Joca Oeiras. Foto de Kenard Kruel.
Querida Patrícia:
Achei muito digna e verdadeira a sua crônica “Parem de falar mal do Piauí”. Digna e verdadeira, sim, mas tenho sérias dúvidas se eficiente, isto é, não sei não se você vai conseguir dissuadir, através dela, algum futuro detrator da nossa “Terra Querida” de fazê-lo mais uma vez.
Correndo o risco que ser acusado de tentar simplificar as coisas eu quero lembrar que o que mais estimula a gozação dos outros é eles perceberem que nós nos chateamos com elas. Aquela história, muito comum nas crianças do “apelido que pega é sempre aquele que a gente demonstra odiar”.
Você fala da auto-estima dos baianos e eu concordo com você, ela é, realmente, um patrimônio cultural deles. Mas eu sou paulistano, muito mais velho que você, e me lembro muitíssimo bem que, ainda nos primeiros anos da década de sessenta em São Paulo, todo e qualquer nordestino era rotulado, pejorativamente, de baiano e mineiro, diziam, era um baiano cansado que não agüentou a viagem de pau-de-arara e desceu no meio do caminho.
E, como você também disse, talvez fazendo um estágio pelas bandas da Terra de Castro Alves você, e outros mais, pudessem aprender a fórmula da auto-estima conquistada por eles. Ainda me lembro de um precursor da onda de baianidade que invadiu São Paulo (e transformou sua capital em SAMPA). Este compositor, não sei se ainda vive, chamava-se Gordurinha e sua música fez sucesso nas rádios paulistanas quando eu ainda cursava o ginasial (1959-1962).
Veja só a letra :
O pau que nasce torto
Carta Aberta à Patrícia Mellodi
(ou “Comecem a falar bem do Piauí!”)
Oeiras, 19 de novembro de 2009
(ou “Comecem a falar bem do Piauí!”)
Oeiras, 19 de novembro de 2009
Querida Patrícia:
Achei muito digna e verdadeira a sua crônica “Parem de falar mal do Piauí”. Digna e verdadeira, sim, mas tenho sérias dúvidas se eficiente, isto é, não sei não se você vai conseguir dissuadir, através dela, algum futuro detrator da nossa “Terra Querida” de fazê-lo mais uma vez.
Correndo o risco que ser acusado de tentar simplificar as coisas eu quero lembrar que o que mais estimula a gozação dos outros é eles perceberem que nós nos chateamos com elas. Aquela história, muito comum nas crianças do “apelido que pega é sempre aquele que a gente demonstra odiar”.
Você fala da auto-estima dos baianos e eu concordo com você, ela é, realmente, um patrimônio cultural deles. Mas eu sou paulistano, muito mais velho que você, e me lembro muitíssimo bem que, ainda nos primeiros anos da década de sessenta em São Paulo, todo e qualquer nordestino era rotulado, pejorativamente, de baiano e mineiro, diziam, era um baiano cansado que não agüentou a viagem de pau-de-arara e desceu no meio do caminho.
E, como você também disse, talvez fazendo um estágio pelas bandas da Terra de Castro Alves você, e outros mais, pudessem aprender a fórmula da auto-estima conquistada por eles. Ainda me lembro de um precursor da onda de baianidade que invadiu São Paulo (e transformou sua capital em SAMPA). Este compositor, não sei se ainda vive, chamava-se Gordurinha e sua música fez sucesso nas rádios paulistanas quando eu ainda cursava o ginasial (1959-1962).
