Anfrísio Neto. Foto sem crédito.
Mandu Ladino é o nome do índio. (Isso é lá nome de índio!) Genuinamente brasileiro, como, aliás, eram todos os índios no começo dos 500 anos. Mas este índio – tal de Mandu Ladino – é diferente. Tem história pra contar. Poderia, aliás, ser apenas mais uma história de índios massacrados e dizimados por portugueses ou catequizados por jesuítas em fins do século 17 e começo de 18. Mas não é. Tem história das boas. Foi retratada em 2006 em forma de romance pelo escritor piauiense Anfrísio Neto Lobão Castelo Branco. O livro mostra, entre um beijo e outro, a história verídica de um curumim (índio criança), manso, adotado pelos jesuítas quando estes, no intuito de catequizar índios Brasil afora, fundaram as tais Missões. Ou Aldeamentos, como insiste o pesquisador Paulo Machado.
Num desses aldeamentos, em Viçosa, localizado na linda Serra da Ibiapaba, que separa o Piauí do Ceará (aquela mesma da Iracema dos lábios de mel de José de Alencar), manduzinho foi capturado e vestido com a camisa de força da Santa Madre Igreja e da oficialidade de El Rei de Portugal. A identidade forjada pela imposição e pela violência. Mandado para outro aldeamento de jesuítas, na Paraíba, Mandu não se dobrou ao repicar dos sinos das Missões. E ao final de sua adolescência foge do mosteiro dos velhos padres. O destino? As terras do Piagohy. Sim, isso mesmo, Piauí, lar doce lar de Mandu. Veio rumo ao Grande Rio, o nosso Parnaíba, chamado pelos historiadores de o Grande Rio dos Tapuias.
Mandu Ladino é o nome do índio. (Isso é lá nome de índio!) Genuinamente brasileiro, como, aliás, eram todos os índios no começo dos 500 anos. Mas este índio – tal de Mandu Ladino – é diferente. Tem história pra contar. Poderia, aliás, ser apenas mais uma história de índios massacrados e dizimados por portugueses ou catequizados por jesuítas em fins do século 17 e começo de 18. Mas não é. Tem história das boas. Foi retratada em 2006 em forma de romance pelo escritor piauiense Anfrísio Neto Lobão Castelo Branco. O livro mostra, entre um beijo e outro, a história verídica de um curumim (índio criança), manso, adotado pelos jesuítas quando estes, no intuito de catequizar índios Brasil afora, fundaram as tais Missões. Ou Aldeamentos, como insiste o pesquisador Paulo Machado.
Num desses aldeamentos, em Viçosa, localizado na linda Serra da Ibiapaba, que separa o Piauí do Ceará (aquela mesma da Iracema dos lábios de mel de José de Alencar), manduzinho foi capturado e vestido com a camisa de força da Santa Madre Igreja e da oficialidade de El Rei de Portugal. A identidade forjada pela imposição e pela violência. Mandado para outro aldeamento de jesuítas, na Paraíba, Mandu não se dobrou ao repicar dos sinos das Missões. E ao final de sua adolescência foge do mosteiro dos velhos padres. O destino? As terras do Piagohy. Sim, isso mesmo, Piauí, lar doce lar de Mandu. Veio rumo ao Grande Rio, o nosso Parnaíba, chamado pelos historiadores de o Grande Rio dos Tapuias.
Pois bem, da Paraíba até o Piauí, ele percorre uma trilha, sentindo como nunca o gostinho da liberdade. Aquela que, sem nenhum favor, tinha ganho ao nascer. Aí começa a história verdadeira: por onde ia passando, ia aglutinando índios soltos e de várias etnias que encontrava pelo meio do caminho, num processo de convencer esses cara-vermelhas a lutar e expulsar cara-pálidas de suas terras. Virou cacique, liderando batalhas e mais batalhas com percas e mais percas dos dois lados. Nessas alturas dos acontecimentos, entram em cena dois velhos conhecidos da história oficial local: Domingos Afonso Sertão e Domingos Jorge Velho.
Essas duas medonhas criaturas, em troca de imensas glebas de terras em sertões do norte-nordeste, estraçalhavam tribos e mais tribos da imensa nação indígena nativa. Foi o início da chamada “civilização do couro” no Piauí. Mas Mandu não se dobrava nunca e continuava a luta – o bicho era teimoso que só! Incomodava - e como! - a corte portuguesa com suas estratégias e conhecimentos de índio amante da natureza. Conhecia cada detalhe geográfico da fauna, flora e do clima semi-árido da nossa região. E claro que por isso mesmo levava quase sempre vantagem contra um monte de brutamontes armados até os dentes, mas completamente ignorantes quanto ao seu campo de batalha. Tudo isso se encontra devidamente documentado, não como história oficial, claro. Mas juntando os cacos aqui e ali de documentos oficiais dá perfeitamente para montar o quebra cabeça. Tarefa para maluco nenhum botar defeito. Imagine para um monte de malucos.
