quarta-feira, 9 de junho de 2010

Eles pedem água

Antonio Francisco Da Costa e Silva.
Foto: acervo de Kenard Kruel.

(*) Deoclécio Dantas

Despertei para a necessidade de respeitar os recursos naturais numa aula de português, ministrada na segunda série do curso ginasial, em escola pública de Teresina.

Era princípio da década de 1950, quando o professor João Batista Pereira, ex-padre, que lecionava latim e português, esbanjou cordialidade na primeira aula numa turma de 36 alunos.

Lá pela quarta aula de português, ele surpreendeu a turma com duas estrofes, colocadas no quadro negro, do poema "A Derrubada", do poeta piauiense Da Costa e Silva, de quem, até então, nunca ouvíramos falar. As estrofes, das quais nunca esqueci, têm o seguinte teor:

"A árvore treme, a cada
Violenta cutilada
Que, ferindo-a, desfere a derrubada.
Abandonam-lhe os ramos seculares,
Festonados de frutos e de flores,
- Verde Arcádia dos pássaros cantores, -
As aves e os insetos
Que, assustados e inquietos,
Em debandada, fogem pelos ares.

E como é triste ver a árvore abandonada
Seguindo a tribo fugitiva e alada,
Espavorida pela derrubada!

O Piauí daquele tempo nem sonhava com as devastações que transformariam em desertos milhares de hectares de suas terras férteis, com a consequente destruição das nascentes de afluentes de seus principais rios.

E a marcha da devastação continua, monitorada por satélites, mas ignorada por gestores públicos solidários a grupos econômicos envolvidos na produção de carvão vegetal usado por siderúrgicas de vários Estados.

Em meio a esse gigantesco crime ambiental, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Piauí (FETAG) reuniu em Teresina trabalhadores de regiões atingidas por mais uma seca. Pediam agilidade do governo na liberação de carros-pipa para socorrer as populações flageladas. Desgraçadamente, em troca de migalhas, esses trabalhadores rurais apoiam a devastação de extensas áreas do Piauí, sendo exemplo recente a tratorada da J.B. Carbon na Serra Vermelha.

E o que fez a FETAG para, pelo menos, evitar a devastação das áreas que protegiam as nascentes de riachos? O comando dessa organização faria um grande favor ao Piauí se mostrasse aos sócios da entidade a íntegra de uma reportagem - pouco mais de 15 minutos - exibida pelo Globo Ecologia, edição de 28 de maio último, sobre as trágicas consequências de um crime ambiental da década de 1970, no norte de Minas Gerais, onde uma empresa que produzia carvão vegetal destruiu as nascentes do rio Cochos, um dos afluentes do rio São Francisco.

(*) Deoclécio Dantas é jornalista.

deocleciodantas@hotmail.com

Um comentário:

EMERSON ARAÚJO disse...

Que bom que um dos ícones do jornalismo piauiense apareceu aqui, parabéns, Deoclécio!