sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Chagas Rodrigues (entrevista ao Inovação)

Inovação Entrevista:
Deputado Francisco das Chagas Caldas Rodrigues.

Chagas Rodrigues – Nasceu em Parnaíba, Estado do Piauí. Formou-se em Direito pela Universidade de São Paulo. O povo piauiense, através de eleições livres e direta, elegeu-o 5 (cinco) vezes deputado federal e uma de governador do Estado do Piauí. O movimento de 64 cassou seu mandato e seus direitos políticos sem apresentar publicamente as razões desse ato, há dez anos passados.

A equipe do Inovação sabendo que este homem público após dez anos voltou de Brasília para sua terra natal, reuniu-se e foi entrevistá-lo, principalmente, para que a normalista e professora pobre desta cidade, que estuda e que estudou na Escola Normal gratuita devido ato de Chagas Rodrigues, que os estudantes humildes do Colégio Estadual Lima Rebelo possam ouvir a voz do homem que estadualizou seu Colégio, que o estudante Universitário do CAMPUS REIS VELOSO sentia a personalidade, a formação política e a coerência de ação em favor do seu povo, do deputado que através de emenda de sua autoria, hoje, a Faculdade de Administração pertence a Universidade do Piauí e está fixada em Parnaíba (isto é importante), que a juventude desta cidade inicie uma longa convivência com um líder que sempre se identificou com os problemas e os sofrimentos do seu povo e não com seus interesses pessoais.
.
INOVAÇÃO – Como político e como homem, quem é Chagas Rodrigues?
Chagas Rodrigues – É um político que foi político desde o Ginásio; foi orador da turma. Foi político na Faculdade de Direito de São Paulo. Não quis nunca ser comerciante. Meu pai é comerciante próspero aqui. Não quis nunca ser industrial. Meu sogro me convidou pra ser industrial com ele numa grande indústria da Guanabara. Fechei meu escritório de advocacia pra ser só político. Passei 20 anos só na política. Sai da política endividado. Cassado 10 anos. E agora podendo, não exijo nada do povo, porque o povo que elege alguém 5 (cinco) vezes deputado federal e ainda governador, só merece agradecimento. Então, fui um político que procurou ser coerente a vida toda.

INOVAÇÃO – Você passou dez anos afastado do Piauí. O que viu...
Chagas Rodrigues – Eu encontrei, por exemplo, um gesto assim de muita cordialidade para comigo. Encontrei uma luta terrível, tremenda que houve aqui, na área do Senado. Uma Arena contra outra Arena; uma dissidência contra a direção do partido. Eu fui bem recebido por todos. Os jornais têm suas várias tendências, boa vontade. Elementos do partido, todos me receberam muito bem. Então, isso me gratifica muito.

INOVAÇÃO – E o atual governador?
Chagas Rodrigues – O atual governador trabalhou conosco, na nossa administração. Foi me visitar. E eu vim aqui... Minha idéia não é combater ninguém. Não é atacar ninguém. Nós não temos luta contra pessoas. Nós defendemos idéias. Nós combatemos idéias.

INOVAÇÃO – E o desenvolvimento?
Chagas Rodrigues – Houve progresso no Piauí, evidente que houve. Mas, o grande problema do país... Sob certos aspectos, houve melhoria. Sob certos aspectos, não houve. Por exemplo, a Estrada de Ferro desaparecendo. Eu venho por terra. Sempre cheguei aqui de avião. Tomava avião em Teresina e baixava aqui. Então, a gente nota que o progresso não foi totalmente completo. Agora eu vejo, noto o Piauí na área da iniciativa privada, na área do Governo, aqui mesmo, vocês tão vendo, a Universidade está se ampliando. Isto é progresso. Mas, de um modo geral – esse é o grande problema – nós temos que lutar no Brasil contra as disparidades, contra as grandes diferenças. Então, eu noto que o nosso progresso não acompanhou o progresso das grandes Regiões. Ora, a SUDENE já surgiu com essa idéia. Então, essas regiões subdesenvolvidas – Norte, Nordeste, precisam se aproximar das desenvolvidas. Isso não houve. As regiões desenvolvidas continuam se desenvolvendo a um ritmo maior. Do jeito que as coisas vão, eu acho que só daqui a uns 400 anos (...) Nós temo que lutar contra as disparidades regionais. Nós temos que lutar contra as disparidades de rendas. No Brasil, nós não temos só regiões altamente desenvolvidas, sobretudo no interior. Teresina, Parnaíba, nós temos alguma coisa, mas em muitas áreas do interior quase... Depois da concentração. Nas estatísticas, o número dos milionários, dos muito ricos, não está se reduzindo e a participação deles na renda nacional aumentando, enquanto a participação dos pobres na renda nacional está caindo.

