segunda-feira, 20 de julho de 2015

Encarnadinha e o preconceito da Lepra no Piauí

Outra que sofreu o preconceito da lepra foi dona Encarnadinha, irmã de dona Lavínia Fonseca, esta originária de Jerumenha, casada com o farmacêutico Antônio Collecet da Fonseca, dono da conceituada Farmácia Collect, localizada na Rua Grande (Rua Simplício Mendes). O Antônio Collect da Fonseca foi uma das testemunhas do acento de nascimento de meu irmão Milton de Aguiar.
Dona Lavínia e o Antônio Collcet da Fonseca não tiveram filhos, então criaram uma irmã de Dr. Edgard Nogueira, a dona Walmira, que foi casada com o Raimundo Barbosa de Carvalho.

O Antônio Collect da Fonseca foi eleito à Câmara Municipal de Teresina, em 1890. Ele construiu uma das mais ricas mansões de Teresina, a Lavinópolis, em homenagem à esposa, situada onde hoje é o Posto Mercury, ao lado do Palácio Episcopal, na Avenida Frei Serafim. A Lavinópolis era uma beleza, cheia de tapetes, móveis antigos, faqueiros de prata e de ouro. Tudo vindo de fora do país, principalmente da Itália e de Portugal. Debaixo dos sofás, nos jardins, tinha uns patos, uns sapos de porcelana, que atraíam a criançada toda, mas havia o receio de ir lá por correr na cidade que dona Encarnadinha tinha lepra.
Na verdade, por ser muito branca, dona Encarnadinha ficava vermelha a qualquer exposição ao sol. Então, só andava de luvas nas mãos, desde o acordar ao dormir. Faziam tanto terrorismo que, quando eu ia passar em frente à sua casa, me alertavam para eu não pegar nas grades de ferro e nem entrar. Eu nunca me importei com isso, até mesmo porque nunca considerei a noção de perigo. Eu ia muito lá com Caluzinha, filha de tio Antonino Freire e de tia Elvira. Muito chique, elegante, grã fina, generosa, ela nos recebia vestida nuns quimonos lindos. Era uma líder em Teresina. As freiras catarinas quando vieram para Teresina ficaram hospedadas na Chácara Lavinópolis. De manhã cedo, na hora do café, dona Encarnadinha foi passar manteiga no pão e dona Lavínia não deixou, dizendo que tinha medo que ela cortasse as mãos. A superiora teria dito: “minha filha, não faça isso com sua irmã, a gente sabe como começa, mas não sabe como termina.”

Dona Lavínia hospedou, também, em 1906, o presidente Afonso Pena, que veio para as festas de inauguração do serviço de água na capital. Ela recrutava os melhores pianistas do Rio para audições em sua mansão, sempre que tinha convidados especiais. Fizeram até uma quadrinha para celebrar o visitante ilustre:

O doutor Afonso Pena na na
Presidente da República ca ca
Veio ao nosso Piauí pi ri ri
Em visita pas to rá

Mas, o preconceito foi mais forte e levou dona Encarnadinha a se isolar de todo mundo, depois que a irmã e o cunhado se mudaram da Chácara Lavinópolis. Nem mesmo a meninada se atrevia mais a penetrar na casa para apanhar as frutas, que apodreciam exalando fedor. Apenas dona Elmira Ferraz, uma alma caridosa, não a abandonou. Ela separou em sua casa xícara grande, xícara pequena, prato, talher, copo etc e todos os dias lhe mandava café, almoço e janta. O que restou da riqueza de dona Encarnadinha foi levado e vendido em São Paulo. 
Fabiano, um amigo que reside em Luiz Correia, me disse que dona Modestina, da Campina Modesta, era parenta de dona Encarnadinha. A Campina Modesta ficava em frente ao Clube dos Diários, na Rua Grande (Álvaro Mendes). Era lugar, ali, da instalação dos circos e parques quando vinham a Teresina. Foi vendida para o comerciante Francisco Alves Cavalcanti, mais conhecido como Chico Alves, de Batalha, onde nasceu em 9 de janeiro de 1895. Veio para Campo Maior em 1915. Figura forte nas decisões e corajoso nos empreendimentos. De espírito empreendedor e batalhador incansável, fez projetar sua firma, a Casa Alves, o centro polarizador do comércio da cera da carnaúba dentro e fora do Estado, proporcionando a Campo Maior um período áureo de riqueza e desenvolvimento econômico. Pioneiro do comércio de extração e exportação da cera de carnaúba. Prefeito nomeado pelo golpe de 1930 (7.10.1930 a 26.9.1935), sendo seu sucessor o Dr. Sigefredo Pacheco. Em 1937, ele retornou à Prefeitura, nomeado pelo interventor Dr. Leônidas de Castro Mello. O Chico Alves teve três filhos: 1) Maria Alice, que se casou com Cícero Leôncio Pereira Ferraz, filho do tio Ney Ferraz e de tia Maria Augusta; 2) lsolete, que se casou com o Paulo Ferraz. São pais de Luiz Ferraz, que foi casado com Vera Lúcia, filha adotiva de Joqueira (João Clímaco de Almeida), ex-governador do Piauí, e de Hercília Torres D’Almeida, e 3) Idalice, especial. Sua tutora era a Dra. Léia, advogada, aposentada do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí, filha de Cícero Ferraz e de Maria Alice.

Fonte: Genu Moraes - a Mulher e o Tempo, 2015, Editora Zodíaco.

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