quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Antônio Chrysippo de Aguiar

Antônio Chrysippo de Aguiar nasceu em Teresina, em 4 de setembro de 1896. Formou-se na tradicional Faculdade de Medicina da Bahia, em 1919, com a tese: Dos Iódicos.

Antes de se fixar em Salvador, clinicou no interior. Numa daquelas cidades na Chapada Diamantina, certa noite foi acordado por dois caboclos. Alguém estava precisando de um médico. O paciente era Lampião, Rei do Cangaço. Tratamento exitoso.

Em 1935, concorreu à livre docência da cadeira de Dermatologia, com tese sobre iodetos, aprovado com distinção.

Disputou o cargo de deputado estadual, na Bahia, sem êxito.

Foi secretário de Saúde da Bahia em duas administrações.

Especializou-se em endemias rurais pelo Instituto Oswaldo Cruz (Manguinhos - Rio). tornou-se sanitarista de renome nacional.

Foi secretário da Fazenda do Piauí no governo do cunhado João de Deus Pires Leal (tio Joca Pires), de 1928 até o golpe de 1930, quando houve a deposição do governador.

Em 1937 fundou, em parceria com Antônio Lemos, o jornal político A Democracia, que defendia a candidatura do paulista Armando de Sales Oliveira Sales Oliveira, que deixou o governo de São Paulo para ser candidato ao cargo de presidente da República nas eleições marcadas para janeiro de 1938, eleições estas que não ocorreram porque Getúlio Vargas deu um golpe de estado que implantou no Brasil o Estado Novo, em 10 de novembro de 1937. O Estado Novo tinha por modelo os regimes totalitários então em voga na Itália, Alemanha, Espanha, dentre outros países.

Nas eleições de 3 de outubro de 1954, na disputa majoritária, a Aliança Democrática Progressista (UDN/PSP/PL) apresentou como candidato a governador o deputado estadual Joaquim Lustosa Sobrinho (UDN - 1947-1951), natural de Gilbués, a vice-governador o médico Antônio Chrysippo de Aguiar, e ao Senado Adelmar Soares da Rocha (UDN) e Joaquim de Lima Pires Ferreira (UDN), que estava concluindo mandato e quase com 90 anos de idade. A Coligação Democrática Trabalhista (PSD/PTB) apresentou como candidato a governador o coronel Jacob Manoel Gayoso e Almendra (PDS), a vice-governador Francisco Ferreira de Castro (PTB), do Sul do Estado, e ao Senado Matias Olímpio de Melo (PTB), que tentava a reeleição, e Leônidas de Castro Mello (PSD), à época deputado federal. Abertas as urnas, para o governo, Jacob Manoel Gayoso e Almendra obteve 101.689 votos e Joaquim Lustosa Sobrinho 76.119 votos. Na disputa pela vice-governadoria Francisco Ferreira de Castro obteve 99.016 votos e Antônio Chrysippo de Aguiar 75.456 votos

Por volta de outubro de 1957 foi criado no Piauí o Partido Republicano. Em 2 de fevereiro de 1958, o líder do Partido Republicano na Assembleia Legislativa, deputado José Severiano da Costa Andrade declarava que ele e o partido estavam prontos para a apreciação dos vinte vetos opostos pelo governador Jacob Almendra votados no final da sessão passada e comentava a consolidação do partido no interior do Estado.

Na noite do dia 22 de janeiro de 1958, houve a instalação solene do Diretório Regional do Partido Republicano, no Theatro 4 de Setembro, em solenidade presidida pelo ministro Pereira Lira, com a presença do titular da pasta da Educação e Cultura Dr Clovis Salgado e de representantes de todas as agremiações partidárias. Vários oradores usaram da palavra, destacando-se dentre eles o ministro Pereira Lira, o senador José de Mendonça Clark e o deputado estadual José Severiano da Costa Andrade. A direção ficou assim constituída:

Presidente: senador José de Mendonça Clark
1 vice-presidente: Mirócles Veras
2 vice-presidente: Monsenhor Roberto Alves
Secretário geral: deputado José Severiano da Costa Andrade
1 secretário: deputado Gonçalo de Castro Lima
2 secretário: Luiz Gonzaga de Carvalho
1 tesoureiro: deputado Wenceslau de Sampaio
2 tesoureiro: Pedro Mariano da Costa 

Membros: Dr. Antônio Cavalcanti Vieira da Cunha, prefeito José Ivo dos Santos e Gabriel Campelo Soares, além de João da Rocha Marinho, general Adelmar Rocha, B. Alves da Luz e João Emílio Falcão Costa.

