Foto de Kenard Kruel.
(*) Ferrer Freitas
Com este título, a TV Brasil (canal 2) vem mostrando, em capítulos, documentário sobre a participação do Brasil na Copa do Mundo de 1958, quando, segundo muitos comentaristas esportivos de renome, entre os quais o “palavra fácil”, Luís Mendes, formou a melhor seleção de quantas participaram, até hoje, do famoso torneio da FIFA. Levando de cara a bola pra Oeiras, vale dizer que naquela quadra a energia elétrica na cidade ainda era gerada pela velha usina a lenha, inaugurada em 7 de setembro de 1937, que já dava sinais de total obsolescência, e funcionava somente das 18 horas até meia-noite. Rádio fora desse horário só os adaptados a bateria e com ajuda de um aparelho chamado “tunga” (ou seria “dunga”?). Que fazer então para escutar os jogos pelas ondas da famosa “Cadeia Verde-Amarela”, capitaneada pela Bandeirantes de São Paulo, com locução de Fiori Giglioti?
A saída encontrada por adolescentes de turminha cujas residências ficavam nas mediações do Passeio Leônidas Mello, onde estão encravados o Café Oeiras e o Cine-Teatro, é a que procurarei narrar.
Faz-se necessário dizer, de princípio, que contamos com boa dose de sorte, ou seja, o fato do mais famoso bar da cidade, atrás citado, dispor de pequeno gerador instalado em quartinho ali próximo, ligado somente na parte da tarde para uma destinação exclusiva, fazer sorvete e picolé no “balcão de gelo”. Cerveja esfriava (gelar, nem pensar) era nas geladeiras a querosene, e ainda se postas nas caixetas. O então arrendatário, Raimundo Brandão, de forma generosa permitia que uma perninha de fioda corrente se estendesse até janela do palco do cine, para que Gilson Carmo, o Gilica, pudesse, com seu monóculo, consertar relógios, ele que ainda auxiliava o velho Wagner como projecionista. Na hora das partidas, com a devida permissão das partes, eu pegava na minha casa, situada do outro lado da praça, um pesado rádio da marca Mullard e punha naquela alta e bendita janela, para deleite de uma galera formada, entre outros traquinas, por Antônio Madeira Barbosa, o Madeira de todos, à época uma “bisca” (“capeta”), segundo o mano Toscano, coisa que o cidadão bem sucedido de hoje dmite com uma ponta de orgulho. Assim acompanhamos, com ruídos terríveis detransmissão (evidente que bastava o de gol), a copa de 1958.
Para a final, Brasil e Suécia esta o país-sede), realizada a partir de 12 horas, o então prefeito, Mário de Alencar Freitas, seu Mário, mandou por lenha na caldeira e ligar a usina para que todos ouvissem o jogo, medida acertada, além de patriótica! Só que, de repente, por uma súbita alta na corrente, lá se foi o velho rádio pro beleléu. Queimara uma das válvulas. O jeito foi apelar para o Guaranazinho, meu vizinho (rimou e é verdade), e passara ouvir o jogo em sua casa, geminada à minha. Ao encerrar, Brasil pela primeira vez campeão do mundo, com Pelé, Garrincha e Didi, para citar somente estes, de um time de craques extraordinários, saímos em passeata pelas ruas e praças, Doca Libério à frente com seu piston que fazia mais barulho que as tais vuvuzelas da África do Sul. São passados 52 anos.
(*) Ferrer Freitas é do Instituto Histórico de Oeiras
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