quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Carolina Rosa de Aguiar - Calu Aguiar

Tia Carolina Rosa era chamada de Calu. Ela nasceu no dia 27 de setembro de 1891. Dona Genu estava fazendo a beca que o marido Dr. Helvídio Clementino de Aguiar iria usar na instalação do Tribunal de Justiça do Piauí, ocupando vaga de desembargador. A solenidade estava marcada para o dia 1o de outubro daquele ano. Com fortes dores, teve que parar e ficar aguardando a hora do parto. Quem terminou de fazer a beca foi a filha Elvira de Aguiar, mais tarde casada com o Dr. Antonino Freire, que foi deputado federal, senador, vice governador e governador do Piauí.
Dona Calu queria ser freira, mas não deixaram, porque ela era rebelde, de forte independência moral. Então ela fez votos de pobreza. Essa história de dona Calu me lembrou a de madre Jacinta de São José, fundadora do Carmelo do Rio de Janeiro, uma das primeiras a romper com o esteriótipo de que ir para o convento era uma punição. Às vezes, era um ato de rebeldia para se livrar de um pai autoritário, de um casamento infeliz, de um marido indesejável. Naquele tempo, as mulheres só tinham dois caminhos: o casamento ou o convento que, na pior das hipóteses, dava uma vida mais independente. Então, o recolhimento, em alguns casos, se tornava a busca de liberdade. Jacinta comprou briga com ninguém menos do que o bispo do Rio, que queria um convento franciscano e ela que fosse um estabelecimento carmelita. Foi a Lisboa, pediu permissão régia e conseguiu o seu intento.
Um dia, o des. Helvídio estava cochilando no alpendre da Chácara Araporanga, quando um barulho o acordou e viu um homem, perto de sua rede, com uma faca na mão. Dona Calu, que estava próxima, correu e se atracou com ele, desarmando-o. Sofreu alguns cortes que atingiram os nervos de uma das mãos, deixando-a sem movimento, mas evitou o pior. Os empregados dominaram o homem, que foi preso. Em seu depoimento ele disse que tinha ficado muito assustado com a coragem de dona Calu, porque nunca tinha visto uma mulher, tão magrinha, ter tanta força e destempero. Ele confessou que ia apenas roubar, mas não hesitaria matar quem lhe aparecesse pela frente.
Dona Calu foi a última das filhas do des. Helvídio a falecer. Ela fechou os olhos no dia 22 de fevereiro de 1992, na Rua Paissandu.

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