sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Incêndios

Capa: divulgação

A. Tito Filho

Os acontecimentos iniciados em 1943 correspondem, porém, a cenas dantescas e tragédias gregas, tantas as violências contra pobres pessoas se provocaram, promovidas por agentes policiais. Era o governo do médico Leônidas Melo, que interventor federal no Piauí, em virtude de certos atos contra direitos alheios, conquistou sérias inimizades políticas. Vigorava a ditadura e os jornais sofriam censura prévia. A chefia de Polícia estava sob as ordens do coronel Evilásio Gonçalves Vilanova. Foi o tempo dos terríveis incêndios de casebres de palha de Teresina. Comunicavam-se por bilhetes o dia e a hora em que as labaredas subiam aos céus na queima da casa escolhida - e os moradores a abandonavam, e no exato momento do aviso as línguas de fogo consumiam, tudo, teto e paredes, e os trastes da vida diária.

Desespero e choro. Nada se salvava, tudo se transformava em cinzas, os cacos da cozinha e os farrapos de pano da dormida e do corpo.

Os elementos da oposição culpavam as autoridades, desejosas de acabar com as choupanas de palha da capital, feias e miseráveis, ou o governo atribuía o crime aos adversários para puni-los severamente na qualidade de incendiários. Pensava-se na existência de individuo piromaniaco, para satisfação da mórbida personalidade. Chegou-se a acusar da hediondez o próprio chefe de policia, por intermédio de policiais de confiança, com a intenção ambiciosa de derribar o interventor federal e assumir o comando da administração. As rodas oficiais consideravam mandante das queimações o médico José Candido Ferraz, que despontava como o mais afoito elemento contra o governo ditatorial na politica piauiense.

Alta noite homens humildes, presos pela policia e acusados de autoria, nas clareiras da mata de Teresina, rumo de Morrinhos, eram submetidos a torturas intensas e impiedosas. Contam que alguns morreram.

A. Tito Filho, 24/12/1988, jornal O Dia.

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José Afonso de Araújo Lima nos dá, agora, em 2010, Cidade em Chamas, épico que narra um dos momentos mais terríveis da nossa história. Não deixem de adquirir e ler o livro. Comentário de Elmar Carvalho, clicando aqui. (Kenard Kruel).

Um comentário:

marilena veloso disse...

Adorei o que escreveu sobre o tio Leonidas, obrigada meu anjo torto, não se deixe de mim,bjs! sua
kenardiana