sábado, 3 de julho de 2010

Na rota dos fenícios

Luiz Ayrton (Brigada Mandu Ladino), Marta Tajra (Editora Zahle) e Lucia Dias, coordenadora de marketing da Brigada, ladeando padre Emile Edde, após a palestra em sessão de autógrafos.

Marta Tajra
.Eles viveram muito antes que Roma pudesse existir como império e deixaram o seu rastro por quase todo o Oriente chegando até a África através do Mediterrâneo(chamado pelos romanos em sua descabida pretensão de ‘Mare Nostrum’, como exemplo da força de seu império).
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Estou falando dos fenícios, aqueles grandes navegadores e comerciantes que aparecem em tudo que é livro de história antiga e que a gente estuda, estuda, mas acaba sem saber a dimensão exata do que eles representaram para o mundo. Uma realidade que ainda transborda as páginas de qualquer livro pelos feitos, coragem e criatividade que tiveram. Foram os primeiros desbravadores dos mares antigos e fundaram colônias do Mediterrâneo ao Atlântico chegando até as Ilhas Britânicas, e segundo historiadores, ao mar Báltico. Há quem acredite que eles chegaram até o litoral brasileiro.

Padre Emile Edde é um deles. Ele veio na semana passada a Teresina ministrar uma palestra a convite da Brigada Mandu Ladino e da Editora Zahle (que edita a revista Mercado do Imóvel). O tema da palestra foi ‘Fenícios no Brasil’. Tema polêmico porque ainda divide a comunidade científica pela falta de vestígios, apesar de inúmeras evidências. Mas padre Emile, um libanês de 74 anos, representante da igreja maronita de São Paulo, é um estudioso do assunto e trouxe na bagagem fortes evidências da passagem deles por aqui.

Uma das mais significativas está na área da lingüística, que corresponde ao tipo de escrita que foi encontrada em vários pontos do litoral do Brasil e o tipo de escrita inventada por eles, fenícios. Também no começo do século passado numa expedição arqueológica formalizada para esse fim, foram encontradas nas águas da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, duas enormes cânforas em estilo e inscrições fenícias. Muitas outras evidências foram citadas durante a palestra, como a famosa Pedra da Gávea, também no Rio de Janeiro, onde uma inscrição faz referência a um rei fenício e também a não menos famosa obra de Ludwig Schwennhagen (Antiiga História do Brasil 1.100AC-1500), onde o autor descreve o rastro desses navegadores por terras nunca antes habitadas do Piauí (Sete Cidades Encantadas).

Depois disso, um breve e interessante debate se travou com a platéia, formada por historiadores, arqueólogos, escritores, jornalistas, médicos, advogados e representantes da colônia sírio libanesa, que também entrou dando apoio ao evento através da Associação Sírio Libanesa do Piauí.

Padre Emile é um estudioso com passagem pela Universidade de Salamanca (Espanha) com licenciatura em Filosofia e Teologia, pós graduação em Paris, com mestrado em Pastoral e História e com Doutorado em Ciências Teológicas. É autor de 15 obras em árabe, francês, espanhol e português e mais de 800 artigos em revistas e jornais. Além disso, é uma figura ímpar. Irrequieto, curioso, conversador, alegre, padre Emile conquistou a simpatia e a admiração de todos que assistiram a sua palestra e lhe acompanharam durante sua permanência aqui.

Visitou em Teresina a Paróquia Mãe de Deus (Teotókos), a única igreja de ritual ortodoxo do Piauí onde teve a oportunidade de conhecer um pouco do trabalho que Padre Vale desenvolve ali junto com a colônia árabe de Teresina. Provou a típica culinária piauiense, o famoso escondidinho e o capote do Favorito Comidas Típicas, aprovando, com louvor, a nossa cajuína.

Nascido em Biblos, uma das cinco cidades fenícias do Líbano, atualmente ele mora no Brasil, e é assessor de Dom Edgard Madi, Arcebispo Maronira do Brasil. Sua vinda a Teresina faz parte de uma série de palestras que a Brigada Mandu Ladino promove mensalmente junto a um núcleo de estudos, para discutir e ampliar o conhecimento da pré-história do Piauí. Assim como parte das comemorações que a colonia libanesa promove, este ano, em todo o Brasil pelos mais de 130 anos de sua imigração. Aproveito para agradecer aqui a senhora Lody Brais, presidenta da Associação Cultural Brasil-Líbano, com sede em São Paulo, através da qual fizemos o contato para sua vinda.

A Editora Zahle tem a intenção de lançar um livro com o resumo de todas as palestras ministradas pelo Núcleo de Estudos Mandu Ladino, todas de alto nível, diga-se de passagem. O núcleo é aberto a todos que quiserem participar e tiverem interesse pelo tema. Fica na Rua São Pedro, 3125, Ilhotas.

Em tempo: a expressão ‘Mare Nostrum’ foi criada pelos romanos, em cerca de 30 a.C., para nomear o mar Mediterrâneo, dando um exemplo da força do império. Em 2010, a mesma expressão está sendo usada por um projeto da Comissão Européia (CE) para unir seis cidades da região, antigos portos fenícios, promovendo o resgate da cultura local, o desenvolvimento do turismo e a troca de conhecimento entre países. Trata-se da versão moderna do Mare Nostrum, que traça uma rota comum entre Tiro (Líbano), Tartus (Síria), Cartago (Tunísia), Siracusa (Sicília, Itália), Rodes (Grécia) e Lavalletta (Malta).

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