INOVAÇÃO – Os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.
Chagas Rodrigues – É a velha história. Eu me lembro de um discurso do Eduardo Gomes, naquele tempo. Ele dizia: “é preciso que os ricos fiquem menos ricos e os pobres menos pobres.”

INOVAÇÃO – O presidente Geisel disse pela televisão q eu o povo ta comprando eletros-domésticos, aparelhos de TV...
Chagas Rodrigues – O presidente Médici disse: “o país está rico, mas o povo está pobre.” E então nós notamos ainda. Então, contra esta concentração, nós temos que lutar. Nós temos que lutar contra essa concentração de progresso no sentido de reduzir as dis-pa-ri-da-des.

INOVAÇÃO – O que o senhor achar desse novo presidente eleito?
Chagas Rodrigues – Olha, eu vou citar uma frase do presidente Ulisses Guimarães. Eu estou fora da política há dez anos. O presidente Ulisses Guimarães é o presidente do partido. Ele disse: “Se me perguntarem sobre o presidente da França, o primeiro-ministro do Canadá, eu sei dizer muito bem quais são as suas idéias, o seu partido, o seu programa. Mas, sobre o presidente Figueiredo, eu não conheço ainda, porque ele nunca foi político e está afastado das Forças Armadas, da tropa.” Ele foi chefe da Casa Militar, depois foi chefe do SNI.
Uma das virtudes dos Serviços de Inteligência em todos os países do mundo, são os calados. Quando se quer uma pessoa pra ser chefe de Serviço de Inteligência, tem que falar pouco, NE? (...) Agora, há as declarações, os discursos que ele está fazendo, a candidatura do general Euler fez também com que ele fizesse muitas declarações. Ele fala em abertura. Fala e novas reformas democráticas. Diante desses compromissos, é natural que o povo espere novas providências.

INOVAÇÃO – O senhor acredita?
Chagas Rodrigues – Eu, em princípio, gosto de acreditar. Eu sou da velha Escola do Direito Penal. Todo homem é inocente, até provem o contrário.

INOVAÇÃO – Deputado, e a ideologia, a sua formação?
Chagas Rodrigues – Eu sempre fui liberal, democrata. Nós lutávamos contra a Ditadura. Achávamos que a Ditadura tinha pontos positivos, mas nós entendíamos que o progresso social do país podia e se devia fazer com a participação do povo. E então entendíamos que a primeira coisa era lutar pela restauração da democracia. Quando nós tivemos cisão dentro da UND, a UDN já começava, naquela época, a parecer uma Arena de hoje – que a Arena surgiu também como uma coligação, como o MDB. Então, aconteceu justamente isso, a UDN lutava pela restauração da Democracia. A UDN depois se esvaziou, se esgotou. Ela não levantava mais aquela bandeira de reivindicações populares, bandeira nacionalista. Então, naquela época surgiu a Frente. Eu era presidente da Frente Parlamentar Nacionalista. Nós começamos a ter necessidade e os partidos não atendiam a isso. Todos os grandes líderes da UDN foram deixando o partido. A UDN perdeu a sua razão de ser. Depois, ela passou a ser um partido conservador e até mesmo aquele espírito liberal dos udenistas foi muito arranhado. Agora, com o movimento de 64, que alguns aceitaram o movimento partindo de pressupostos de que nós poderíamos conquistar, de que nós poderíamos questionar (...) mas, dentro da própria história, dentro do próprio Movimento Revolucionário. O Movimento Revolucionário, há duas fazes diferentes, que são a que vai de 64 até Médici... Alguns podem ver: 64, o Movimento. Alguns, bem intencionados, alguns, mal intencionados, alguns que se lançavam porque não tinham mais possibilidade alguma de chegar ao poder senão através da força, da violência. Outros, que não participavam do Movimento, mas aderiram mais em seguida. Outros bem intencionados, que logo foram se afastando do Movimento. Então, o certo é que chegamos depois ao AI-2, que já causou muitos protestos. Mas, o AI-2 baixado pelo presidente Castelo Branco, ele era um daqueles que afirmava seus compromissos com a Democracia – procurou deixar o país, até certo modo, reconstitucionalizado, e aí nos caminhamos para a Constituição de 1967.

