terça-feira, 3 de abril de 2012

A polêmica criada por Renato Marques Neves


Adrião Neto (*) 

“A despeito da polêmica sobre o 19 de outubro de 1822, criada por quem esqueceu que Parnaíba é maior, mais importante do que qualquer ideia provinciana, sectária – a cidade está acima do ufanismo ultrapassado de alguns poucos rabugentos” (Roberto Carvalho, in: “O Piauí na História do Brasil / A Epopeia do Jenipapo”, Revista Evidência, nº 24, dezembro de 2005). 

Mais uma vez, como guardião da tocha sagrada, do heroísmo e do orgulho histórico de Parnaíba, o escritor Renato Neves Marques, numa absoluta demonstração de que não aceita a verdadeira verdade histórica sobre a participação dos parnaibanos no movimento de emancipação política do Brasil, que culminou com a Batalha do Jenipapo, vem usando a mídia para tentar maquiar a história e desqualificar o nosso livro A EPOPEIA DO JENIPAPO. 

Como já havia feito em outros artigos, baixa o nível, leva o assunto para a área pessoal, parte para agressões e tenta me colocar contra os parnaibanos. Ele me usa como a bola da vez, assim como já fez com vários intelectuais de Parnaíba, com os quais se incompatibilizou, criando um clima pesado que o obrigou a abandonar a cidade para viver em Teresina. 

No artigo: CRÍTICAS AO LIVRO A EPOPEIA DO JENIPAPO, publicado no Portal Delta, ele se coloca acima de Odilon Nunes, de Mons. Chaves, de Maria da Penha, de Maria Nazaret de Carvalho Pires e de outros historiadores e continua chovendo no molhado e repetindo argumentos usados em outras matérias. 

Ao contrário do que ele tenta repassar para as pessoas que ainda não leram A EPOPEIA DO JENIPAPO, o livro desmistifica a participação dos parnaibanos no movimento emancipacionista realizado no Piauí. Trata-se de uma obra séria compromissada com a verdade histórica, digna de ser lida e analisada sem bairrismo e sem paixões. Sem isso qualquer interpretação não tem a mínima credibilidade. 

Para que os leitores tenham uma noção dos principais tópicos do nosso livro, que a todo e qualquer custo, o Sr. Renato Marques insiste em polemizar, aproveito este espaço, para mostrar um pouco do livro e rebater as críticas. 

Em Parnaíba sempre foi dito e repetido que o principal arauto e o maior propagandista da causa emancipacionista foi o Dr. João Cândido de Deus e Silva (juiz de fora das vilas de Parnaíba e Campo Maior). O fato tornou-se uma verdade estabelecida, no entanto, o nosso livro prova exatamente o contrário: o grande idealista foi Lourenço de Araújo Barbosa, de Campo Maior, e que o juiz o perseguiu e o denunciou às autoridades de Oeiras. 

Vejamos o que escrevi e transcrevi: 

“No início de 1822, a Vila de Campo Maior insuflada pelo rábula Lourenço de Araújo Barbosa, já havia se transformado num enorme caldeirão de idéias revolucionárias em prol da Independência”. 

“Conectado com as idéias republicanas de 1917, o rábula pregava publicamente, semeando a semente fértil do separatismo, fazendo circular um pasquim escrito em parceria com o padre Jerônimo José Ferreira, no qual, dentre outras manifestações, além de criticar o juiz de Fora de Parnaíba e Campo Maior, Dr. João Cândido de Deus e Silva, que havia feito uma preleção defendendo a Constituição Portuguesa e o Reino, incitava o povo para imitar o exemplo dos revolucionários pernambucanos”. 

“A atuação de Lourenço de Araújo Barbosa em prol do separatismo, empolgou o povo de Campo Maior e adjacências. Além de Campo Maior, o pasquim circulou também em Parnaíba e Oeiras”. 

“Foi a partir do lançamento desse boletim, que o movimento libertador começou a se manifestar às claras e se definiu como um movimento emancipacionista, fazendo com que Campo Maior, a exemplo dos demais centros revolucionários se dividisse entre o partido brasileiro e o partido português”. 

