Minha avó Maria Genovefa Nogueira de Lobão Aguiar - a vovó Genu - era, também, de tradicional família piauiense, prima de governador e de desembargadores. Era filha de Antônio Alves de Lobão Veras e de Emygdia Francisca Nogueira de Lobão.
Logo após o falecimento de vovô Helvídio, em 11 de agosto de 1936, o tio Antônio Chrysippo de Aguiar fretou um hidroavião e levou vovó para a sua casa, em Salvador. Grande número de pessoas foi ver o seu embarque no Rio Parnaíba.
O nome Genu talvez venha do anagrama dos nomes Genuveva com Josefa, alcunhas frequentes na ascendência da família.
O pai de vovó era de Campo Maior. Ele só usava Lobão. Tinha qualquer coisa de inimizade porque ele eliminou o nome de Veras. Ele só queria ser chamado de Antônio Lobão. O Dr. Pergentino, pai de Demerval e de Dolival Lobão, era primo de vovó Genu. A mãe de vovó, vem dos Nogueira, de Valença. Trata-se de uma família muito antiga. Mamãe falava que tinha ligação da família do Piauí com o pessoal de Minas Gerais, através da atividade de mineração naquele Estado e da pecuária piauiense, que abastecia de carne as Minas Gerais, não é! Então, a família Fortes daqui é a mesma de Bia Fortes de Minas Gerais. Tio Joca Pires me disse que ouviu muito a tia Linoca (Lina Pires Ferreira), mulher do marechal Firmino Pires Ferreira, chamar Bia Fortes de primo. O velho Bia Fortes, no Rio de Janeiro, convivia muito na casa do marechal Firmino Pires Ferreira. E se tratavam como primos.
O velho Antônio Lobão tinha uma fazenda de 7 mil hectares em Altos. Chamava-se Barrinha. Vendia muito para Teresina. As mercadorias vinham em carros de bois até às margens do Rio Poti. Ali tomavam uma barca e desciam o Rio Poti até o encontro dos rios - Poti e Parnaíba, no Poti Velho. Faziam uma parada, se houvesse comprador, e seguiam viagem, parando em frente ao cais da velha Usina de Força (antiga Cepisa, hoje Eletrobras, na Avenida Maranhão). Os bois atravessavam a nado, com os homens montados nas burras ou nos cavalos. Os carros de boi flutuavam pelas águas dos rios. De tudo se vendia, mas o grosso da mercadoria era madeira de lei. Como tudo que ele trazia era de primeira qualidade, e em grande quantidade, podia vender a um bom preço. Tinha a preferência dos compradores, que diziam logo: “só compro de for da Barrinha.” Em pouco tempo, o lugar aonde o material da Barrinha chegava ficou conhecido como Porto da Barrinha.
O velho Antônio Lobão, numa dessas travessias, tomou muita chuva, deu febre alta. Uma escrava preparou um chá e deu a ele. Depois, ele dormiu e não acordou mais. Diziam que o chá estava envenenado.
Meu pai tinha muita prevenção contra as escravas e contra os escravos também. Mas ele sempre nos falava que nunca viu, em nenhuma fazenda do Piauí, um escravo ser maltratado. Justificava que um escravo maltratado era prejuízo para o dono.
No casarão havia uma frequência muito grande de antigos escravos. Mesmo depois de tanto tempo da abolição da escravatura, eles ainda frequentavam a nossa casa. Lembro-me bem Lídia e o Luís. Eram ex-escravos de vovô Helvídio. Quando Luís vinha ao casarão, eu mandava servir café, almoço, janta com muito gosto para ele. Meu pai me mandava ter cuidado, mas ele nunca me fez mal algum.
Outro que vinha muito ao casarão era o Jacó do Banco, que se dizia filho natural do Visconde da Parnaíba, não com a Viscondessa, mas com outra mulher.
Diziam que o Visconde da Parnaíba, que era um danado, deixou inúmeros filhos fora do casamento.
Jacó do Banco só teve uma filha, do primeiro casamento, que era dona Elodir. Com a segunda, dona Santana, ele não teve filhos.
Ele era quem tinha a chave do Banco do Brasil. Por isso eu achava que ele era o dono do banco. Mas devia ser contínuo. Andava sempre fardado, com roupa bem engomada.
Ele era muito amigo de papai. Todos os dias, antes das sete horas, ele chegava ao casarão, tomava café e ia para o banco. Ele dizia que o Visconde da Parnaíba tomava coalhada numa tigela de opaline.
Do livro - Genu Moraes - a Mulher e o Tempo
Depoimento a Kenard Kruel
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