INOVAÇÃO – Deputado, nós perguntamos qual a formação ideológica do senhor.
Chagas Rodrigues – Minha formação ideológica foi essa. Vindo da UDN. (...) São Paulo foi o único Estado do Brasil que não houve uma união de todos aqueles que eram brigadeiristas. Em São Paulo, eu não me filiei à UDN. Em São Paulo, eu lutava, fiz comícios. Em São Paulo, nós sabíamos desde o início que a UDN ia ser bem dirigida. Por exemplo, nós que tínhamos uma liderança dentro da Faculdade de Direito, nós compreendíamos que se fossemos para a UDN, nós iríamos ser liderados por aqueles que eram liderados pro nós na Faculdade. Então, Ademar de Barros, por exemplo, era brigadeirista, mas ele não teve condições de entrar para a UDN. Então, ele fundou o partido dele, o PSP, que era um partido de natureza popular, um partido de muita força em São Paulo. E a UDN foi muito fraca, enquanto que nos outros Estados – como aqui -, políticos como Eurípides de Aguiar e Matias Olímpio, que eram adversários, eles se uniram. Era uma união justamente contra o sistema ditatorial. De modos que a nossa Revolução foi essa. Democracia, luta contra a Ditadura, e depois, então, vindo para o Piauí. Agora, a visão de Getúlio Vargas foi muito grande. Ele compreendeu que o Partido Social Democrata iria ser um partido conservador, e que ele tendo feito aquele movimento, esperava que aquilo crescesse, que se desenvolvesse... A UDN estava tomando característica, o PTB já era um partido de massa, o partido dos grandes centros industriais. A UDN era o partido da classe média, de comerciantes. O PSD era um partido mais de agricultores, de criadores. Era um partido também de classe média. E era um partido com força mais na área rural.

INOVAÇÃO – E O PTB.
Chagas Rodrigues – O PTB era um partido de força, mas nos grandes centros, nas áreas industriais. Tinha também o apoio de alguns elementos da área rural. Ele foi cada vez mais se firmando, doutrinária e ideologicamente, e se libertando de certas coisas que eram mais defeitos da nossa sociedade do que propriamente dos partidos políticos. Agora, no PTB, o PTB tinha sua esquerda trabalhista e tinha assim uma espécie de ser trabalhista. Tinha uma direita trabalhista. Eu, por exemplo, não era da esquerda trabalhista, inclusive porque a esquerda trabalhista se firmou mais quando eu fui eleito Governador. Ai começou a surgir propriamente uma esquerda trabalhista avançada. Em 50 eu fui candidato pela UDN.

