sábado, 14 de abril de 2012

Monólogo, poema de Leonardo Castello Branco

No poema Monólogo Leonardo mostra a precipitação dos portugueses em seus arroubos colonizadores:

“Oh! Sete de setembro! Fausto dia!
De glória e de prazer ao brasileiro
Que preza a Pátria, o dever, e a glória!...
Praza aos céus que um sol puro te alumie...
Por evos tantos, quanto dure o mundo!...

Foi neste dia, dia venturoso,
Que o Brasileiro sacudiu intrépido
Da Metrópole o jugo, que tiranos,
Qual um Borges Carneiro, e outros monstros.
Tornar queiram mais pesado e duro!

Primeiro como irmão, nos convidaram
Para com eles, em comum partilha,
Liberdade, e igualdade desfrutarmos.
Ah! Se cumprissem tão cordial promessa,
Portugal e Brasil ainda hoje unidos
Num só querer, qual dois irmãos, que se amam,
Separados embora em seus governos,
Paz e riquezas mil desfrutariam
Respeito impondo às mais nações do globo!

Mas a perfídia, de uns, apesar d’outros
De melhor fé, a quem bendigo e louvo,
Exasperou a todos os brasileiros
Vendo empregar-se, a fim de subjugá-los,
A força bruta de cruéis falanges!

Foi então, que uníssonos clamaram
Com uma voz de trovão, repercutida
Desde as margem do Prata às do Amazonas:
Anátema aos tiranos! Guerra! Guerra!
Com outra força a força rebatamos!
Eis que correm às armas: num momento
Sudem da terra, como por encanto,
Armadas hostes, que por toda parte
O pendão brasileiro erguendo às nuvens,
O patriótico, atrevido hino,
De entusiasmo quase delirantes,
Entoam, gritam - liberdade ou morte!

Não como menos valor, os meus contrários,
Pois de um povo de heróis descendem ambos,
Em ter ou não razão só diferindo,
Com fúria atacam, com valor resistem!

Disputa-se o terreno palmo a palmo:
De Mavorte os trovões no ar ribombam,
E seus tórridos sons, transpondo os vales,
Nas montanhas ecoam, e, entretanto,
Que o fulminante raio despedaça
O infeliz, a quem dirige o golpe!

O seu fumo espesso o céu enluta:
O sol se esconde e até recolhe os raios;
Dir-se-ia que este astro a face oculta
Como de penas e de mágoas cheio!
A natureza foge horrorizada,
Surdem do abismo em alvoroço as fúrias.
Sopram a raiva, incitam à carnagem,
E mais e mais em combater se obstinam!

Por seu os guerreiros ora avançam,
Ora recuam, qual as forças dubias,
Falaz deidade, que Belona chamam.
Mas a razão, que é deusa poderosa,
Dos brasileiros o partido toma;
produz nos lusos peitos o remorso,
Que o valor seu lhes amortece e abate
Seus braços, desde então, o vigor perdem,
Languidez e torpor neles se espalham
Vencer desejam, mas vencer não podem,
E da vitória a palma lhe escapa.
E afinal de três séculos o domínio
Perdido viram em bem poucos meses.

Exulta o brasileiro, e entre mil vivas,
A liberdade, e a Independência aclama!
Ergue-se então o Império, e qual gigante
Firma seus pés do amazonas ao Prata!
Independência, Liberdade amadas,
Eu te saúdo nos transportes d’alma!
Praza aos céus que um sol puro te alumie
Por evos tantos, quantos dure o mundo!”9

Clodoaldo Freitas  destaca que “esta poesia patriótica destoa completamente da monotonia tão comum nos versos de Leonardo. A alma do patriota vibrou notas ardentes, cantando as glórias da pátria.”10


_______________

9 Monólogo, poema publicado no semanário Eco Liberal, nº 55, de 3 de outubro de 1850, de propriedade de Tibério César Burlamaqui, e recitado pelo jovem José Joaquim Avelino, em 7 de setembro do mesmo ano, em teatro particular em Oeiras.

10 Freitas, Clodoado. Biografia e crítica. Pesquisa e organização de Teresinha Queiroz. - Imperatriz, Ma. 2010, páginas 92 e 93.

Nenhum comentário: