quinta-feira, 23 de julho de 2009

Academia Parnaibana de Letras rejeita poeta

Diego Mendes Sousa. Foto de Kenard Kruel.

Há um mês, em junho, a academia parnaibana de letras (Apal) fez eleição para uma de suas cadeiras vagas. Houve apenas dois candidatos. Um, José Nelson de Carvalho Pires, conhecido em toda a cidade por suas atuações como professor e político e que, ultimamente, tem se empenhado com ardor pela dignidade da Parnaíba e pela instalação nesta cidade de uma ZPE (Zona de processamento de exportação). O outro, Diego Mendes Sousa, poeta.

Os candidatos visitaram os eleitores; expuseram seus desejos, em busca de votos. Depois, feita a votação, revelou-se que, dos 36 votantes apenas 23 cumpriram o dever: dez a favor de José Nelson, dez para Diego e três em branco. Entonce, houve empate dos candidatos e três eleitores, votando em branco, declararam que não queriam nem um nem outro.

A academia marcou nova eleição para desempate, mas José Nelson escreveu carta ao presidente (carta que se tornou pública) retirando sua candidatura por se recusar a manter-se num grupo em que pessoas mentiram ao prometer-lhe votos que não apareceram.

Diego manteve-se candidato e foi feito um plebiscito: sim ou não para o poeta. Desta vez foi pior, houve apenas 12 votos: 9 a favor e 3 contra o poeta, que teve um voto a menos que na primeira votação. Os três eleitores que votaram em branco, pelo menos, revelaram que não queriam a presença do poeta entre seus pares enquanto 24 membros da academia sequer se dignaram votar, quebranco o compromisso com o regulamento da casa que assumiram na noite de suas posses e manifestando que pouco lhes interessa o futuro de seu sodalício, como costumam chamar sua academia. Assim, sem número suficiente de votos, o presidente definiu que a cadeira continua vaga e haverá nova eleição.

Dado o valor da obra do poeta rejeitado, pode-se presumir que os nove acadêmicos que votaram a seu favor formem uma nata intelectual que soube reconhecer aquele valor e na qual, por certo, estão incluídos os poetas que compõem a academia, quase todos surgidos há muitos anos, nos tempos do mimeógrafo e do jornal Inovação.

Diego Mendes Sousa publicou dois livros de poemas de alta qualidade num período de apenas dois anos, o que é raro na poética brasileira. Com excelente aceitação do primeiro (Divagações, 2006) fora da Parnaíba, o poeta alcançou um certo reconhecimento extra muros com uma rapidez que jamais acontecera na literatura de seu Estado. Pela qualidade dos poemas e pela revelação do poeta, Diego Mendes Sousa foi convidado de honra da Primeira Bienal Internacional de Poesia, realizada em Brasília, em 2008, sob a coordenação de Antonio Miranda, diretor da Biblioteca Nacional de Brasília. Durante a Bienal, o poeta participou de mesas e circulou pela capital federal entre destacados poetas brasileiros e estrangeiros, tratando e sendo tratado como um de seus pares. Além disso, lançou nacionalmente seu segundo livro (Metafísica do Encanto, 2008), que firmou o poeta entre os bons do Brasil. Há pouco, dia 10 de julho, durante o Belô Poético (uma espécie de festa da poesia, realizada em Belo Horizonte) foi lançada a antologia Poetas em/cena 3, com um vasto painel do que se faz de mais recente na poesia brasileira. Diego Mendes Sousa, rejeitado pelos acadêmicos de letras da Parnaíba, está incluído nessa antologia. Até agora, a poética de Diego Mendes Sousa tem buscado a duração prolongada do verso, ao fugir do efêmero e sem apego a lugares. Não é localizada no tempo nem na geografia que circunda o poeta. Não faz apologia da cidade em que ele vive e, isto, deve ter causado estranheza aos acadêmicos que o rejeitaram. Seu universo é muito mais amplo.

É o das eternas musas, dos mitos, dos elevados sentimentos, do sonho; o mesmo universo dos grandes poetas, gente como Rilke, Kavafis, Gerardo Mello Mourão e outros, que os acadêmicos da Parnaíba não conhecem. É um poeta com alto domínio da escrita e de profundo conhecimento em diversas artes, sobretudo a literatura, a música de alta qualidade (erudita e popular), a pintura, a dança e a ópera.

Com a recusa ao poeta Diego Mendes Sousa, a Apal perdeu a oportunidade de ter entre seus membros alguém realmente de letras e que é, por certo, o mais erudito intelectual da Parnaíba neste começo de século. Fica, porém, a certeza de que a Apal perdeu muito mais em não aceitá-lo do que o poeta perdeu em não ser aceito por ela. E este “não ser aceito” há de ser ferida leve, que logo há de fechar-se, e servirá para que o poeta pare de buscar pequenas glórias vãs e fugidias; quimeras.

Editorial O Bembém, 21 de julho de 2008.
Benjamim Santos
blog de artes

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