Simplício Dias da Silva, filho de Domingos Dias da Silva e de Josefa Claudina, nasceu a 2 de março de 1773, na Vila de João João da Parnaíba. Era homem de grande prestígio em todas as esferas sociais – possuía cerca de 1.800 escravos, organizados militarmente com armas, educados e preparados em sua maioria em Lisboa e Rio de Janeiro. Começou a trabalhar em 1821, comprando armas e munições e arregimentando homens. Eram ações arriscadas, dadas a vigilância à Vila da Parnaíba, o centro econômico do Piauí. Por sua dedicação à causa, em 27 de outubro de 1823, a Junta do Governo da Província do Piauí atestou em documento a importância de Simplício Dias da Silva para a vitória dos piauienses na Guerra da Independência. Mas, o que ele perderia caso Portugal viesse a ter êxito em sua política de ocupação do Meio Norte do país? Simplesmente tudo.
Assim, como os restantes dos abastados da região mafrense, ao serem “contaminados” pelo arroubo “patriótico”, ele defendia, na verdade, eram os seus pertences e o status. Seu ímpeto foi, assim, o de preservar o que de “direito” era seu.
João Cândido de Deus e Silva, nascido em 1787, no Pará, fez seus estudos universitários na Europa. Bacharel em Direito. Professor da Faculdade de Direito de São Paulo. Desembargador da relação no Maranhão, no qual obteve a sua aposentadoria. Deputado-geral pelo Pará, em duas legislaturas. Secretário de Governo da Província do Rio de Janeiro. Era presidente da Câmara da Vila da Parnaíba quando das lutas pela independência.
Por essa época, a Vila da Parnaíba, embora não tivesse o peso político de Oeiras, concentrava uma elite intelectual que fazia dela um importante difusor de novas idéias, inclusive libertárias. Era, possivelmente, o mais importante centro cultural e intelectual da Província, para o qual fluíam notícias do país e do mundo. Não poucas vezes, as informações chegaram primeiro a Parnaíba, para só depois se irradiarem para o restante da Província. Com sua força econômica e cultural, a vila exercia influência no restante do Piauí e era natural que procurasse interferir também na vida nacional, o que de fato fazia ou tentava fazer.
Possuidor de privilegiadas informações como o grito de liberdade dado na Vila de Granja, Ceará, no dia 30 de setembro de 1822, João Cândido de Deus e Silva se apodera de cartas, bilhetes e recomendações vindas de José Bonifácio sobre a iminente da separação da colônia com a metrópole portuguesa.
No dia 19 de outubro de 1822, à frente de outros homens, deflagrou o processo que resultaria na independência da Província e teria papel importante na independência do próprio país. O grito parnaibano mudou a estratégia de luta de Fidié em Oeiras. Este, ao saber dos acontecimentos no litoral, rumou no dia 13 de novembro para o Norte até a Vila São João da Parnaíba. Porém, não encontrou os revoltosos, que sabendo do deslocamento das tropas portuguesas, refugiaram-se em cidades e vilas próximas. Parnaíba estava ocupada por tropas vindas do Maranhão e do Pará, alem do bigue de guerra infante Dom Miguel.
Sem tropas em Oeiras, separatistas locais tomam a Casa da Pólvora e declaram independência do jugo português, a 13 de dezembro. Sabendo do agravamento da situação em Oeiras, e sem o que fazer em Parnaíba, Fidié tomou o caminho de volta. Foi quando, a 13 de março de 1823, defrontou-se com populares piauienses e cearenses armados precariamente com paus e pedras, nas proximidades de Campo Maior, às margens do Rio Jenipapo. Fidié ganhou a batalha, mas perderia a guerra. Enfraquecido, desistiu de ir a Oeiras e deslocou as tropas, com moral abalado, para Caxias, a fim de reorganizá-las e voltar à batalha. Só que, apanhado por separatistas no Morro do Alecrim, em Caxias, rendeu-se a 7 de agosto, episódio que pôs fim à pretensão portuguesa de dominar o Piauí, o Maranhão e o Grão Pará para recriar o Maranhão separado do Brasil, mas como colônia portuguesa.
Junto com o rábula de Campo Maior, Lourenço de Araujo Barbosa, João Cândido de Deus e Silva foi um dos nomes envolvidos na propaganda de idéias liberais, em pleno confronto das idéias monarquistas e republicanas durante a Confederação do Equador (1824). Seus atos, durante a prisão de Lourenço Araujo – que nega seus ideais – e na proclamação da Independência – um dos líderes em Parnaíba -, o denunciam como sendo um conspirador estrategista (1).