Em fevereiro de 1958, o Dr. Antônio Chrysippo de Aguiar, membro da UDN, chegou de Salvador, com especulação de que ele não iria tomar parte na coligação da UDN - PTB. Ficaria com a ala dissidente da UDN, a que lembrava o seu irmão Eurípides de Aguiar, e no momento chefiada pelo general Adelmar Rocha. O Dr. Antônio Chrysippo de Aguiar não marcharia com a coligação aludida porque era inimigo figadal de Dr. Matias Olímpio de Melo (PTB), a quem combatia desde há muito.

No dia 15 de fevereiro, o Sr. Antônio Chrysippo de Aguiar retornou a Salvador, depois de tratar de assuntos particulares e relacionados aos desmanches em torno do caso sucessório piauiense. Declarou, antes de embarcar, que estaria de volta em abril e ficaria até o pleito de 3 de outubro.

Em março, houve a formação do Diretório Municipal de Teresina, ficando a diretoria do Partido Republicano assim formada:

Presidente: deputado José Severiano da Costa Andrade
1 vice-presidente: Álvaro Monteiro da Cunha
1 vice presidente: Hugo Bastos
1 secretário: Genez Moura Lima
2 secretário: José Diniz de Sousa
1 tesoureiro: João Marques Barbosa
2 tesoureiro: Primo Vaz da Costa

Conselho Fiscal

Vereador Cândido Pereira da Cunha
Paulo Henrique Gonçalves Vilhena
Joaquim Ribeiro Magalhães

Membros: Pedro Rolim Sampaio, Wener Pereira, Lopes Campelo, José Areolino Costa, Abdoral Pires Cordeiro, Expedito Sérgio de Oliveira, Manoel Gomes Vieira e José Dutra Vieira.

Em 18 de maio, o jornal O Dia publica, sob o título O PR Cresce: "dentre as numerosas adesões recebidas pelo glorioso Partido Republicano, nestes últimos dias, destacaram-se, pela sua alta significação, as que a seguir mencionaremos:

Dr. Chrysippo de Aguiar. Cidadão da mais alta posição cultural, social e política, médico e professor da Faculdade de Medicina da Bahia, jornalista brilhante e membro de tradicional família piauiense, o Dr. Antônio Chrysippo de Aguiar já exerceu destacadas funções em nosso Estado, e foi candidato a vice governador no último pleito, sob a legenda da Aliança Democrática Progressista. Decepcionado com o abastardamento da UDN, devedora de seus mais gloriosos dias ao inolvidável Eurípides de Aguiar, o ilustre homem levou ao chefe do PR do Piauí, senador Mendonça Clark, a sua irrestrita e incondicional solidariedade na batalha em prol do soerguimento  do nosso amado Piauí. Convidado a concorrer na próxima eleição ao cargo de prefeito da capital, não vacilou em aceitar a indicação de seu nome, sem que interesses subalternos a tanto o forçassem, vez que não fez  mínima reivindicação, nem para sim, nem para os amigos. E, tendo o apoio dos coligados, marcha para a arrancada de 3 de outubro.

Outras importantes adesões: No próspero município de Guadalupe prestigiosos chefes políticos vêm aderir ao Partido Republicano. Dentre eles destacam-se o coronel vereador Firmino Leite de Brito, cidadão muito estimado na região Sul do Estado, o vice prefeito Vicente Leite de Brito e os vereadores Antônio da Silva Ribeiro e Deoclécio Trajano, que marcharam unidos para a vitória, nas urnas, de outubro próximo.

Diretório do PR - Na próxima edição, continuaremos a divulgar os números dos novos diretórios da vitoriosa agremiação política, sob a chefia estadual do eminente senador José de Mendonça Clark."

Criticado por sua saída da UDN, entre outros, pelo Dr. Demerval Lobão, que era o secretário geral do PTB, o Dr. Antônio Chrysippo de Aguiar, dá a sua resposta, publicando no jornal O Dia, edição de 22 de maio, primeira página, artigo sob o título: O que lhe sobra, o que lhe falta:

"O intratável delegado do IAPI e briguento secretário geral do partido trabalhista está lamentavelmente desvairado. A ideia fixa de ser governador do Estado estreitou-lhe a consciência a ponto de torná-lo irresponsável, incapaz de discernir. Discutir com ele, coisas sérias, é perder tempo, e os bocas sujas que o cercam não merecem resposta.