Mandu, finalmente, foi tombado em 1719, depois de liderar várias revoltas contra os colonos e fazendeiros locais, os novos donos da terra brasilis. O local de sua morte ainda é objeto de estudo desse punhado de malucos, mencionados acima, o qual eu me incluo agora. O fato é que se não tivesse sido morto, teria formado o único país independente do planeta cuja nação seria indígena americana. E esta é toda a beleza da história. Escondida nos anais do tempo, claro! Por ironia do destino, o Piauí hoje é o único estado do Brasil que não possui um único índio sobrevivente.
Com o intuito de resgate histórico do índio como herói nacional (repare o tamanho da pretensão) e para resgatar a memória de Mandu Ladino (que se chamava Mandu ou Manu, provavelmente pelo nome católico- Manoel- que recebeu dos jesuítas, e Ladino, pela sua esperteza e face à posição de liderança que teve em combates) foi criada aqui em Teresina uma Brigada. O nome, você já adivinhou, diz tudo. A Brigada Mandu Ladino prevê a construção de um memorial em provável lugar onde o índio teria nascido no Piauí e a construção de uma trilha para resgate de todo o percurso de sua fuga – da Paraíba até o Piauí – e através desta trilha permitir o eco turismo como fonte de renda para pessoas diretamente envolvidas nestas paisagens, ou seja, vaqueiros, ecologistas, fazendeiros, resgate indígena etc.
Luiz Ayrton. Foto: Marta Tajra.
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Como se fosse pouco se pretende também pleitear que a BR 343, que abrange grande parte do Piauí, torne-se Rodovia Mandu Ladino. A primeira do Brasil com um nome de índio? Sinceramente, não sei. Mas sei que seria uma grande homenagem para quem muito lutou pela terra nativamente brasileira. Por trás dessa historinha toda, um grande maluco, digo, um grande amigo do coração, o médico Luiz Ayrton Santos Junior, que nas horas vagas (horas que ele não tem, mas dá sempre um jeito de arranjar) se mete a historiador e inventor de “causos”.
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Luiz, como Mandu, é teimoso que só. E sempre insiste, persiste e nunca desiste de seus sonhos.Estava há tempos com esta história do Mandu na cabeça, tal e qual uma utopia. Acometido de um insight súbito, dia desses resolveu botar a idéia pra frente. E a utopia foi virando realidade. Primeiro, a Brigada. Um grupo completamente heterogêneo formado também por diversas etnias de profissionais tais como médicos, historiadores, fotógrafos, jornalistas, advogados, nutricionistas, escritores, poetas, ecologistas, ambientalistas e por aí vai. O mote é o amor. Amor ao Piauí.
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Luiz Ayrton, assim como vários membros da Brigada, está convencido que o verdadeiro motivo do atraso e subdesenvolvimento piauiense provém dessa simples razão: a falta de amor à terra natal. Aliado a isso, ou conseqüência disso, uma tremenda falta de identidade própria ou de piauiensidade. Esta falta de amor e identidade tem razões profundamente enraizadas e explicadas até à luz do esoterismo. A matança dos índios é uma delas. Como se fosse um carma a nos perseguir.
Paulo Machado. Foto: Marta Tajra.
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A segunda palestra da Brigada, proferida quinta feira última (12) pelo pesquisador Paulo Machado (Aspectos Recentes da História de Mandu), mostrou que muito da nossa história se constitui ainda em processo de embargo e concessões pelo temor às raízes. Não se tem coragem de ir até o fim. De contar realmente o que aconteceu. O que existe de fato por trás da incrível civilização do couro? Uma história feita de sangue e concessões. Resultado: pode-se amar uma história dessas? Ou ter orgulho dessa matança toda?
Integrantes da Brigada Mandu Ladino. Foto sem crédito.
Resultados práticos da Brigada obtidos até agora: primeiro, a aglutinação de um monte de malucos beleza (no bom sentido, claro!) no intuito de esclarecer e resgatar esta parte da história e tentar a remissão dos pecados. Dos nossos pecados contra os índios. Segundo: já foi traçado o primeiro trecho da trilha ecológica que corresponde à Pedra de Castelo (veja site clicando aqui) até a cidade de Campo Maior, cerca de uma hora de Teresina. E, por fim, negociações, em andamento, com o diretor de cinema Luis Carlos Barreto e o ator Paulo Betti, para as filmagens da vida de Mandu.
Quem quiser conhecer mais sobre este trabalho, clique aqui e boa viagem. E quem quer participar da Brigada, sinta-se desde já convidado. O endereço das reuniões é este: Rua São Pedro, 3125, Ilhotas (próximo ao cruzamento da Rua Goiás) - auditório da Fundação Maria Carvalho Santos.
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