Lucídio Freitas. Foto sem crédito.
Peregrino Junior
(...) Devo esclarecer desde logo, porém, que não tomei para na Semana de arte Moderna. Nunca fui ovelha de nenhum rebanho. E recusei-me sempre declaradamente a aceitar a tutela dos caciques literários que comandavam a campanha. Mas fui uma rdente "torcedor" do Modernismo. "Torcedor" e escriba. Jornalista militante, dispondo primeiro de uma coluna diária no "Rio-Jornal", depois no "O Brasil" e por fim no "O Jornal", noticiei com probidade e simpatia todos os episódios do movimento, comentando-os com isenção, e entrevistei todos os seus líderes. Numa série de entrevistas, que publiquei no "O Jornal", ouvi Graça Aranha, Paulo Prado, Mário de Andrade, Ronald de Carvalho, Manuel bandeira, Anibal Machado, Alvaro Moreyra, Carlos Drummond de Andrade (que respondeu em versos), Emílio Moura, Abgar Renault, entre muitos outros, e nessas entrevistas - que Anibal Machado sugeriu fossem reunidas em livro - esses líderes definiram, cada um do seu ângulo pessoal, a significação, a importância e os rumos do Modernismo. Manuel Bandeira, embora recebendo-em com uma queixa: - "Me deixa quieto, Peregrino!" - fixou corajosamente sua posição em face do Modernismo, do qual foi aliás precursor. Anibal Machado, que já naquele tempo anunciava o seu teimosamente inédito "João ternura", exprimiu na consição de uma fórmula feliz a linha geral da atitude modernista: - "Nós não sabemos exatamente o que queremos, mas sabemos muito bem o que não queremos".
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Fui, portanto, testemunha dos acontecimentos, e só isto explica e justifica a minha presença neste ensaio.
Não experimento por conseguinte constrangimento ou dificuldade em opinar sobre o Modernismo e seus líderes. Aliás, eu era naquele tempo um simples estudante de Medicina, recém-chegado do Pará, e trabalhava na imprensa para viver. Era um "rapaz de jornal", como se dizia então. Mas trazia do Pará uma lembrança que me tornava o espírito receptivo, apesar da imaturidade, para a renovação literária que se tentava. Era a lembrança de um movimento de província, que o Rio desconhcia completamente e que fora anterior ao Modernismo. Quero referir-me ao movimento do grupo da revista "EPHEMERIS", chefiado por Lucídio Freitas, Tito Franco, Dejard de Mendonça, Alves de Souza, e que representou uma corajosa e afoita tentativa provinciana de renovação literária. Quem compulsar a colecão da "EPHEMERIS" - até materialmente original, discreta, diferente - vera que o "grupo paraense" merecia a atenção dos críticos e dos historiadores literários do nosso tempo. Esse movimento, de resto, mostrava como as sementes do Modernismo estavam soltas no ar, há lomgo tempo, esperando apenas condições adequadas para germinar e frutificar... (...)
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In O Movimento Modernista - Ministério da Educação e Cultura, Rio de Janeiro, 1954.
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