“No entanto, enquanto o rábula revolucionário trabalhava pela causa emancipacionista, o juiz de Fora de Parnaíba e Campo Maior, Dr. João Cândido de Deus e Silva, no afã de cumprir o seu papel de magistrado e de defender a sua honra, enviou um documento datado do dia 24 de janeiro de 1822, com um pasquim anexo, informando às autoridades de Oeiras as ocorrências de Campo Maior, no qual denunciava as atividades de Lourenço de Araújo Barbosa e sua “perversa doutrina”. E ao final, solicitava ao Ouvidor da Comarca, em Oeiras, para tomar as providências cabíveis”. 

“Analisando o caso, o historiador Wilson de Andrade Brandão, afirma que, em seu relato: “João Cândido, através de termos aparentemente desconexos, acumulados de propósito, quer ressaltar o mau caráter das idéias de Lourenço de Araújo Barbosa. Por isso, procura defini-las como a escória do pensamento filosófico e moral”. 

“Seis meses depois, não tendo obtido nenhuma resposta à cerca de sua denúncia, o Juiz de Fora, oficiou novamente às autoridades de Oeiras, estranhando a falta de providências no sentido de sindicar os implicados e, demonstrando-se magoado, retirou a queixa”. 

“A seguir, alarmado com o aparecimento de outros pasquins subversivos, em Parnaíba e Oeiras, a Junta de Governo determinou que o Juiz de Fora, Dr. João Cândido abrisse devassa para descobrir e punir os sediciosos. No entanto, aquela autoridade, magoada por não terem tomado as providências sobre o pasquim de Campo Maior, no qual fora acusado, ou por já está comungando com o pensamento dos revolucionários, “negou-se a fazer devassas alegando que perseguir os culpados, naquela hora, seria fatalmente despertar simpatias pelo Brasil, em prejuízo dos interesses portugueses””. (Citação do historiador Wilson de Andrade Brandão). 

REAÇÃO CONTRÁRIA AO 19 DE OUTUBRO / MARCHA DE FIDIÉ 

Sobre a reação contrária ao 19 de outubro e à Marcha de Fidié, dentre outras coisas, o nosso livro narra o seguinte: 

“A primeira reação contrária ao movimento do 19 de Outubro, surgiu na própria Vila de São João da Parnaíba, os portugueses ali residentes, denunciaram o movimento ao governo de São Luís, e conforme queixa de Simplício Dias da Silva: “seduziram e compraram quarenta e duas peças de artilharia únicas que guarneciam esta Vila, parte dos quais eram europeus, intimidaram os incautos, e ignorantes brasileiros, e chegaram ao extremo de armarem com seus escravos”; “Bem que Comandante do Destacamento e Coronel de um Regimento de Cavalaria, de defesa nenhuma pude fazer, porque nesta Vila o número dos contrários era grande, e os soldados do meu comando se acharem dispersos pelo distrito, cuja extensão é de mais de quarenta léguas, todos indecisos e aterrados”. (Transcrito do livro “19 de Outubro – O Dia do Piauí”, pág. 28, de Renato Neves Marques). 

Na Nota nº 13, escrevi: “O teor do texto mostra a fragilidade dos parnaibanos, que não tinham a menor condição de enfrentar nem a reação interna patrocinada por meia dúzia de portugueses, enquanto mais a reação do poderoso exército de Fidié”. 

Na Nota nº 14, transcrevi um texto do historiador Mons. Chaves: “Em Parnaíba o primeiro entusiasmo das festas da aclamação do dia 19 de outubro já havia esfriado. O povo estava decepcionado. Afinal de contas, tudo continuava como dantes, nada havia mudado. Entre os chefes começaram a surgir as mútuas recriminações. Não tinham armas, nem munição, nem soldados, nem fortificações. Que iriam fazer, se fossem atacados?” 

“Ao tomar conhecimento da marcha de Fidié, os parnaibanos ficaram em polvorosa. Enquanto metade da população encontrava-se em pânico e a outra metade em verdadeiro estado de histeria coletiva, as autoridades aparentando uma calma inexistente escreveram ao Comandante das Armas, que ainda se encontrava em Campo Maior”. 

