Josevita Tapety
Durante 3 anos, na casa de número 75 da Praça das Vitórias, aconteceu o espaço arte. Aquele lugar simples, tipicamente colonial, viveu intensamente. Músicos, artistas, literatas de Oeiras fizeram daquela a sua casa. Foram momentos inesquecíveis. Ali descobri que Oeiras é realmente terra de artistas.
Nos festejos veio gente de toda parte nos visitar. Excursões de universitários de várias cidades do nordeste, estudantes de escolas da capital, professores, artistas e toda gente simples que produz cultura popular encontrou ali seu espaço.
Sentada à porta da entrada, muitas vezes de madrugada, ouvia o silêncio da cidade. Galos cantam no meio da noite, o casal de corujas sobrevoam o centro rumo ao morro da sociedade, andorinhas, pardais e bem-ti-vis fazem festa nas amendoeiras, pega-pintos caçam do alto das palmeiras. Na primeira brisa, as folhas correm pelo calçamento. Os mal assombros, um dia hei de relatar em detalhes... Urubus passeiam altivos. Indivíduos de paletó no calor do meio-dia.
Olhar pelas janelas fazia sonhar com a antiga praça: o imenso lajedo por onde a chuva corria e direção ao Mocha, o cheiro de pedra molhada na primeira chuva, florezinhas amarelas e roxas aqui e ali, como pintadas nos quadros da minha mãe.
Por ali ficava a cavalariça, no tempo do Visconde. De vez em quando, à noite, nem sei se imaginação ou sonho, quase lembrança, sentia até o cheiro de esterco.
Ficava horas sentindo o sofrimento que a praça presenciou quando havia o pelourinho. Ouvia os sons da colina. Como deveriam ter sido freqüentes os tambores no tempo dos escravos...
Animais desciam o lajedo para beber no Mocha, mulheres subiam para o poço com suas trouxas para lavar...Imaginava as crianças que deveriam se deliciar com as águas correntes do antigo riacho. Dá um nó na garganta, uma dor no estômago ao chegar ás muretas do canal sempre que relembro esses sonhos. A imagem no meu inconsciente é sempre aquela retratada pelas primas que pintaram a ponte velha ainda em pedra e o riacho com suas pedras lindas, brilhando ao sol, o borbulhar das fontes entre as pedras e a prainha de areia do pé da ponte.
O riacho ainda não morreu, mas agoniza.
Os amigos que vinham visitar sempre reclamavam. Esta casa dá trabalho demais. Não oferece conforto nenhum. Manter isso aqui de pé custa caro demais. E custou. Mas a experiência de viver naquele lugar durante um bom tempo foi compensadora e pagou os custos. A semente plantada pelo espaço arte um dia há de render os melhores frutos.
De certo, ali passei mais confortável o calor dos “bro”. Termômetro não deixa mentir. A casa colonial da praça marca, na sala, quatro graus a menos de temperatura durante o dia e, à noite, as paredes respiram. O cheiro do tijolo cru é especial. Os ladrilhos, que mantivemos originais, sempre lavados de dia, soltavam umidade gostosa. Experimentei ali o conforto ambiental que nenhuma parede lisinha e rebocada com cimento, as cerâmicas modernas e forros de gesso não permitem mais ter. Os quartos pequenos, teto baixo e telha vã respingavam as chuvas fortes. Delicioso aquele frescor.
A casa de adobe quase me fez poeta.
Oeiras me faz sonhar.
Durante 3 anos, na casa de número 75 da Praça das Vitórias, aconteceu o espaço arte. Aquele lugar simples, tipicamente colonial, viveu intensamente. Músicos, artistas, literatas de Oeiras fizeram daquela a sua casa. Foram momentos inesquecíveis. Ali descobri que Oeiras é realmente terra de artistas.
Nos festejos veio gente de toda parte nos visitar. Excursões de universitários de várias cidades do nordeste, estudantes de escolas da capital, professores, artistas e toda gente simples que produz cultura popular encontrou ali seu espaço.
Sentada à porta da entrada, muitas vezes de madrugada, ouvia o silêncio da cidade. Galos cantam no meio da noite, o casal de corujas sobrevoam o centro rumo ao morro da sociedade, andorinhas, pardais e bem-ti-vis fazem festa nas amendoeiras, pega-pintos caçam do alto das palmeiras. Na primeira brisa, as folhas correm pelo calçamento. Os mal assombros, um dia hei de relatar em detalhes... Urubus passeiam altivos. Indivíduos de paletó no calor do meio-dia.
Olhar pelas janelas fazia sonhar com a antiga praça: o imenso lajedo por onde a chuva corria e direção ao Mocha, o cheiro de pedra molhada na primeira chuva, florezinhas amarelas e roxas aqui e ali, como pintadas nos quadros da minha mãe.
Por ali ficava a cavalariça, no tempo do Visconde. De vez em quando, à noite, nem sei se imaginação ou sonho, quase lembrança, sentia até o cheiro de esterco.
Ficava horas sentindo o sofrimento que a praça presenciou quando havia o pelourinho. Ouvia os sons da colina. Como deveriam ter sido freqüentes os tambores no tempo dos escravos...
Animais desciam o lajedo para beber no Mocha, mulheres subiam para o poço com suas trouxas para lavar...Imaginava as crianças que deveriam se deliciar com as águas correntes do antigo riacho. Dá um nó na garganta, uma dor no estômago ao chegar ás muretas do canal sempre que relembro esses sonhos. A imagem no meu inconsciente é sempre aquela retratada pelas primas que pintaram a ponte velha ainda em pedra e o riacho com suas pedras lindas, brilhando ao sol, o borbulhar das fontes entre as pedras e a prainha de areia do pé da ponte.
O riacho ainda não morreu, mas agoniza.
Os amigos que vinham visitar sempre reclamavam. Esta casa dá trabalho demais. Não oferece conforto nenhum. Manter isso aqui de pé custa caro demais. E custou. Mas a experiência de viver naquele lugar durante um bom tempo foi compensadora e pagou os custos. A semente plantada pelo espaço arte um dia há de render os melhores frutos.
De certo, ali passei mais confortável o calor dos “bro”. Termômetro não deixa mentir. A casa colonial da praça marca, na sala, quatro graus a menos de temperatura durante o dia e, à noite, as paredes respiram. O cheiro do tijolo cru é especial. Os ladrilhos, que mantivemos originais, sempre lavados de dia, soltavam umidade gostosa. Experimentei ali o conforto ambiental que nenhuma parede lisinha e rebocada com cimento, as cerâmicas modernas e forros de gesso não permitem mais ter. Os quartos pequenos, teto baixo e telha vã respingavam as chuvas fortes. Delicioso aquele frescor.
A casa de adobe quase me fez poeta.
Oeiras me faz sonhar.
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