sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Perfume de resedá

Arte by Netto

Edmílson Caminha

Perfume de resedá (Teresina, Oficina da Palavra, 2009), do poeta piauiense Paulo José Cunha, tem a riqueza de Boitempo, de Carlos Drummond de Andrade, a força do Poema sujo, de Ferreira Gullar, e a eloquência da Invenção do mar, de Gerardo Mello Mourão. Mais do que poemas grandes, são grandes poemas, pela quase compulsão com que se fizeram e pela intensidade com que emocionam quem os lê. Foram criados não porque assim resolveram os autores, mas porque a eles se impôs dar-lhes forma, como destino e catarse. Escrever ou morrer, devem ter sido as opções para a escolha.Em seu admirável poema, Paulo José Cunha desce ao mais remoto de si mesmo, à caça do tempo vivido, das brincadeiras da infância, dos tipos de rua, dos sonhos de menino e dos desejos de rapaz... Mergulho a que tem direito o poeta,

“pois já bebi o sol dessas auroras
chorei poentes de amargura
e hoje venho
os pés cobertos
da poeira dos quintais
dar testemunho de meu tempo
e reclamar
a herança que me cabe
por consuetudinário direito
e certidões
passadas em cartório
onde os assentamentos
ferrados
a bico de pena
ou ponta de punhal
me asseguram
a posse dessas memórias”.

São versos magistrais, que inscrevem Perfume de resedá entre as mais belas realizações da poesia brasileira contemporânea.

No correr dessa busca proustiana, emerge Teresina, não o município, a capital de estado, mas a terra em que se vive e se ama, a que Paulo José Cunha, com saber e talento, dá expressão lírica e grandeza literária. Fica-nos a lição do poeta: o que verdadeiramente imortaliza uma cidade não são prefeitos, nem estátuas de heróis nem o dinheiro que circula, mas a matéria humana e a beleza de obras como Perfume de resedá. Assim, Teresina sobreviverá ao tempo qual uma Jerusalém plantada entre rios, para a perpétua memória dos que a amam porque nela nasceram, ou porque (como eu...) a trazem, por destino e escolha, na algibeira do coração.

4 comentários:

leopoldo disse...

Isso é que é elogio:

"tem a riqueza de Boitempo, de Carlos Drummond de Andrade, a força do Poema sujo, de Ferreira Gullar, e a eloquência da Invenção do mar, de Gerardo Mello Mourão."

"No correr dessa busca proustiana, emerge Teresina,"

Cinen de Sousa disse...

O elogio excessivo acaba comprometendo; o artista ou a obra.

Zildete Ramos disse...

Cinen, depende de que artista e de que tipo de obra você está falando...

Airton Sampaio disse...

Coitada, Teresina não merece tanto desvario...