segunda-feira, 20 de junho de 2011

São Bento do Sul e Teresina

Cineas Santos, poeta irmão das letras e das artes.
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Roseana Murray

Só hoje consigo escrever pois não tive nem um minuto livre nos dias de viagem.
Cheguei a Joinville no dia 9 e Silvane, diretora da E. M Herman Müller e amiga querida, já estava me esperando. Subimos a serra com o escritor Carlos Henrique Schroeder que escreveu o livro de contos As certezas e as Palavras, (Editora da Casa e Prêmio Clarice Lispector 2010). Chegamos no belíssimo Hotel Stelter em São Bento do Sul e o frio era tão intenso que o hotel parecia uma alucinação. O prédio é de 1906, completamente conservado e ainda bem que o quarto tinha calefação! Nosso encontro pela manhã foi no Clube de Tiro, um lugar bastante estranho para um encontro de poesia, mas como o auditório era grande, imagino que foi este o motivo. Carlos estava comigo no palco e me deixou muito relaxada para fazer brincadeiras e dinâmicas com 350 crianças ao mesmo tempo. À tarde repetimos a dose, mas antes fui com Silvane e a Salete, a Secretária de Educação comprar um casaco de verdade para que eu pudesse aguentar o frio. A cidade é linda demais, pequenininha. No final do evento, quando fomos tomar um café, Carlos me deu uma notícia terrível: o aeroporto de Joinville estava fechado! Mas não desistí de ter esperanças de chegar ao meu destino, Teresina e fui dormir em Joinville, perto do aeroporto, pois meu voo era muito cedo. Milagres existem e o aeroporto abriu.
A viagem para Teresina foi dura, pois o avião empacou em Brasília. O aeroporto estava um caos, a sala de embarque era um formigueiro desesperado e meu avião saiu com 3 horas de atraso. Ao todo levei doze horas e meia para chegar de Joinville a Teresina.
Socorro, que foi meu anjo da guarda, me esperava no aeroporto. Fazia muito calor e eu carregando um casacão da Sibéria!
No dia seguinte Socorro me buscou bem cedinho e logo ao chegar no lugar do encontro, um senhor me entregou um livro enquanto muitas professoras faziam fotos comigo. Abri o livro ao acaso e a poesia de Cineas Santos, belíssima, me surpreendeu:

COCHICHOS

- De que vive o beija-flor?
- De beijar, respinde a flor.
- Isso não tem cabimento,
protesta, irritado, o vento.
- Isso não é uma profissão,
murmura, baixinho, o chão.
E a sorrir, explica a flor:
- Quem beija vive de amor.

(Cineas Santos, in Ciranda Desafinada, ed. Escala Educacional)

Fui recebida pelo Prof. Wellington e pelo premiadíssimo poeta Salgado Maranhão. Cineas e Salgado Maranhão ficaram comigo no palco e nosso bate papo fluiu com a participação de muita gente e foi muito bom. À noite fui ao encerramento do Salipi, na praça e o conjunto Valor de Pi me cativou. Dancei na praça! Amo o nordeste com todas as letras e nunca vi povo tão amoroso e festeiro.
No dia seguinte passei todo o tempo na Escola Sagrado Coração de Jesus. O prédio é belíssimo, com mais de cem anos. Autografei uns 500 livros. As crianças, maravilhosas, apresentaram meus poemas, declamados e cantados. Foi tudo muito bonito e emocionante. Outra Socorro, da Casa Dom Barreto, com um projeto que se chama Fábrica de Gente, foi ao meu encontro. E Caio, leitor dos meus poemas, foi também ao meu encontro com seu livro de poemas Sobras do Dia:

uma ferida
vinho para a noite
- nasce um poeta -

E depois me levou sua filha para que eu a conhecesse. Foram tantas manifestações de carinho que nem sei como agradecer. A Irmã Teresinha foi comigo escolher uma rede com toda a paciência do mundo, ela exala amor. A rede ficou belíssima na nossa varanda.
Agora cheguei em casa e volto ao meu cotidiano, minhas pequenas tarefas: colocar frutas nas árvores, água para os passarinhos, cozinhar, me dissolver na espuma do mar.

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