INOVAÇÃO – A sua atitude política era de Vanguarda?
Chagas Rodrigues – Eu fui do Partido Libertador. Era um partido mais forte. Nós tínhamos, nesta época, o Partido Conservador, o Partido Libertador, e a Frente Acadêmica da democracia. A Frente Acadêmica era um partido mais radical contra a política de então. O Partido Libertador, um partido de massa. Tanto que eu pertencia ao Partido Libertador na prévia à indicação para Orador da Assembléia 11 de Agosto. Perdi porque passei três meses estagiando em Lorina. Tinha feito CPOR, de modos que era na Faculdade de São Paulo o único lugar onde havia campanha eleitoral. Naquelas ruas, cartazes, fotografias, passeatas, tudo isso (...) Havia chopadas. Então,leu disputei a prévia. Antes de disputar a prévia houve uma crise no Partido Conservador e o candidato a presidente me disse que a ala liberal do partido me apoiaria se eu fosse vitorioso na prévia do Partido Libertador. E o outro partido, a Frente Acadêmica da Democracia, que dada a minha posição na Assembléia 11 de Agosto – eles me convidaram para ser o candidato da Frente sem disputar a prévia. Então, se eu tivesse divergido do Partido Libertador, e tivesse me lançado como candidato avulso a Orador do 11 de Agosto eu teria tido o apoio dos meus amigos do Partido Liberal, teria tido o apoio da ala liberal. Mas, eu disputei, perdi e o candidato a presidente do 11, um rapaz da Bahia, que depois foi deputado federal pelo Partido Socialista, ele me pediu: ´Chagas, não saia, não dispute como candidato avulso, você vai enfraquecer a chapa do Partido Libertador. Então, eu fui depois nomeado diretor do Departamento Panamericano. (...) Não fui Orador do 11 de Agosto, mas fui diretor. E houve mais. Por exemplo, nesta gestão do 11 de Agosto, quando houve em São Paulo um grande movimento comemorativo da libertação de Paris, em 45, eu fui designado pelo presidente do 11 de Agosto para falar em nome dos estudantes. Eu falei da sacada da Faculdade de Direito de São Paulo. (...) Naquela época, eu sai da Faculdade de Direito do Recife, fiz o 1º e 2º anos lá, indo para São Paulo, onde fiz o 3º ano na Faculdade de São Paulo. Hoje não, muitos alunos estudaram naquela Escola e, por sinal, se tornaram famosos. Na área literária – Castro Alves, Álvares de Azevedo, como também na área política, Rio Branco, Rui, eles estudaram nas duas Escolas, de Direito do Recife e de São Paulo. Quase sempre começaram no Recife, e terminaram lá, em São Paulo. Então, são as duas Escolas mais antigas. Fundadas na mesma época, comemoraram agora o Sesquicentenário. A coisa mais difícil era se conseguir uma transferência para São Paulo. (...)
São Paulo é um mundo, gente de todas as raças, gente de todos os Estados do Brasil, nordestinos, sulistas e pessoas de todas as nacionalidades. Então, em São Paulo ocorreu um fenômeno que aqui talvez não exista, não só na área das realidades étnicas; você vê, por exemplo, deputados federais ligados a pessoas oriundas de determinado país; você vê muito isso. Você vê, por exemplo, um deputado negro eleito por negros. Você vê deputado – caso único no mundo – japonês de primeira geração. Espíritas elegem deputado espírita. Havia deputados eleitos por nordestinos. Agora, por outro lado, preconceitos sempre existiram. Determinados elementos em São Paulo, falam dos paulistas de 400 anos, e os paulistas de 400 anos, os mais tradicionais de São Paulo, das famílias mias tradicionais, nem todos, alguns, viam com bons olhos aqueles filhos de imigrantes.

INOVAÇÃO, ANO I, n º 14, edição de 11 de janeiro de 1979.

Parte II

Nossa equipe, sabendo da visita deste homem público à nossa terra, depois de 10 anos, foi até à residência onde ficou hospedado, coma finalidade de entrevistá-lo.

Trabalhista autentico, líder piauiense de visão e tato políticos.

Nesta segunda parte desta entrevista, registramos sua opinião sobre o momento nacional, alguns dados sobre os feitos no Governo do Piauí, e o que nossa cidade ganhou quando teve em Chagas Rodrigues um representante lúcido e ativo. Vamos à entrevista.

INOVAÇÃO – Deputado, no seu Governo, o que foi feito em Parnaíba?
Chagas Rodrigues – Eu tenho uma grande satisfação em ter concorrido decisivamente para o progresso da educação aqui em nossa cidade. Hoje nós temos essa Unidade da Universidade, essa Faculdade em decorrência de emenda que eu apresentei. Mas, essas coisas passam e talvez muitos dos alunos mesmo não saibam que a Faculdade de Administração, a integração dela na Universidade resultou de uma emenda de minha autoria. Por essa e por aquelas dificuldades, porque no momento eu pedi que se apressasse no Ministério da Educação o processo; que eles autorizassem (...). O relator tinha viajado, estava ausente, não era possível dar o parecer e o Conselho aprovar, mas, com a colaboração de todos, nós tivemos a aprovação da emenda. As emendas foram aprovadas, inclusive esta. E, por isso, a Escola de Administração passou a integrar a Universidade Federal do Piauí. Agora, voltando ao meu Governo. No meu Governo, além do salário-mínimo, nós criamos o Serviço Social do Estado, nós criamos escolas normais e ginásios, que isto era o primeiro passo para uma Universidade. Não era possível ter uma Universidade no Piauí, com um ensino médio oficial só em Teresina. Em Teresina, nós criamos o curso noturno na Escola Normal. A Escola Normal era uma escola de moças ricas. Não havia curso noturno. Aquelas que trabalhavam durante o dia não tinham a possibilidade de estudar. Comerciárias, bancárias, garçonetes, este pessoal não estudava em escola normal, mas porque não havia curso noturno. Nós introduzimos o curso noturno. Criamos uma série de sociedades de economia mista: CEPISA – Centrais Elétricas do Piauí S.A., TELEPISA, organizamos o planejamento do Piauí. Lançamos as bases da Secretaria Permanente de Planejamento para planejar todos os problemas do Estado.