Na Nota nº 15, transcrevi um texto do historiador Mons. Chaves: “Quando se soube em Parnaíba que sobre ela marchavam tropas de Oeiras sob o comando do próprio Governador das Armas, houve um princípio de pânico na Vila. Mas as autoridades, aparentando uma calma que não possuíam, ainda tentaram conjurar o perigo escrevendo diretamente a Fidié, estacionado em Campo Maior. Se não conhecêssemos o valor moral dos subscritores daqueles ofícios, diríamos que todos eram cínicos ou imbecis”. 

“Nos ofícios enviados pela Câmara e pelo Comandante Militar da Vila, Coronel Simplício Dias, datados do dia 27 de novembro de 1822, havia manifestação de arrependimento, pedidos de clemência e súplicas para que Fidié suspendesse a marcha sobre Parnaíba”. 

“Dentre os argumentos da correspondência remetida pela Câmara, lia-se: “Constando-nos que contra esta Vila se dirigem tropas armadas, em conseqüência dos acontecimentos do dia dezenove de outubro, dirigimo-nos a Vossa Excelência, para que pelo bem do Serviço Nacional e Real, pelo sossego e tranqüilidade deste Povo faça remover os vexames e os males que sobre ela vão a recair, visto que até o presente não tem negado obediência a nenhuma das Autoridades da Província, nem tem sido alterado a boa ordem, e a tranqüilidade desta Vila, nem pretendemos defender-nos de mão armada”. E negando o “feito heroico”, enfatizava: “nem se prestou, aqui, juramento algum”. (Trechos dos ofícios transcritos por Renato Neves Marques, in: “19 de Outubro – O Dia do Piauí”, págs. 63 a 65). 

“O ofício do Coronel Simplício Dias da Silva, contendo praticamente o mesmo teor, além de informar que a Vila permanece “submissa, e obediente ao Excelentíssimo Governador da Província, e a todas as autoridades dela”, acrescenta: “Observo no geral aplacado o fogo que motivou aquele procedimento e no particular muitos arrependidos”. (Trechos dos ofícios transcritos por Renato Neves Marques, in: “19 de Outubro – O Dia do Piauí”, págs. 63 a 65). 

Nota: Para quem acredita em Papai Noel e acha que Fidié era idiota, Renato Neves Marques diz: “Os ofícios escritos no dia 27 de novembro de 1822, tanto o da Câmara como de Simplício Dias, referem-se a uma artimanha para enganar Fidié e ganhar tempo enquanto aguardavam a vinda de tropas cearenses”. Ele embasa a sua afirmativa nos argumentos de Simplício Dias da Silva, que por falta de uma desculpa mais consistente enviou carta ao imperador D. Pedro I, onde dizia: “Pretendi no meio de tantos perigos iludir a marcha das tropas, enquanto se ajuntavam as do Ceará em nosso auxílio, mas debalde me esforcei por impedir que ele se fortificasse nesta Parnaíba como aconteceu”. 

“No dia 4 de dezembro, uma semana depois de ter se humilhado para Fidié, o Senado da Câmara de Parnaíba escreveu para as Vilas cearenses, informando que aquela Vila se encontrava ocupada por um “vazo de guerra” enviado pelo governo do Maranhão, que também havia remetido consideráveis forças por terra, para formar um corpo de reserva auxiliar das forças do Piauí. E, mostrando a sua fragilidade, implorava para que aquelas vilas suspendessem o socorro solicitado por julgar “mais vantajoso ao bem dos Povos o restabelecimento do sossego Público abraçar uma conciliação prudente de que uma arrebatada anarquia entre irmãos””. (Trecho do ofício transcrito por Renato Neves Marques, in: “19 de Outubro – O Dia do Piauí”, págs. 71 a 72). 

