sábado, 21 de fevereiro de 2009

Teresina e seus “Pátios dos Milagres”

Silvio Mendes: "Isso não existe, em Teresina. É coisa do PT, que contratou a imprensa marrom para denegrir a imagem da Prefeitura de Teresina, a mais eficiente Brasil, quem sabe do universo. É a antecipação de 2010".
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Montgomery Holanda

Nenhum piauiense precisa ler o romance de Vitor Hugo e nem ver o filme sobre o “Pátio dos Milagres”, antro repudiado pelos parisienses, no qual se viam todas as promiscuidades dos estropiados, dos doentes, alcoólatras e vagabundos da capital francesa. O cenário de horrores mostrava todas as misérias físicas e morais de quem um homem é passível.

Quem quiser observar de perto este tipo de “vale de lágrimas”, basta dar uma passadinha em alguns mercados públicos e praças centrais de Teresina. Começo pelo marcado central, sempre em intermináveis reformas e onde, sem qualquer policiamento, os trombadinhas atuam livremente, os bêbados importunam os fregueses, os camelôs invadem as calçadas. Um verdadeiro barril de pólvora, prestes a explodir a qualquer momento, principalmente devido as gambiarras nas instalações elétricas de vários boxes e lanchonetes e no setor do artesanato. Mas, também chama a atenção do visitante, uma cena felliniana na entrada dos imundos banheiros: uma mulher, sentada numa velha cadeira, cobrando R$0,25 de cada usuário e segurando um rolo de papel higiênico, para distribuir alguns pedaços, em caso de necessidade. O festival de imundície se estende aos boxes de peixes, onde não há pias e nem torneiras para lavar o pescado.

Ninguém precisa assistir às façanhas de François Villon, personagem de Victor Hugo, para conhecer outro antro de miséria: o mercado do bairro Dirceu Arcoverde, durante as feiras de domingo. Ali, vários quarteirões são interditados para o tráfego de veículos e o local se transforma num verdadeiro mafuá, pecando pela total desorganização. As mercadorias são expostas no chão, são mínimas ou inxistentes as passagens para os pedestres, que vivem a agonia do empurra-empurra e, quem for podre, que se quebre – no caso os idosos, as gestantes e as crianças. É também um prato cheio para os descuidistas. A bagunça continua na praça de alimentação, onde transitam livremente as bicicletas ( há um mês conseguiram proibir as motocicletas). Há um barulho ensurdecedor, vindo de todas as direções, com músicas da pior qualidade. Tudo isso sem a presença de um fiscal da Prefeitura ou de um policial militar.
O POVO COME MAL – O cenário de horrores continua nas praças centrais, também se qualquer policiamento. Na Praça Saraiva, por exemplo, há grupos de alcoólatras atacando os passantes, casais de estudantes matando aulas e atentando contra o pudor. As paradas de ônibus foram ocupadas pelos camelôs e mendigos, além da presença sempre marcante dos descuidistas e trombadinhas.

Não há adjetivos para qualificar a Praça Rio Branco, cujas fontes se transformaram em viveiros de mosquitos da dengue. “Vamos banhar...?” – este é o apelo das prostitutas, inclusive algumas menores, dirigido aos idosos que atravessam a Praça marechal Deodoro (da Bandeira), convidando-os para os inúmeros hotéis (espeluncas) que existem nas proximidades.

Mas o pior de tudo está da variedade de comida oferecida nas praças e ruas do centro de Teresina, sem qualquer fiscalização. Fico a pensar: meu Deus, como o povo come mal e porcamente. A começar pelos bagulhos oferecidos nas calçadas ao lado do Palácio da Cidade, sede do governo municipal: espetinhos, quentinhas, bolos, salgados, água de côco. Além de um tal mingau maranhense, em panelões levados em carros-de-mão enferrujados e cobertos com panos brancos, de higiene também duvidosa.

Michael Zevaco, outro escritor francês, em algumas de suas obras, como os Pardellans, também descreve as misérias do Pátio dos Milagres. Mas, o nosso antro teresinense é bem mais moderno, pois nele estão incluídos objetos da pirataria, que tomam conta das calçadas e praças da cidade. Há locais onde ninguém consegue andar, pois estão tomados de CDs piratas, bancas de frutas e verduras e outras mercadorias que movimentam o crescente comércio informal da capital do Piauí. Acrescente-se a tudo isso os carros de som, com as suas estridentes propagandas comerciais.

Não gostaria de encerrar por aqui sem antes narrar uma indelicadeza, para não dizer uma aberração, de espantar qualquer turista: em restaurante, próximo ao Armazém Paraíba, no centro, há uma placa, bem visível, logo na entrada, com o seguinte “PF: R$4,00, com dois pedaços de carne; com mais um pedaço, R$5,00. Aviso, não é permitida a divisão do prato para duas pessoas, nem mesmo com criança.”
Pode um negócio desses...?

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