INOVAÇÃO – E na parte da energia...
Chagas Rodrigues – Eu fui o primeiro Governador que falou em Boa Esperança. Alguém diz: “secular aspiração.” Secular cousa alguma. Eu fui o primeiro candidato a Governador que falou em Boa Esperança. Eu fui o primeiro Governador que falou em barrar o Parnaíba. Eu fui o primeiro Governador, nas mensagens, a tratar disso. Muita gente achava que era uma loucura. Na Comissão de Orçamentos na Câmara dos deputados, no Rio de Janeiro ainda, eu fui o primeiro deputado a apresentar emenda para estudos e início de obras de barragem do Parnaíba. No orçamento de 1957.
Depois outros deputados batalharam e eu vim para o Governo, inclusive Milton Brandão trabalhou muito. Mas, nas minhas mensagens, nos meus estudos, eu sempre trabalhei por isso.

INOVAÇÃO – Quem era o presidente da República nesta época?
Chagas Rodrigues – Quando em elegi Governador em 58, o presidente era Juscelino, que era apoiado pelo PTB e PSDD. Depois, foi eleito o presidente Jânio Quadros, que foi apoiado pela UDN porque ele fez questão de não ser lançado pela UDN. Ele era do PTN, e era deputado pelo PTB, eleito pelo Paraná, porque naquele tempo era possível também isso. Ele não quis sair do Governo. Alguns governadores me apresentaram essa proposta – eu ficaria no Governo e seria eleito por um Estado vizinho. Eu não aceitei, achei que aquilo não era correto, sem crítica nenhuma a quem aceitou, a quem concordou com isso.
De modos que o nosso Governo foi assim. Foi um Governo de sentido. O nosso Governo criou, foi responsável pela primeira lei que concedia pensão às esposas dos funcionários. Funcionário morria (...) Então, na área da Previdência, na área salarial.
Quando houve ai uma greve de bancários – é interessante que vocês leiam a minha última mensagem em 62 -, quando houve a greve dos bancários no Brasil eu atendi imediatamente. Foi o segundo caso no Brasil. O meu Governo era acusado pelo modo com que prestigiava as associações rurais, que eram as sociedades dos proprietários rurais. Eu ajudava, apoiava.

INOVAÇÃO – Voltando ao assunto, o que mais foi feito em Parnaíba?
Chagas Rodrigues – Oficializamos os estabelecimentos, criamos aqui outro sentido social de Governo, com a criação da Assistência Judiciária, Defensoria Pública, advogado de ofício –advogado criado pelo Estado para defender essas causas. Aqui, nós iniciamos uma política de grande ajuda ao desenvolvimento industrial. Nós tínhamos uma política de ajuda à industrialização, indústrias novas. Lutamos para que todos os exportadores de cera de carnaúba procurassem exportar a cera. Nós conseguimos o primeiro financiamento da SUDENE para a construção do Frigorífico do Piauí. Isso é olhar para o problema do desemprego. Nós fizemos a primeira estrada pavimentada no Piauí, de pavimentação poliédrica, Parnaíba – Buriti dos Lopes. Poliédrica por quê? Porque resolvia o problema. Era uma estrada pavimentada. Dava muito emprego para o pessoal trabalhar e ainda saia uma estrada a custo muito mais reduzido. Foi a primeira estrada que o Estado construiu.