“Nesse mesmo dia, a Câmara de Parnaíba dirigiu ofício também ao Capitão Felipe José das Neves, Comandante da tropa maranhense aquartelada em Carnaubeiras, à disposição do Governador das Armas do Piauí, rogando para que ele não marchasse contra aquela “infeliz Vila, até que nela se recolhesse o Excelentíssimo Sr. Governador das Armas desta Província” E demonstrando a sua submissão a Fidié, informa que está pronta para recebê-lo “com cordial harmonia”. (Trechos do ofício transcrito por Renato Neves Marques, in: “19 de Outubro – O Dia do Piauí”, págs. 73 a 74). 

“No dia 12 de dezembro, em ofício dirigido ao comandante do Brigue Infante Dom Miguel, que viera do Maranhão “para obrar segundo as ordens do Exmo. Sr. Governador das Armas desta Província em defesa do Sistema Constitucional que desgraçadamente foi calcado aos pés nesta infeliz Vila”, o Senado da Câmara, posicionando-se a favor de Portugal, pede proteção contra “parte da Província do Ceará”, que segundo ele (o Senado da Câmara), “tenta invadir esta dita Vila e a forçar fazer plantar nela o novo Sistema de Independência do Brasil, com exclusão do governo de El Rei Constitucional o Senhor D. João VI”. E a seguir pede ao Comandante “para entrar com as forças que tem debaixo do seu Comando a tomar o porto desta Vila para repelir qualquer ato que haja de vir antes da chegada de S. Exa”, Fidié”. (Trechos do ofício transcrito por Renato Neves Marques, in: “19 de Outubro – O Dia do Piauí”, págs. 75 a 76). 

“Nesse mesmo dia, em Proclamação dirigida aos moradores da Parnaíba, ao tempo em que tenta tranquiliza-los, informa: “O nosso Exmo. Sr. Governador das Armas marcha com consideráveis forças de 1ª e 2ª linha para vos pôr ao abrigo dos vossos inimigos que não devem tardar nesta Vila”. Continuando afirma: “O Generoso Governo do Maranhão auxilia a mesma causa, e já vos deu por isso decididas provas, mandando um forte vazo de guerra que acha em nosso Porto, e o seu digno Comandante, bem perto de nós, espiando as nossas precisões para nos socorrer”. Prosseguindo demonstra novamente o seu temor contra os cearenses, que de aliados, a quem no início pediram socorro, passam a ser considerados como inimigos: “Este Senado teme que enquanto não chega o mesmo Exmo. Sr. Governador das Armas, vós podeis ser inquietados pelos povos da Província do Ceará que olham para nós com olhos ameaçadores”. E conclui dando “Viva El Rei Constitucional o Sr. Dom João VI. Viva a União do Brasil com Portugal”. (Trechos da Proclamação transcrita por Renato Neves Marques, in: “19 de Outubro – O Dia do Piauí”, págs. 76 a 77). 

“Nem mesmo a repentina e inexplicável mudança de atitude do Senado da Câmara, abandonando os seus ideais de liberdade, posicionando ostensivamente favorável à causa lusitana, foi suficiente para garantir a tranqüilidade dos protagonistas do 19 de Outubro. Acuados por meia dúzia de portugueses residentes na Vila e amedrontados com a aproximação de Fidié, não tiveram outra opção a não ser a fuga”. 

Na Nota nº 23, escrevi: “Em seu livro “19 de Outubro – O Dia do Piauí”, pág. 74, referindo-se à reação dos portugueses residentes em Parnaíba e à fuga dos heróis parnaibanos, o historiador Renato Neves Marques afirma: “Com a saída dos envolvidos no movimento ficaram estes mesmos moradores (os portugueses) como senhores da situação e a exercerem fortes pressões sobre o Senado da Câmara. Esta, não encontrando apoio e sentindo-se isolada teve que manter a ordem, acalmar os ânimos exaltados e ceder aos caprichos desse grupo constituído na sua maioria de portugueses não alinhados com a causa brasileira”. (Conforme o texto, o historiador Renato Neves Marques afirma: O Senado da Câmara teve que “ceder aos caprichos desse grupo”. Pelo que foi dito qualquer analista de primeira viagem conclui que a Câmara ao ceder aos caprichos desse grupo de portugueses voltou atrás desconsiderando o feito histórico do 19 de Outubro”). 

