Dino Alves
Era 1982, o ano em que tivemos a ousadia de contar uma genial piada, contrariando a lógica, pois nós sim, éramos motivos de piadas. Tivemos a coragem, em plena ditadura militar, de criar um salão de humor com cartunistas desenhando piadas que, na época, poderiam levar todos “os subversivos” para a cadeia.
Riram da nossa prepotência. Riram de nós, mas logo passaram a rir para nós. Rimos juntos em gargalhadas estridentes que ecoaram além das nossas fronteiras provincianas que, na época, nos isolavam do resto do país. E logo tivemos um orgulho, pois podíamos, também, rir do Brasil. O tempo foi passando, viramos referência do riso. Tínhamos o maior salão de humor do Brasil. Recebemos gênios do humor (reis e até bobos) e representantes de outras culturas e logo nasceram nossos filhos talentosos que um dia foram fazer arte. Tivemos o reconhecimento internacional. ÉRAMOS POP STARS.
Mas o sucesso foi devastador para os egos que acreditavam ser os próprios criadores do riso no mundo. Uma mentalidade coletiva de seres infantilizados levando a soberba ao mais alto ponto (que lá do alto se via, a graça transformando-se em desgraça). E quando o fracasso nos subiu à cabeça (já branca), com o uso de drogas de tratamentos e destratamentos com os nossos premiados, perdemos as nossas referências e os nossos valores. Tivemos uma crise de riso, gargalhada e choro.
E trinta anos depois, acordamos de mau humor e sem lembrarmos da nossa própria idade, pois não temos só 29 anos… mas temos sim, a desconfortante sensação de que hoje rimos de nós mesmos.
Que venha o 31º!
Um comentário:
dino alves, amigo, que beleza de texto. infelizmente, é isso. aconteceu. está acontecendo. tudo por conta da nossa covardia e do egoismo de que se acha o dono do salão de humor do piauí. mas, como diz emmanuel para chico xavier, TUDO PASSA.
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