INOVAÇÃO – Com que recursos?
Chagas Rodrigues – Naquela ocasião, não havia ajuda externa nenhuma. Naquela ocasião a ajuda interna era mínima. Os recursos eram mínimos. Nós não tínhamos recursos. Não tínhamos empréstimos. Ao longo de todo meu Governo o empréstimo foi de 50 milhões de cruzeiros, que hoje significam 50 mil cruzeiros. Foi a dívida que eu deixei aos Governos futuros.

INOVAÇÃO – Voltando aos temas da atualidade nacional, o senhor acredita na volta de Leonel Brizola, no sentido de enfraquecer a oposição atual?
Chagas Rodrigues – De maneira nenhuma. Eu fui colega na Câmara, fui colega de partido, fui colega como Governador. O Leonel Brizola é um idealista, um homem honrado, um homem corretíssimo, um homem de origem humilde, simples, um home que foi engraxate. De modos que ele não seria capaz de nenhuma barganha nesse sentido. O que ocorre com o ex-governador Leonel Brizola é o seguinte: ele hoje é líder nacional, vocês estão vendo nos jornais. Muito bem recebido por aqueles que estão no Governo na Áustria, na Inglaterra, estão no Governo de Portugal, Espanha etc. Ele é um homem que há 15 anos está ausente. Eu estava ausente há 10 anos do Piauí, e meu desejo de vir ao Piauí era grande. Quem está ausente do Brasil há tanto tempo deve ter uma vontade muito grande de voltar. (...)

INOVAÇÃO – O senhor concorda com a tese de Ulisses Guimarães de que o MDB não deve se dividir até enquanto não venham as liberdades?
Chagas Rodrigues – Não parece correta esta tese. Eu acho que nós devemos lutar até a normalização, até a reconstitucionalização do país. Esse é o meu ponto de vista. Quando o país estiver com a sua situação normalizada, então será natural que se reorganizem e se constituam os partidos de acordo com as várias tendências.

INOVAÇÃO – Qual seria, então, a diferença de um PTB futuro e um PTB passado?
Chagas Rodrigues – Vamos tomar o Partido Trabalhista inglês. Os partidos nestes países, eles têm 100 anos, eles têm décadas e décadas. (...) Quer dizer, o partido vai se renovando. Ele vai enfrentando a realidade. Mas, ele sempre é fiel a um princípio. Quantos líderes trabalhistas foram sacrificados, não só na área política como as lideranças sindicais? Outros líderes trabalhistas eram acusados de tendências comunistas. O PTB era acusado de se deixar infiltrar por esses líderes operários comunistas. Não havia pelegos, como hoje há pelegos, sempre haverá pelegos. Tanto na política quanto na profissão há os bons e há os elementos carreiristas, oportunistas etc. Mas, o Movimento serviu inclusive para mostrar aqueles que realmente eram fiéis ao trabalhismo, fiéis ao socialismo, fiéis ao liberalismo, e assim por diante (...). Nós podemos ter 2 partidos trabalhistas, depende. Agora, acho que a luta não deve ser em termos de pessoas, deve ser uma luta em torno de idéias. E o trabalhismo é isso. Nós éramos acusados de defender salários altos, de demagogia. Nós éramos acusados de conceder uma série de vantagens aos trabalhadores.
Eu me lembro que já na fase mais do fim do Governo Goulart se acusava que os sindicatos tinham mais prestígio que os deputados. Então, o pensamento trabalhista básico pra mim é o trabalho. Trabalho é uma projeção da personalidade humana, da dignidade humana. Trabalho tem que ser prestigiado. O Trabalho tem uma grande expressão (...)

INOVAÇÃO – O senhor é a favor da legalização do Partido Comunista no Brasil?
Chagas Rodrigues – Eu defendo o pluripartidarismo e acho que todos os partidos, qualquer que seja a sua tendência, inclusive o Comunista, desde que cada um queira. Por exemplo, eu sou trabalhista. Nós, trabalhistas, queremos organizar o nosso partido. Muito bem. Amanhã, eu não sei se os antigos Democratas Cristãos vão querer organizar o partido. Se quiserem, problema deles. Nós não podemos ser contra. Se nós defendemos um partido para nós, o nosso partido, nós não podemos ser contra. Na medida em que nós somos favoráveis a um partido, que seja um veículo das nossas idéias, nós não podemos ser contrários (...)

