quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Dois problemas importantes


Cunha e Silva*

A construção do porto marítimo do Piauí e da barragem no Rio Parnaíba são dois problemas importantes que, solucionados, trarão a independência para o nosso Estado. São dois problemas que o governo do Piauí e a nossa representação federal estão na obrigação de trabalhar pela solução rápida deles, do contrário o progresso da terra piauiense ficará sempre manietado.
É indiscutível o benefício incalculável que advirá para o Piauí a edificação do seu porto marítimo. Todo país central se bate pelo prolongamento do seu território à orla marítima e, às vezes, para a consecução disto vai até à guerra. Na América do Sul, o caso da Bolívia é típico. A pátria de Bolívar entrou em conflito armado com o Chile e, em consequência, perdeu o direito de se estender ao pacífico. Tacna e África constituíram, mais tarde, o pomo de discórdia entre a Bolívia, o Chile e o Peru. Quanto mais o Piauí, com o litoral de oitenta quilômetros de extensão, será que nenhum governo da República satisfará o desejo mais do que justo do povo piauiense de possuir o seu porto marítimo?! Vamos ver se Jânio Quadros faz exceção à regra. Com a barragem do médio Parnaíba está resolvido o caso de energia elétrica em Teresina e em todo o vale do belo rio cantado pelo maior dos nossos poetas – Da Costa e Silva. Sem energia abundante e barata, Teresina e outras cidades às margens do Rio Parnaíba marcarão passo no caminho da prosperidade. Como não sofre a capital piauiense com a falta de energia?! Como poderá de desenvolver em sua vida industrial e comercial? Outra vantagem que a barragem proporcionará aos municípios de Teresina e Timon é que suas matas não serão mais sacrificadas, pois a nossa Usina Elétrica é um sorvedouro de lenha, é um fator de devastação de nossa riqueza.
Se aplausos merece do povo piauiense a construção da barragem. A dificuldade é por em execução a grandiosa obra. Verbas voltadas e até mesmo liberadas não resolvem de todo o caso, pois elas podem vir e não serem aplicadas. Os exemplos de roubos e desvios de verbas são constantes neste país. Nosso povo tem mesmo razões de ser pessimista neste país em que os dinheiros públicos vivem a mercê dos granes e espertalhões, principalmente os de alto coturno. Chovem inquéritos contra os acusados de crimes de peculato e de apropriação indébita de dinheiros públicos, mas o que se vê comumente é p arquivamento de tais inquéritos, sobretudo quando os acusados são pessoas que poderosas e de influência política. A punição é dura e inflexível quando o acusado é pobre, desvalido e de condição social modesta. Infelizmente, esta é a verdade.


Jornal O Dia, 1º de janeiro de 1961, página 4.

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