéria prima nas nossas falhas, nossos erros, nossos defeitos de nascença, acho que piada tem limite. E onde mora esse limite? Difícil, pois cairemos num lugar delicado que é o bom gosto. E gosto cada um tem o seu. Mas uma coisa é certa, se é repetitivo, afeta a alma, destrói, desanima, rotula, não pode ser humor do bem. O verdadeiro Humor vem inusitado e cutuca a ferida, mas na piada vem embutido respeito, às vezes até mesmo admiração, pois ninguém faz piada com o que não se considera. Só tem graça se nos diz respeito.

Não há nada mais chato que piada velha, cansada de guerra, que todo mundo já conhece o final. Essa história de sacanear, (perdão da palavra, pois não consigo achar outra) o estado do Piauí é do tempo do onça, é coisa de gente velha (no mal sentido) e desinformada. Posso fazer uma lista desses homens do humor que contribuíram pra consolidar essa imagem ruim sobre o Piauí, um dos mais bem sucedidos no intento, é o Juca Chaves, que deu melodia ao avacalhamento. Mas pra compreendê-los melhor, por respeito aos seus trabalhos e a história, tento ambientar-los no tempo e no espaço. Chego à conclusão de que eles são velhinhos, são do tempo do Piocerão, PIAUÍ, CEARÁ E MARANHÃO, os estados mais pobres do Brasil. Só que conseguiram parar de fazer piada de mau gosto com o Ceará, com o Maranhão, mas continuam pegando no pé do Piauí por pura ignorância, (será que burro velho não aprende?), pois em muitos aspectos, incluindo saúde, educação moradia, PIB, o Piauí dá de dez, e não para de crescer. Mas pra muita gente, quebrar paradigmas é perder o chão, ou a piada.
E o que me parece pior é ver jovens caindo na esparrela de confiar na opinião dos sábios anciões. Continuam a tradição falando mal do Piauí até o fim. Mas eu não vou por a culpa só nos homens do humor, vou à diante. A difamação é generalizada. A imagem do Piauí é ruim mesmo, embora lá a gente pense que seja diferente. Temos a ingenuidade de acreditar que podemos ganhar o Rio, São Paulo e muitos outros estados com o nosso carisma, nosso talento, e que trazer na identidade Made in Piauí não nos seja um problema. Ledo engano. Eu que moro fora há 15 anos e sofro com o pré julgamento depreciativo na pele e carrego nas costas o peso de ser do Piauí, posso falar de cadeira. E embora goste muito e respeite a cidade em que vivo não posso me fazer de rogado, eu sinto, eu vejo.

Quando uma modelo linda faz sucesso e fala que é do Piauí, ninguém acredita, quando uma escola de Teresina tem o melhor resultado do Enem, dizem que foi engano, roubo, quando uma cantora começa a aparecer vem um caminhão e passa por cima questionando sua qualidade, seu valor, quando um humorista vem do Piauí, sofre perseguição, maus tratos, quando uma atriz batalha e consegue bons papeis, têm alguma coisa errada… Se eu for retratar tudo o que já vi, não acabaremos hoje. O Piauí está associado ao atraso, à feiúra, a pobreza cultural e socioeconômica. Por mais que mostremos que não é bem assim, vale mesmo a velha imagem deturpada. Parece que temos a marca de Caim. Por isso valorizo demais os que são vitoriosos diante desse quadro e invejo os que ficaram em casa protegidos.

O mais triste é que diante de tanto achincalhamento configurado, nós e nossos filhos vamos esmorecendo, deprimindo, acreditando que somos feios e pobres, que não temos direito a respeito, admiração, sucesso, fama, que somos condenados ao ostracismo e ao papel de palhaço! - O quê que é isso! Me respeite seu moço! Eu existo!

Parem de falar mal do Piauí! Já perdeu a graça! Eu não vou dizer que lá o máximo, que a cultura é a mais rica, que o ensino é o melhor, que nossos políticos são um exemplo, que todo mundo é lindo, que o clima é ameno, pois eu teria primeiro que fazer um estágio na Bahia (adoro a estima deles), mas que nós somos especiais somos, e quem não tiver seus defeitos que atire a primeira pedra.

E agora, não por bairrismo, mas por ser fã da inteligência e do humor, eu dou uma dica: Leiam, escutem, se informem, conheçam o Brasil, visite o Piauí antes que ele vire a Dinamarca.

2 comentários:

Don Suelda disse...

Patrícia:

Concordo com tudo o que você falou.
Se não for divertido, não tem graça nenhuma.
Visitem o Piauí, gente!

Ferrer Freitas disse...

Patrícia,
Talvez essa queridinha não se lembre de mim, mas já conversamos (você estava com o João) no Mattisse. Sou o Ferrer, de Oeiras. Mas o que eu quero lhe dizer, lembrando aqui o Chico, é que vocêzinha está coberta de razão! Vi a bobagem dita pelo Agildo no programa do Faustão. Foi de dar dó sua infeliz intervenção. Nosso Amaury foi elegante,não respondeu.