“Enquanto mais a tropa do comandante português se aproximava, mais aumentava a aflição dos parnaibanos, que ao tomarem conhecimento da fuga dos principais protagonistas do 19 de Outubro, começaram a debandar – o grosso da população masculina procurou esconderijo nas ilhas do delta do Parnaíba e em Amarração (atual Luís Correia), deixando as mulheres desprotegidas e a mercê dos insaciáveis soldados de Fidié”. 

Na Nota nº 24, transcrevi um texto do historiador Mons. Chaves: “Os sediciosos antes de fugirem, haviam espalhado a notícia de que os ‘marinheiros” (apelido dos portugueses) vinham arrasando e matando o encontravam no seu caminho”. Acrescentei: “Pelo teor do texto verifica-se que os próprios sediciosos se encarregaram de espalhar o medo, o pânico e o terror”. 

Na Nota nº 25a escrevi: “Segundo o historiador Renato Neves Marques, em seu livro “19 de Outubro – O Dia do Piauí”, pág. 68: “Simplício Dias da Silva preferiu abandonar seus bens e família do que sujeitar-se ao partido contrário a liberdade da pátria”. Indo para a pág 169, Renato Neves Marques informa: “No dia 30 de abril de 1823, chegou a Parnaíba o coronel Simplício Dias da Silva, com seus amigos que estavam refugiados no Ceará”. Um pouco mais adiante, o autor dá conta de que “Nesse dia os moradores que estavam fora da Vila, expulsos por Fidié, começaram a retornar às suas casas”. Pulando para as páginas 174 e 175, oficio da Câmara para o Rei, datado de 29 de junho de 1823, referindo-se à chegada de uma tropa do Ceará comandada pelo tenente-coronel José Narciso Xavier Torres, informa: “Este benemérito eis que entra na Vila faz chamar por Proclamação todo o povo foragido dela”. Voltando para a página 163, o autor dá conta de que mesmo depois desse chamamento “grande parte da população continuou fora da Vila”. Prosseguindo, acrescentei: “Conforme os textos acima transcritos, ficou claro que nem o próprio Simplício Dias da Silva zelou por sua família. O teor dos textos mostram que os parnaibanos fugiram... Foram expulsos por Fidié e só começaram a retornar às suas casas a 30-04-1823. Os textos mostram também que em 29-06-1823, muitos parnaibanos ainda se encontravam foragidos. Fazendo-se as contas, verifica-se que mais de seis meses depois da ocupação da vila pelo comandante português e mais de três meses e meio após a Batalha do Jenipapo, parte dos bravos parnaibanos ainda se encontram em seus esconderijos nas ilhas do delta e no matagal de Amarração. Durante esse longo período, não há dúvida de que as mulheres tiveram a mesma sorte da família de Simplício Dias da Silva – foram abandonados pelos pais, maridos e irmãos”. 

Na Nota 25b, transcrevi um texto do escritor Norbelino Lira de Carvalho: “Quando Fidié entrou em Parnaíba (18/12/1822), encontrou a cidade desabitada, e o covarde João Cândido de Deus e Silva convenceu o coronel Simplício Dias da Silva a não combater Fidié, preferindo recuar. Os covardes parnaibanos, segundo Né de Sousa, refugiaram-se em Granja, no Ceará, deixando a população de Parnaíba a deus-dará. / Os soldados de Fidié fizeram a festa, estupraram mulheres, incendiaram grande parte do patrimônio de Simplício Dias da Silva, até então o homem mais rico do Nordeste”. 

Nota: Os abusos cometidos pelos vencedores retratam um dos capítulos da história das guerras que infelizmente nunca mudou, acontece desde as guerras tribais. 

“A 18 de dezembro de 1822, Fidié entrou triunfalmente em Parnaíba, onde foi recebido com festa pelo funcionalismo público, por populares e pela tripulação do Brigue Infante Dom Miguel, que a pedido do Piauí, fora enviado pelo governo do Maranhão. E sem que fosse necessário disparar um único tiro, obrigou os parnaibanos a renovar o juramento de fidelidade ao Rei Dom João VI e à Constituição Portuguesa. A seguir, assistiu a um Tem-Deum na Igreja Matriz de Nossa Senhora das Graças e determinou que se realizassem manifestações públicas de regozijo. E foram muitas, a começar por repiques de sinos, descargas de fuzilaria, que foram repetidas pelas bocas de fogo do brigue, foguetes, vivas à união do Brasil com Portugal e três noites de luminárias”. 

