terça-feira, 10 de agosto de 2010

Sulica: a agonia do abandono

Sulica. Foto de Kenard Kruel.

Zé Marques, jornalista, músico, produtor cultural e artístico me deu um soco bem aplicado no estômago ao fazer a entrevista abaixo com a Luiza Vitória Figueiredo da Silva, a popular Sulica. Por que? Ora, ela entrou na Fundação Cultural do Piauí em 1977, e entrei em dezembro de 1978. Durante anos estivemos juntos na Feira Popular de Arte, Salão de Humor, Encontro de Folguedos, Projeto Pixinguinha, Interiorização da Cultura, Projeto Torquato Neto, o Beco do Prazer, dentre outros projetos culturais e artísticos. Posso testemunhar o quanto a Sulica se deu para que estes eventos não só fossem realizados, mas que fizessem sucesso. Deixou uma vida de luxo, de madame mesmo, para viver no meio artístico e cultural (quem é íntimo, sabe do que estou falando). Nunca a vi reclamando de nada. Por isso, ao reclamar agora, e reclamar de carinho, amigos como eu que, sabendo da situação dela, pouco ou nada estamos a fazer para ao menos amenizar a sua dor, é de dar a mão à palmatória e, como ainda é tempo, mostrar a ela o quanto a respeitamos, a admiramos, a amamos. É isso que vou fazer e espero que ela, na sua generosidade de sempre, possa me dar essa chance de me redimir de ter sido tão ausente. PS: a foto acima foi tirada já faz um certo tempo. Não publiquei a foto que está ilustrando o texto do Zé Marques porque não é assim que eu quero ver a imagem da minha amiga Sulica (Kenard Kruel).

Eu questiono: Que pais é esse onde uma pessoa como eu, que entrou na FUNDAC – Fundação Cultural do Piauí em 77, fiz a Feira Popular de Arte, Salão de Humor, Encontro de Folguedos, Projeto Pixinguinha, Interiorização da Cultura, Projeto Torquato Neto, o Beco do Prazer e tantos outros eventos e o Estado não está nem aí, a verdade é essa! Se não fosse minha família eu já tinha morrido a míngua”, disse hoje (10) pela manha, antes de uma sessão de quimioterapia, a funcionária pública Luiza Figueiredo da Silva, a nossa conhecida Sulica, que aos 63 anos luta contra vários cânceres.

Emocionada, Sulica se mostra sem paciência e responde na cara à pergunta sobre a sua situação atual: “Eu estou morrendo, você não esta vendo, não!”. Ela explica que já teve câncer na cabeça, na mama e agora está com a doença nos dois pulmões, no fígado e nos ossos. Mesmo assim, elogia o trabalho que os médicos vêm fazendo por ela. “Os meus médicos têm sido os meus maiores baluartes e a minha família é muito unida, tem me dado força”, diz.

Ela pergunta: “Você sabe quanto ganha um produtor cultural, Zemarx?”. E responde com desgosto: “Oitocentos e poucos reais, e o que é R$ 800? Um remédio que eu tomo é mil e tanto. O táxi que eu gasto por dia é R$ 70,00. O Estado não se propõe nem a dar um táxi pra você vim fazer quimioterapia ou radioterapia”, critica.

A falta dos amigos

Sulica diz que não questiona somente a falta de dinheiro, mas a falta de afeto, de amor e diz que isso também cura. “Eu quero agradecer muito ao Cineas Santos, que foi no hospital me ver, me levou flor. Eu tô falando de afeto, amor. Será que vocês sambem o que isso?”, questiona.

Muito emocionada, ela manda um abraço para diversos artistas que, como ela diz, conhecem de perto o trabalho dela e cita Edvaldo Nascimento, Durvalino Couto, Geraldo Brito, Rosinha Amorim, Laurenice França e Roraima. Sulica lembra ainda dos grupos de bumba-meu-boi e reisado, do tempo de luta em que, segundo ela, carregavam caixa de cerveja na cabeça pra fazer feira Popular de Arte na Praça Saraiva, em Teresina. “E hoje o Estado não tá nem aí. Quem quiser... (Sulica pede desculpa pela expressão)... que se lasque”, finaliza.

No limite de uma grande emoção, ela agradece ainda a mais pessoas. “Eu quero agradecer muito à minha filha e ao meu neto. (Peço desculpa pela emoção!)... Uma pessoa que muito me procurou também foi o Marcelo (?). E eu tenho que fazer justiça à Sonia Terra, que foi me visitar umas três vezes. Mas, ultimamente, eu tenho procurado por ela, que não tem atendido meus telefonemas. Eu não quero pedir nada pra ninguém não, Zemarx. Eu tava pedindo carinho! Era isso que estava pedindo”, se despede chorando Sulica, em direção à quimioterapia.

2 comentários:

Unknown disse...

Ei, Ken: vamos fazer um show em homenagem e eme apoio à Sulica?

EMERSON ARAÚJO disse...

Kenard e Zé Marques, lembro-me que a Sulica abriu espaços tremendos para quem era de direita, de centro, de esquerda. Inclusive abriu espaços para estes "pulhas" que hoje comandam a descultura piauiense. É por isso, amigos, que não fiquei morrendo de fome aí diante deste tempo de 07 anos que ajudamos a construir para nada. O meu desejo é que este tempo aí não perdure mais. Continuo no exílio e não é covardia não é para dizer que não preciso destes canalhas que nos traíram. Viva Sulica!