Aliás, o atual e gravíssimo acesso de agressividade, de que está possuído o bacharel Demerval Lobão, não é o primeiro nem será o último. Não há muito tempo, e em crise idêntica, já foi levado ao moirão do sacrifício, beneficiado e solto nas campinas de Campo Maior. Mas, pelo visto, e apesar da perícia beneficiador, o trabalho não foi completo, ou isso, ou o chamurro é incorrigível mesmo.

O engraçado é que a mania agressiva do candidato trabalhista voltou-se contra mim, que sou apenas um "cidadão empavonado", residente em Salvador e desconhecido no Piauí. O seu opositor, entretanto, e que irá esmagá-lo nas urnas de 3 de outubro é o deputado José Gaioso Freitas, ao qual os jornais da pseudo-coligação oposicionista não fazem ataques maiores, porque naturalmente não encontram motivos para tanto, e, com o que muito me congratulo, como adepto dessa candidatura. E com escolha do ilustre deputado Petrônio Portella para prefeito de Teresina, os "canelas de barro" perderam até o direito de falar em oligarquia de família, tecla que vinham batendo preferentemente.

E mais recente e sensacional tento que julga ter lavrado o órgão trabalhista, foi a reprodução de uma carta minha, mas sem os elogios de que a fizeram precedida na primeira publicação. E desde ai começa a desonestidade, para não falar na falta de escrúpulo de que se revelaram capazes os meus gratuitos detratores.

Ora, podem publicar documentos particulares, transcrever artigos meus e devassar o que entenderem que lhes possa favorecer o intento intrigante. O que jamais lograrão provar, porém, é que pleiteei favores pessoais ou que lhes propus uma indignidade. E o que ficará patenteado, afinal, é que vinha agindo de corpo aberto, animado da mais absoluta boa fé, criticando e combatendo, com veemência, tudo aquilo que julgava certo ou errado, prejudicial aos interesses da coletividade piauiense, mas que estava sendo ludibriado por gente que não vacila diante de um desprimor, de uma deslealdade ou de uma traição, desde que disso tire vantagens.

Compreendi, felizmente, em tempo hábil que devia operar uma revisão na minha atitude política. Assumi, com destemor, a oposição em que me encontro. E combaterei hoje, com a mesma lealdade de ontem, ao lado daqueles a que estou politicamente filiado. E encontro-me tranquilo e convencido de que trairia a mim mesmo se me submetesse ao gregorismo avassalante e fogueteiro.

Cumpre-me, concluindo, dizer, com franqueza, ao bacharel Demerval Lobão, o que lhe sobra, e o que lhe falta, na minha modesta opinião, para ser um candidato ao governo do Estado que se recomende a eleitorado esclarecido. Sobram-lhe grosseria, presunção, ódios acumulados e o espírito vingativo. Faltam-lhe, essencialmente, compostura para o exercício de tão elevado cargo. E esse é o grande segredo do repúdio à sua candidatura, fadada a fracassar até em Teresina, mesmo com o rótulo de udeno-trabalhista."

Em 3 de outubro, o Dr. Antônio Chysippo de Aguiar (PR) concorreu ao cargo de prefeito de Teresina, sendo derrotado por Petrônio Portella Nunes (UDN).

O Piauí, à época, tinha uma população de 1.277.441 habitantes e um eleitorado de 232.368, em número absoluto (18,190% sobre a população). Compareceram às urnas 211.348, em número absoluto, representando 90.954% sobre o eleitorado.

Casou-se com Hermelinda Andrade, filha de Antonio Vieira de Andrade e de Ana Gomes de Andrade. O casal teve os filhos: Antônio Helvídio (falecido), Maria Lúcia (falecida), Victor (falecido), Maurício, Hélio (falecido), Regina, Helvídio, Vânia e Ana Maria.

Antônio Chrysippo de Aguiar faleceu em Salvador, em 16 de julho de 1960. A Câmara Municipal de Salvador aprovou projeto de lei dando o seu nome a uma das ruas da cidade. 

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