Na Nota nº 26, escrevi: “O ato de 18 de dezembro anulou o feito heroico do 19 de Outubro. E, conforme ofício de 29 de junho de 1823, da Câmara para o Rei, somente naquela data (29-06-1823), o Senado da Câmara da Vila de Parnaíba “fez congregar na Igreja Matriz o Reverendo Pároco, e os mais Clero, Nobreza e Povo, e ai com a maior pompa e aparato sobre o Livro dos Santos Evangelhos presta o Sagrado Juramento da Independência do Brasil, Fidelidade a Vossa Majestade, e Obediência à Nossa Sagrada Religião e às Cortes do Brasil”. (Pelo teor deste trecho do oficio, ficou claro que Parnaíba foi a última vila do Piauí a aderir oficialmente a Independência””. (O referido ofício encontra-se integralmente transcrito no livro “19 de Outubro – O Dia do Piauí”, págs. 174 a 175, de Renato Neves Marques). 

“Salema Freire Garção o comandante do Brigue Infante Dom Miguel que havia se antecipado a Fidié na ocupação da Vila executou uma verdadeira operação de rapinagem nas residências e demais imóveis dos separatistas. Seus soldados fizeram um verdadeiro arrastão. Roubaram várias peças de valor dos Dias da Silva, as alfaias, a ourama e as esmolas das igrejas de Nossa Senhora das Graças e de Nossa Senhora do Rosário, o cofre dos órfãos, as rendas públicas e os livros da Câmara”. 

“Fidié e Freire Garção mandaram queimar as embarcações de Simplício Dias da Silva que se encontram atracadas no porto, e as demais, dias depois, por determinação dos dois invasores, foram postas à pique”. 

“Os familiares do magnata parnaibano, que haviam mandado enterrar as jóias, as barras de ouro, a prataria e outros objetos de valor, sofreram constrangimentos e ameaças de degolamento por golpe de espada, e muita pressão para que revelassem o esconderijo daquela pequena fortuna”. 

REBATENDO AS CRÍTICAS 

1) Em determinado trecho do artigo: CRÍTICAS AO LIVRO A EPOPEIA DO JENIPAPO, Renato Neves informa: “Adrião Neto reproduz trecho do meu artigo “Dia do Piauí – Um Convite para Debate” (não teve a coragem de aceitar por alegar não ser Parnaíba campo neutro). 

Ao dizer “não teve a coragem de aceitar”, o Sr. Renato Neves faltou com a verdade, vez que, em resposta a seu convite, dada no artigo: TEMPESTADE EM COPO D’ÁGUA, publicado no Portal Delta, respondi o seguinte: “Finalizando o artigo no qual tenta distorcer as minhas palavras e defende apaixonadamente o “19 de Outubro” como o “Dia do Piauí”, o historiador parnaibano me convida “para um debate sobre o assunto, principalmente sobre o movimento de Independência no Piauí, com a presença da Academia Parnaibana de Letras, do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Parnaíba, professores e alunos de História da UESPI (Campus de Parnaíba) e de escolas particulares e públicas, tendo como convidado especial o povo em geral”. 

”Pelo teor do convite, dirigido apenas e tão somente a mim, excluindo os historiadores, as instituições culturais e de ensino, os professores, os alunos e povo em geral de Oeiras e Campo Maior, mais uma vez fica patenteado que o historiador parnaibano está sendo tendencioso e parcial”. 

”Concluindo este artigo, coloco-me à disposição para um debate democrático, incluindo os oeirenses, os campomaiorenses e suas instituições culturais e de ensino, e que o debate seja realizado em campo neutro, de preferência em Teresina”. 

