Recolhe-se ao quarto, lentamente. Dá duas voltas na fechadura, vai até ao banheiro. Alguns minutos se passam. Quando sai, deixa a torneira da pia aberta.
Arrasta-se até o espelho. Como sempre ocorre, há vários anos, não gosta do que vê. Mas não é exatamente isso o que mais lhe aperta o peito.
De volta, senta-se à beira da cama, põe os chinelos cuidadosamente um ao lado do outro, lê um trecho de um versículo qualquer do Apocalipse.
Minutos antes, ele foi até a janela, abriu um pouco as cortinas, olhou para a lua e percebeu que passava da meia-noite, os galos da madrugada já dormiam; mesmo assim, apurou os ouvidos, e, aliviado, constatou: nenhum canto prenunciando a manhã.
Agora, com um esforço desmedido, entrecerra os olhos. Quer ver o rio tinto cruzar por debaixo da porta antes que a bruma cinzenta se desfaça.
Conto extraído do Confraria Tarântula, publicado em janeiro,10.
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