quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Estado do Gurgueia: Amor de Perdição!

Joca Oeiras, em atividade jornalística.

Joca Oeiras

Embora absolutamente desastrado no seu conteúdo, o texto do jornalista Paulo Chaves, postado no blog do Kenard Kruel e intitulado "Gurgueia é cidadania”, é preciso reconhecer, obedece a um planejamento estratégico até bastante explícito para os que conseguem ler nas entrelinhas. Para ele o importante é passar a ideia segundo a qual a imensa maioria dos piauienses, do norte e do sul do Estado, só aguarda a convocação do plebiscito para sufragar um sonoro sim à divisão do Piauí. Tanto isto seria verdade que os defensores na unidade geopolítica dessa Terra Querida movem-se apenas pela “vontade de aparecer, como é do feito de todo político ordinário, que pega carona até em ônibus reconhecidamente errado. O importante é estar na mídia”. Esta postura do articulista não é nova no movimento separatista. Quanto tomei conhecimento, oito anos atrás, da proposta dos divisionistas este já era o discurso que faziam: são favas contadas, a divisão é inevitável! Como não passava de uma bravata, pois a tese separatista nunca empolgou o povão nem mesmo no Gurguéia, arrefeceram para não ficar, ainda mais, desmoralizados. Outro indício claro deste seu propósito é o fato de ele querer passar pela nossa goela que a “ínfima minoria” que defende a unidade criou um movimento contrário ao Gurguéia quando, na realidade, exatamente o oposto é o que ocorre: quem criou um movimento foram os inventores da malsinada desunião. Quanto a nós, apenas defendemos o status quo geo, histórica e politicamente formatado.

O texto, no entanto, em nada ajuda o seu autor nas suas intenções. Parece, até, a história do aprendiz de feiticeiro. No segundo parágrafo pode-se ler que:

“Por seu tamanho, particularidades e atraso estrutural visível, o Sul do Piauí, rico e futurista, vive a maldita condição de ônus. É praticamente um aleijão. Mas vem de lá o grosso do “pouco” que se produz e justifica o PIB estadual. Produtos do agronegócio (soja, mel, caju e derivados), industrial (cimento), energia elétrica e em breve do boom da mineração. Se fosse possível que os recursos tributários resultantes dessa atividade produtiva ficassem por lá o panorama seria outro. Ter-se-ia estradas, ou as estradas que se reclama, água, menos trauma nas estiagens, energia, produção agrícola sustentável, educação e saúde em sintonia com a necessidade das pessoas, se teria mais justiça social e menos vergonha desse desastre de hoje. Sem esses recursos, no entanto, o Piauí ou o Norte, estaria perdido”. Paulo Chaves.

Será que esse jornalista já se deu conta de que o que afirmou acima, se fosse verdade, é claro, seria um poderosíssimo argumento CONTRA a criação do Estado do Gurguéia para a absoluta maioria dos habitantes (e eleitores) desta Terra Querida? Quem, em sã consciência, sabendo que perder o Gurguéia (e seus recursos, naturalmente) seria a perdição do Piauí (ou do “Norte”), votaria na divisão? A tese do imperialismo norte-piauiense não se sustenta, isto é, não é verdade que o norte rico explora o sul oprimido. Não consigo entender como chegou a esta conclusão tão contrária à sua tese segundo a qual a divisão é uma aspiração unânime dos piauienses. Meteu os pés pelas mãos o nosso arauto do segregacionismo.

Se isso não bastasse, o restante do texto vai da demagogia mais barata...

“...irmãos descuidados das providências do poder público ainda terão de sofrer esse abandono. Quantas crianças ainda terão de viver imundas nas suas casinhas de taipa, comendo o cuscus invariável de todo o sempre, sobrevivendo com os tostões salvadores de uma bolsa humilhante, mas por hora o único consolo? E quantos homens ainda não perderão as esperanças num amanhã diferente?”

a afirmações destituídas do menor resquício ou intenção de prova

“benefícios inevitáveis que hão de vir com o Gurgueia” ou

"Somente os exemplos dos estados onde isso ocorreu, a transformação de uma estrutura territorial e administrativa em duas, seria o bastante para a unidade em torno da tese que promete a redenção de dois, contra a insuportável pobreza de um.

Quanto aos benefícios não diz quais seriam nem porque seriam inevitáveis. Quanto aos exemplos dos outros Estados, também não aponta, sequer, quais são eles.

Às vezes um mínimo de auto-crítica é necessária até para tentar emplacar uma tese grotesca e insustentável como esta, visando a desagregação do Piauí.

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