“E, como se tratam das três principais datas do Piauí, sugiro que o debate envolva os principais segmentos culturais e educacionais do Estado, especialmente as academias de letras, os institutos históricos, a UBE/PI e as Universidades: Estadual e Federal. E que após o debate, seja feita uma campanha em nível estadual, para que o povo participe de um plebiscito e defina definitivamente qual das três datas deva ser escolhida como o DIA DO PIAUÍ e passe a figurar na Bandeira e no Brasão das Armas do Estado”. 

2) Ao reclamar da transcrição de um de seus textos, à título de epígrafe, onde alega que houve manipulação em interesse próprio, Renato Neves Marques, tenta passar para a opinião pública que, pela falta de um parágrafo, não pertencente à mancha gráfica transcrita, seu raciocínio mudou de sentido. Isso não é verdade. A única verdade à cerca do texto em foco é o fato de o autor ter sugerido que a proclamação de Parnaíba “foi uma bravata”. 

3) Em uma das suas críticas Renato Neves Marques diz: “Adrião Neto chama a saída dos patriotas de ‘fuga dos heróis parnaibanos’” e, querendo me colocar contra os parnaibanos, acrescenta: “O uso dessa expressão pelo autor subtende-se que esteja a dizer que os parnaibanos foram covardes”. No entanto, em seu livro: “19 de Outubro – O Dia do Piauí”, pág. 169, Reneto Neves Marques afirma: “No dia 30 de abril de 1823, chegou a Parnaíba o coronel Simplício Dias da Silva, com seus amigos que estavam REFUGIADOS no Ceará”. Pelo que entendemos quem retorna de um lugar onde se encontrava REFUGIADO é porque foi para lá nessa condição. E REFUGIADO é aquele que FUGIU. Agora pergunto: “Será se o Sr. Renato Neves Marques quis dizer que Simplício Dias da Silva era covarde?” ou “Será se para ele não se aplica a mesma interpretação? 

4) Em 2005, quando defendia a inclusão da data histórica da Batalha do Jenipapo na Bandeira do Piauí, recebi muitas críticas por parte de alguns parnaibanos, tendo inclusive quem afirmasse que não conhecia bandeira com data; que a Bandeira do Piauí seria a única bandeira do mundo com data e que uma data na bandeira representava um prazo de validade. 

Provando que os críticos estavam enganados e que não conheciam nem a Bandeira de Parnaíba, dentre as outras notas inseridas no nosso livro publiquei a Nota nº 40: “Além da Bandeira do Piauí, há pelo menos mais duas contendo data: a do Estado Americano de DELAWARE (State of Delaware). Nela encontra-se estampada a data em que aquele Estado passou a integrar a Confederação dos Estados Unidos da América: DECEMBER 7, 1787. A outra, abaixo estampada, é a da cidade de PARNAÍBA (PI) , que contém as datas: 1762 (criação da Vila de São João da Parnaíba), 1844 (elevação à categoria de cidade) e 1963 (instituição do Brasão). 

5) Em seu artigo CRÍTICAS AO LIVRO A EPOPEIA DO JENIPAPO, queixando-se contra a aprovação da lei que inseriu a data histórica da Batalha do Jenipapo na Bandeira do Piauí, o Sr. Renato Marques numa verdadeira demonstração de que tem facilidade para fazer inimigos ofende os deputados parnaibanos, acusando-os de TRAIÇÃO. 

Vejamos a ofensa que ele escreveu: “... foi aprovada a inclusão da data na Bandeira do Estado através da Lei nº 5.507, de 17 de novembro de 2005. Lamentavelmente contribuiu para a aprovação os votos dos dois únicos deputados parnaibanos, que além de não defenderem sua terra cometeram traição aprovando tamanho absurdo.” 

6) Dias depois de publicar o seu artigo no Portal Delta, Renato Neves Marques manda uma nota para o Portal 180 Graus, informando: “Senhor Jornalista, Já está no site www.portaldelta.com.br o meu artigo "Crítica ao livro A Epopeia do Jenipapo,de autoria do Sr. Adrião Neto, em que apresento erros cometidos pelo autor e que, além de colocar em situação delicada a minha credibilidade, manipulou fatos históricos em interesse próprio com relação ao que escrevi no meu livro 19 de Outubro – O Dia do Piauí. 