Veja só a letra :
O pau que nasce torto
Não tem jeito morre torto
Baiano burro garanto que nasce morto
Sou da Bahia comigo não tem horário
Sou da Bahia comigo não tem horário
Não sou otário e você pode zombar
Sou cabra macho, sou baiano toda hora
Meio dia, duas hora, quatro e meia o que é que há
Cabeça grande é sinal de inteligência
Eu agradeço a providência ter nascido lá
Cito esta música para que possam ter uma idéia do que foi a construção da auto-estima dos baianos, respondendo, pela positiva, aos ataques dos preconceituosos. A partir daí, a Bahia com, Caymi, Caetano, Gil, Betania, Gal, coadjuvados por Toquinho e Vinicius ( um”um velho calção de banho, e um livro pra vadiar e o mar que não tem tamanho...”) e secundados pelos Novos Baianos encontraria seu espaço nos corações e mentes dos brasileiros.
Quando cheguei ao Piauí, Patrícia, minha primeira reação foi de profunda revolta por ter-me deixado enganar por tanto tempo (55 anos) achando que o Piauí era um lugar inabitável ou impensável até para uma visita turística, o cú do mundo como já disseram alguns idiotas. Mas a culpa disso não pode ser creditada apenas a uma conspiração dos outros brasileiros mas também aos piauienses que, sinto dizer, intronizaram este sentimento de baixíssima auto-estima a ponto de , praticamente, não haver piauienses assumidos em São Paulo (antes do Machado Jr e do Boy, eu não conhecia nenhum).
Depois que o Piauí entrou na minha vida, soube que havia, em São Paulo, um “Encontro Anual de Migrantes piauienses” o que, posso estar enganado, é também revelador dessa baixa auto-estima. Porque não “Encontro de Piauienses residentes em São Paulo?”
Então Patrícia, eu acho que foram muito mais eficazes em termos de afirmação da piauiensidade o seu “Férias no Piauí: uma viagem (quase) completa à terra querida” e “Eu tenho amor à minha terra”, da Clarinha, sua filha. do que este “Parem de falar mal do Piauí!”.
No seu lugar eu escreveria; “A hora é agora: os muitos que têm algo a dizer façam como eu, falem bem do Piauí!”. A verdade prevalecerá, tenho certeza!
Beijos e abraços, do Joca Oeiras, o anjo andarilho
Cito esta música para que possam ter uma idéia do que foi a construção da auto-estima dos baianos, respondendo, pela positiva, aos ataques dos preconceituosos. A partir daí, a Bahia com, Caymi, Caetano, Gil, Betania, Gal, coadjuvados por Toquinho e Vinicius ( um”um velho calção de banho, e um livro pra vadiar e o mar que não tem tamanho...”) e secundados pelos Novos Baianos encontraria seu espaço nos corações e mentes dos brasileiros.
Quando cheguei ao Piauí, Patrícia, minha primeira reação foi de profunda revolta por ter-me deixado enganar por tanto tempo (55 anos) achando que o Piauí era um lugar inabitável ou impensável até para uma visita turística, o cú do mundo como já disseram alguns idiotas. Mas a culpa disso não pode ser creditada apenas a uma conspiração dos outros brasileiros mas também aos piauienses que, sinto dizer, intronizaram este sentimento de baixíssima auto-estima a ponto de , praticamente, não haver piauienses assumidos em São Paulo (antes do Machado Jr e do Boy, eu não conhecia nenhum).
Depois que o Piauí entrou na minha vida, soube que havia, em São Paulo, um “Encontro Anual de Migrantes piauienses” o que, posso estar enganado, é também revelador dessa baixa auto-estima. Porque não “Encontro de Piauienses residentes em São Paulo?”
Então Patrícia, eu acho que foram muito mais eficazes em termos de afirmação da piauiensidade o seu “Férias no Piauí: uma viagem (quase) completa à terra querida” e “Eu tenho amor à minha terra”, da Clarinha, sua filha. do que este “Parem de falar mal do Piauí!”.
No seu lugar eu escreveria; “A hora é agora: os muitos que têm algo a dizer façam como eu, falem bem do Piauí!”. A verdade prevalecerá, tenho certeza!
Beijos e abraços, do Joca Oeiras, o anjo andarilho
Um comentário:
Taí. Assino embaixo.
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