quinta-feira, 18 de outubro de 2018

O Golpe de 1964 no Piauí

O GOLPE DE 1964 NO PIAUÍ - Por Mauricio Moreira - No dia 31 de março de 1964, os militares implantavam um ditadura no país que durou até o ano de 1985 quando Tancredo Neves foi eleito presidente pelo voto indireto do congresso nacional. Antes do golpe vivia-se um momento de grande participação popular na vida política nacional, embalados pelo desejo de mudanças sociais e políticas. João Goulart era o presidente, eleito em 1962 pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), sendo deposto com o golpe militar. Desde o primeiro momento se instalou no país um clima de terror ocasionado pelas perseguições, prisões e torturas contra os opositores do regime.
No Piauí não foi diferente, no dia seguinte já começou a “caça as bruxas”, com várias pessoas sendo perseguidas e presas. Destaca-se que no Piauí estava como governador Petrônio Portela, que em um primeiro momento foi contra o golpe e a favor da permanência de João Goulart como presidente, posição que mudou em pouco tempo. Uma das obras que revela a dinâmica dos fatos naqueles fatídicos dias no estado do Piauí é a obra Tempos de contar: o que vi e sofri nos idos de 1964 na qual Jesualdo Cavalcanti Barros (foto), que era vereador de Teresina na época recorda os detalhes da sua prisão no 25º Batalhão de Caçadores e da cassação do seu mandato de vereador nos dias seguintes. Além de Jesualdo Cavalcanti Barros várias outras pessoas foram encarceradas nas celas do Batalhão do exército, como camponeses, professores, profissionais liberais e políticos.
Dentre os presos, estavam lideranças do movimento sindical, estudantil e das ligas camponesas, mostrando que o novo regime estava disposto a acabar com as mobilizações populares que ocorriam no Estado em apoio as “reformas de base” do governo Jango e para isso, era necessário perseguir e prender as principais lideranças do movimento social piauiense. Mandatos de políticos democraticamente eleitos pelo voto popular foram caçados, como aconteceu com o vereador de Teresina Jesualdo Cavalcanti Barros (PTB) e do deputado federal Chagas Rodrigues (PTB). Além disso, os partidos foram postos na ilegalidade, e a sede do Partido Comunista Brasileiro (PCB) na capital do estado foi devassada pela polícia e documentos apreendidos sob a afirmação de que serviriam de provas contra as atividades do partido e de seus militantes. Alguns militantes do partido também foram presos, à exemplo de José Esperidião Fernandes, Honorato Gomes Martins e José Pereira de Sousa (Zé Ceará).
No campo educacional o programa de alfabetização de adultos inspirados no método de Paulo Freire, que estava sendo desenvolvido no bairro Matinha, em Teresina, foi interrompido, sob a alegação de incentivar a subversão, tendo em vista que o método de alfabetização trabalhava a consciência política dos trabalhadores. Assim como no Piauí, o projeto foi abortado em outros estados brasileiros, inclusive com muitos professores sendo perseguidos.
E sobre as ações de resgate da memória do período ditatorial, ainda estamos muito atrasados, pois em vários estados já se realizaram algumas ações nesse sentido. Muitas cidades transformaram espaços de repressão como os prédios do DOPS (polícia política), em centros culturais de preservação da memória do período. Aqui no Piauí, o antigo prédio do DOPS virou sede da Fundação Valter Alencar, e muitos piauienses que passam na sua frente, não imaginam o que se passou naquele edifício. Sem falar que o Piauí é um dos poucos estados onde ainda não se tem acesso aos documentos do DOPS e outros órgãos da repressão produzidos no período da Ditadura, comprometendo o avanço e desenvolvimento de pesquisas sobre o tema.
Portanto, que o golpe militar seja lembrado como um capítulo nefasto da história do país, onde militares apoiados por setores da sociedade, como muitos empresários, mergulharam o país em uma ditadura sanguinária que ceifou vidas e abortou sonhos de milhões de brasileiros que lutavam por um país mais igual, com reforma agrária, ensino público de qualidade, reforma tributária e tantas outras demandas democráticas que estavam na ordem do dia nos idos de 1964. Pelo direito a memória, verdade e justiça! Ditadura nunca mais!

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