Tanto Simplício Dias da Silva quanto João Cândido de Deus e Silva poderiam ter a disposição econômica e teórica de seguir os exemplos de Pernambuco, Bahia e Ceará, mas não tinham o desprendimento e o idealismo de Leonardo de Carvalho Castelo Branco. Eles não souberam organizar um exército de resistência como organizara o Leonardo, mesmo não sendo ele militar.
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1 Odilon Nunes. Pesquisa para a história do Piauí. Volume 2.
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Capítulo do livro Leonardo de Carvalho Castelo Branco, do professor e historiador Gervásio Santos, a sair em breve, pela Editora Zodíaco.
João Cândido de Deus e Silva, nascido em 1787, no Pará, fez seus estudos universitários na Europa. Bacharel em Direito. Professor da Faculdade de Direito de São Paulo. Desembargador da relação no Maranhão, no qual obteve a sua aposentadoria. Deputado-geral pelo Pará, em duas legislaturas. Secretário de Governo da Província do Rio de Janeiro. Era presidente da Câmara da Vila da Parnaíba quando das lutas pela independência.
Por essa época, a Vila da Parnaíba, embora não tivesse o peso político de Oeiras, concentrava uma elite intelectual que fazia dela um importante difusor de novas idéias, inclusive libertárias. Era, possivelmente, o mais importante centro cultural e intelectual da Província, para o qual fluíam notícias do país e do mundo. Não poucas vezes, as informações chegaram primeiro a Parnaíba, para só depois se irradiarem para o restante da Província. Com sua força econômica e cultural, a vila exercia influência no restante do Piauí e era natural que procurasse interferir também na vida nacional, o que de fato fazia ou tentava fazer.
Possuidor de privilegiadas informações como o grito de liberdade dado na Vila de Granja, Ceará, no dia 30 de setembro de 1822, João Cândido de Deus e Silva se apodera de cartas, bilhetes e recomendações vindas de José Bonifácio sobre a iminente da separação da colônia com a metrópole portuguesa.
No dia 19 de outubro de 1822, à frente de outros homens, deflagrou o processo que resultaria na independência da Província e teria papel importante na independência do próprio país. O grito parnaibano mudou a estratégia de luta de Fidié em Oeiras. Este, ao saber dos acontecimentos no litoral, rumou no dia 13 de novembro para o Norte até a Vila São João da Parnaíba. Porém, não encontrou os revoltosos, que sabendo do deslocamento das tropas portuguesas, refugiaram-se em cidades e vilas próximas. Parnaíba estava ocupada por tropas vindas do Maranhão e do Pará, alem do bigue de guerra infante Dom Miguel.
Sem tropas em Oeiras, separatistas locais tomam a Casa da Pólvora e declaram independência do jugo português, a 13 de dezembro. Sabendo do agravamento da situação em Oeiras, e sem o que fazer em Parnaíba, Fidié tomou o caminho de volta. Foi quando, a 13 de março de 1823, defrontou-se com populares piauienses e cearenses armados precariamente com paus e pedras, nas proximidades de Campo Maior, às margens do Rio Jenipapo. Fidié ganhou a batalha, mas perderia a guerra. Enfraquecido, desistiu de ir a Oeiras e deslocou as tropas, com moral abalado, para Caxias, a fim de reorganizá-las e voltar à batalha. Só que, apanhado por separatistas no Morro do Alecrim, em Caxias, rendeu-se a 7 de agosto, episódio que pôs fim à pretensão portuguesa de dominar o Piauí, o Maranhão e o Grão Pará para recriar o Maranhão separado do Brasil, mas como colônia portuguesa.
Junto com o rábula de Campo Maior, Lourenço de Araujo Barbosa, João Cândido de Deus e Silva foi um dos nomes envolvidos na propaganda de idéias liberais, em pleno confronto das idéias monarquistas e republicanas durante a Confederação do Equador (1824). Seus atos, durante a prisão de Lourenço Araujo – que nega seus ideais – e na proclamação da Independência – um dos líderes em Parnaíba -, o denunciam como sendo um conspirador estrategista (1).
Tanto Simplício Dias da Silva quanto João Cândido de Deus e Silva poderiam ter a disposição econômica e teórica de seguir os exemplos de Pernambuco, Bahia e Ceará, mas não tinham o desprendimento e o idealismo de Leonardo de Carvalho Castelo Branco. Eles não souberam organizar um exército de resistência como organizara o Leonardo, mesmo não sendo ele militar.
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1 Odilon Nunes. Pesquisa para a história do Piauí. Volume 2.
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Capítulo do livro Leonardo de Carvalho Castelo Branco, do professor e historiador Gervásio Santos, a sair em breve, pela Editora Zodíaco.
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