Sobre estas acusações tenho as seguintes respostas: 

6.1) Em relação à credibilidade – Ele próprio foi quem colocou a sua credibilidade em “situação delicada”. Vejamos a constatação feita na nota 28, inserida na página 110 do nosso livro A EPOPEIA DO JENIPAPO: “No afã de minimizar a Batalha do Jenipapo e superdimensionar outros conflitos em prol da Independência, o historiador parnaibano Renato Neves Marques, cometendo atentado contra a sua própria credibilidade exagera em número de baixas verificadas na escaramuça da Lagoa do Jacaré. Enquanto outros historiadores falam em insignificante perda humana, ele afirma e reafirma: “... antes da Batalha do Jenipapo aconteceu a Batalha da Lagoa do Jacaré, na atual Piracuruca, o primeiro confronto entre brasileiros e Fidié, morrendo 80 soldados de ambos os lados” (In: “Defendendo o Dia do Piauí – Um Convite para Debate”, Portal Delta, 27-01-2005 – 13:45); “Com relação a batalha da Lagoa do Jacaré, foi a primeira em solo piauiense antes do Jenipapo, apenas com oitenta mortos e não tão sangrenta como a de Campo Maior” (E-mail do próprio Renato Neves Marques IP:201.9.215.145 – 09-06-2005 às 18:38 – rnmarks@uol.com.br, endereçado para o Portal Delta). Prosseguindo a nota, acrescentei: – “A título de esclarecimento informamos que 80 era o número de combatentes de Fidié envolvidos no conflito contra 60 independentes e que o número de mortos não chegou a meia dúzia”. 

6.1.1) Qualquer leigo em História do Piauí e até mesmo em interpretação de texto, que ler os artigos de Renato Neves Marques, por menos atencioso que seja, percebe que o autor escreve com bairrismo, com paixão, com ufanismo, com tendencialismo e com parcialidade – atributos que por si só minam a sua credibilidade. 

Vejamos a constatação: No artigo “Defendendo o Dia do Piauí – Um Convite para Debate”, se pronunciando contrariamente sobre a nossa sugestão de homenagear o “13 DE MARÇO DE 1823”, na Bandeira do Estado, o historiador parnaibano tece crítica dizendo ser “ridícula essa proposta de colocar a data abaixo da estrela que se encontra estampada na bandeira do Piauí” e a seguir defende a mesma proposta para Parnaíba, dizendo “Neste caso deveria ser colocado é a data 19 de Outubro de 1822, reconhecida oficialmente por lei como “O DIA DO PIAUÍ”, data magna da nossa história piauiense”. 

Será se sua proposta também não é ridícula? Ou é apenas a constatação de que o autor age com bairrismo, paixão, ufanismo, tendencialismo e parcialidade? 

6.1.2) Criticando a nossa proposta de mudança da letra do Hino do Piauí, Renato Marques posiciona-se favorável aos exterminadores de índios, exceto ao tenente-coronel João do Rego Castelo Branco, a quem, com outras palavras, qualifica como o mais sanguinário e o maior de todos, e achando ser uma desonra para a terra-berço tê-lo como filho atribui-lhe ser campo-maiorense, quando na verdade ele é parnaibano. 

6.2) Sobre os supostos “erros cometidos” – Trata-se da verdade histórica que ele quer omitir. 

6.3) Sobre a “manipulação de fatos históricos em interesse próprio” – Ele refere-se à transcrição de textos escritos por ele próprio, onde chamo à atenção para algumas verdades históricas que ele tenta maquiar. 

Adrião Neto – Dicionarista biográfico, historiador, poeta e romancista. Autor de várias obras e da idéia da inclusão da data histórica da Batalha do Jenipapo (13 de março de 1823) na Bandeira do Estado do Piauí – Sugestão devidamente viabilizada pela Assembléia Legislativa (Lei nº 5.507, de 17 de novembro de 2005, de iniciativa do Deputado Homero Castelo Branco).

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