INOVAÇÃO – Como é que o MDB vai se mostrar firme nesta Frente, com tanta gente moderada, autênticos, neo-autênticos, trabalhistas, democratas cristãos...?
Chagas Rodrigues – Será possível, como foi possível assim, agora, na medida em que as defesas de certas conquistas, de certos princípios, na medida em que esta luta estiver progredindo, e não estiver chegado ao fim, há uma necessidade...

INOVAÇÃO – Mas, o senhor reconhece que até agora estava todo mundo atrás da moita?
Chagas Rodrigues – Não! Pelo contrário! Olhe, veja bem: o MDB vem lutando por aquilo que é básico. Nós queremos LEGALIDADE, nós queremos CONSTITUIÇÃO, nós queremos PLURIPARTIDARISMO, nós queremos LIBERDADE SINDICAL, nós queremos, na área política, reconstitucionalizar o país, regime de legalidade para todos; governos e governados. Ora, já é um pressuposto. Se nós queremos a reconstitucionalização do país, se nós queremos um regime de legalidade, quem quer a constitucionalização, quer através da lei básica, e a nação de pronuncie. Para a nação se pronunciar é preciso que haja ANISTIA. Anistia pra termos uma Constituinte que realmente traduza o pensamento, porque a Constituição é a síntese do pensamento de uma nação. É uma lei básica, uma lei fundamental. E toda Constituição, não apenas na nossa história, mas na história dos povos, e até recentemente, o que há é que uma Constituição tem que ser PRO – MUL- GA – DA por uma Assembléia Nacional Constituinte.

INOVAÇÃO – O senhor acha que a largada já começou?
Chagas Rodrigues – Não. A meu ver começaram as conversas. Marcaram os entendimentos, mas eu ignoro que já tenham iniciado concretamente a fundação, a organização de novos partidos. (...) Todos que querem fazer uma política de oposição têm de ir ao MDB.

INOVAÇÃO – A partir de 1º de Maio, o que o senhor pretende fazer na política?
Chagas Rodrigues – A partir de 1º de Maio não. Eu comecei agora uma conversa com os políticos para, a partir de 1º de Maio, então...

INOVAÇÃO – Se filiar ao MDB?
Chagas Rodrigues – É o que pretendo. Agora, a política é uma coisa muito dinâmica. Nós não sabemos o que poderá acontecer daqui até lá.

INOVAÇÃO – O senhor postula a presidência do partido aqui?
Chagas Rodrigues – Não, eu não postulo nada.

INOVAÇÃO – Mas, se o senhor fosse convocado, o senhor aceitaria a presidência do partido?
Chagas Rodrigues – É uma maneira de dizer: eu quero ser soldado.

INOVAÇÃO – Se o senhor voltasse para governar o Estado, quais seriam suas metas prioritárias?
Chagas Rodrigues – Minhas metas seriam as metas do trabalhismo. Completa valorização do trabalho, educação, saúde. Ah! Eu não falei a vocês que no meu Governo nós tivemos o primeiro hospital do Norte. Tivemos o primeiro hospital do Sul. Então, essa seria a preocupação. A defesa da saúde do povo, educação para o povo, valorização do trabalho (...)

INOVAÇÃO – Como o senhor encara agora, a política do Piauí?
Chagas Rodrigues – A política do Piauí é o que vocês viram. É o único Estado que não vai mandar um representante à Câmara. Isso deixa bem a Arena. Isso deixa muito mal o nosso Estado, em termos aqui falando, dentro de uma visão acima dos partidos, supra-partidárias, digamos assim.

INOVAÇÃO – O senhor moraria em Brasília ou Teresina?
Chagas Rodrigues – Eu pretendo continuar morando em Brasília, mas tudo isso pode ser alterado.

INOVAÇÃO, ANO I, n º 15, edição de 31 de janeiro de 1979.
*****
Entrevista cedida, gentilemente, pelo poeta juiz Elmar Carvalho, um dos integrates do Inovação, jornal fundado, em Parnaíba, por Reginaldo Ferreira da Costa e Franscico José Ribeiro (Franzé).

Nenhum comentário: