sábado, 14 de abril de 2012

O universo poético de Luiz Fernandes



Todos nós sabemos que a poesia tem um valor que a realidade mais rala e simplória da vida não alcança. Mas ninguém contestará que Castro Alves, Carlos Drummond de Andrade e Cecília Meireles, por exemplo, não engrandeceram o mundo dos homens, tornando-os mais humanos e mais sábios no sentido em que “todos os poetas” podem ser chamados de criadores do espírito pela palavra e responsáveis pela humanização do homem. Assim: Luiz Fernandes da Silva – ele e sua poesia: “Tuas palavras são novas dimensões nos meus sentidos, onde pousam nas malhas do remorso.” Como são sonorosos e belos estes versos!

Sem deixar de ser um homem fincado na realidade da vida, meu amigo Luiz Fernandes da Silva – nome simples para um poeta simples, simples e humilde – abebera-se da realidade da vida e se alça aos altos sonhos de poeta que ama e trabalha, sente, plurifica e humaniza, generoso em suas ações, cordial em seus cumprimentos, sincero em suas palavras e atos.

Como jornalista, mantém há muito custo de sua paciência e carência de bens materiais, o jornal alternativo “Correio da Poesia”, publicando gregos e baianos, sulistas e nortistas, dando asas aos que escrevem em verso e prosa, divulgando cultura. Além disto, ele está presente nos movimentos culturais de sua terra, a Paraíba, dando força aos que iniciam e aos já iniciados. 

Pois é desse poeta da Paraíba que recebo “O Universo Poético”, livro de cerca de 200 páginas, uma espécie de testamento de toda a sua vida no terreno da emoção e do pensamento filosófico, que sempre conduz toda boa poesia. E a sua é da melhor, garanto. Publicado na Província, pela Editora Idéia, 2010, organizado pelos professores Marinalva Freire da Silva e Rafael Francisco Braz, contando com palavras fortes de críticos como Teresinka Pereira, Sérgio Galo, Edilberto Coutinho e Virgínius da Gama Melo, o poeta logo no primeiro poema que a dupla de especialistas selecionou, levanta sua segunda cosmogonia no “Canto da Gaivota”:

“O canto da gaivota
rasgou a paisagem,
abriu o caminho
com seu vôo
elevou sua sonata
num gesto estilístico
e sumiuuuuuuuuuuu....”.

Grande lírico, é preciso que o louvemos diante dos que ainda não conhecem e diante dos invejosos de sua simplesa e de sua sabença, de seu poder de convencer pela poesia, essa deusa que todos querem mas que poucos merecem. É simplesmente formidável o seu lirismo em “Afago”, pequena joia que oferece a Rosa de Lima:

“Deixa eu acariciar
a tua consciência
esculpir meu sonho
no teu rosto,
encontrar o meu universo
no teu corpo
e depois traçar
o mormaço do meu destino.”

Acompanhemos a “Grande tragédia” de Van Gogh, na sua visão de sutis comparações, que se afastam e se abraçam:

“Na parada
o pálido perfil de Van Gogh
informa o labirinto
com a paisagem acesa
escrevendo suas angústias.

 Girassóis invadindo no meu
íntimo e tentando
encontrar o amor
que o tempo não trouxe.”

Por último, uma característica que não gostaria de deixar escapar: é que o poeta Luiz Fernandes da Silva não tem muito interesse no verso longo, prefere também não medir seus versos nas medidas tradicionais, corta-os no estilo próprio enganosamente de crônica. Mas carregados de imagens, metáforas e outras imagens singulares que fazem do poeta Luiz o poeta Luiz Fernandes da Silva idêntico a ele mesmo. E eu já disse noutros lugares que nenhum elogio á maior a um poeta do que dizer que ele é único, parece-se com ele próprio e mais ninguém, em língua, voz e sensibilidade.

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*Francisco Miguel de Moura, autor deste artigo, escritor com mais de 30 obras publicadas.

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