José Newton de Freitas
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Morte quase ao alvorecer da vida, autor de um livro póstumo, Deslumbrado, prefaciado pelo próprio pai, Felismino de Freitas Wéser, o poeta piauiense “mesmo com vida tão curta e escassa, afirmou-se como um dos maiores poetas do Piauí, sendo considerado o introdutor do Modernismo no Estado” – disse Zózimo Tavares no livro Sociedade dos poetas trágicos, dedicado a dez poetas piauienses que morreram cedo e, o entanto, deixaram obra poética relevante.
Como aquela “criança de gênio” da França, José Newton de Freitas, o nosso Rimbaud, começou a fazer poesia ainda menino. Embora com o sofrimento físico e algumas premonições em relação à morte, ele compôs seus poemas sensíveis e humanos, como O caminho, no qual, além da técnica pioneira modernista, um rico lavor místico ressuma no poema, ao nível de um Jorge de Lima e Cecília Meireles.
O CAMINHO
Os estudos de José Newton de Freitas tiveram início na sua própria casa. A mãe, dona Celina Mello e Freitas, preocupava-se com a sua educação, e já o via escrever os primeiros poemas, frutos precoces de sua sensibilidade e inteligência. Depois o jovem poeta passa pelo Grupo Escolar Antonino Freire e já, em Teresina, dá início ao secundário no então Ginásio São Francisco de Sales. O curso é concluído no Liceu Piauiense (atual Colégio Estadual Zacarias Góis).
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José Newton de Freitas foi o poeta de toda a literatura brasileira com menos tempo de vida. Em sua aparição brilhante e fugaz no firmamento das letras, ele não teve tempo sequer de ver publicado seu único livro, Deslumbrado. (Zózimo Tavares).
Nós, piauienses, também tivemos a nossa “criança de gênio”, vítima de turbeculose, aos 19 anos de idade. Nascido em Piripiri, aos 21 de novembro de 1920, a doença terrível ainda não tinha cura. Parece que tal doença tinha predileção por matar jovens poetas. Assim foi com Álvares de Azevedo (20 anos) e Castro Alves (25 anos). Mas os três ainda tiveram tempo de deixar a sua obra, sensível e dramática, garantindolhes a imortalidade.
Morte quase ao alvorecer da vida, autor de um livro póstumo, Deslumbrado, prefaciado pelo próprio pai, Felismino de Freitas Wéser, o poeta piauiense “mesmo com vida tão curta e escassa, afirmou-se como um dos maiores poetas do Piauí, sendo considerado o introdutor do Modernismo no Estado” – disse Zózimo Tavares no livro Sociedade dos poetas trágicos, dedicado a dez poetas piauienses que morreram cedo e, o entanto, deixaram obra poética relevante.
Como aquela “criança de gênio” da França, José Newton de Freitas, o nosso Rimbaud, começou a fazer poesia ainda menino. Embora com o sofrimento físico e algumas premonições em relação à morte, ele compôs seus poemas sensíveis e humanos, como O caminho, no qual, além da técnica pioneira modernista, um rico lavor místico ressuma no poema, ao nível de um Jorge de Lima e Cecília Meireles.
O CAMINHO
Vinde a mim todos vós que sois humanos.
Vinde. Eu vos ensinarei o catecismo da fraternidade.
Vinde, ó meus irmãos! Meus braços ficarão do tamanho
do mundo para um amplexo cordial. Eu vos abraçarei em espírito.
Agora olhai para o Grande Caminho.
Não vedes uma estrela a iluminar a estrada?
Eu irei na frente para mostrar-vos o melhor.
Ela nos guiará como guiou os Magos outrora.
Vinde. No Grande Caminho todos serão iguais:
ricos, pobres, fortes, fracos.
Todas as cabeças estarão na mesma altura.
Nenhum homem falará para o outro com os olhos no chão.
Outrora houve um reformador sábio e santo.
Ele veio. Pregou a igualdade e a fraternidade.
Os ignorantes a serviço dos déspotas não o compreenderam.
Os ignorantes o crucificaram. Mas não crucificaram o ideal.
Cristo! Senhor! Volta! As massas esperam pelo teu regresso.
Vem e repete a tua doutrina aos transviados do Grande Caminho.
Sicários de poderosos querem apagar a tua lei.
Volta antes que as massas desesperem.
Antes que os oprimidos tirem teu nome de dentro da alma.
Abandonados, decepcionados.
Nós não te desejamos em corpo.
Os déspotas crucificariam teu corpo novamente.
Vem em espírito. Que a força da tua presença derrube a tirania.
Queremos é o teu Poder. E a multidão se levantará invencível,
a multidão que não deixou de ter fé.
A multidão quer o teu reino aqui mesmo,
quer ouvir ao menos o ecoar da tua Palavra...
Vinde. Eu vos ensinarei o catecismo da fraternidade.
Vinde, ó meus irmãos! Meus braços ficarão do tamanho
do mundo para um amplexo cordial. Eu vos abraçarei em espírito.
Agora olhai para o Grande Caminho.
Não vedes uma estrela a iluminar a estrada?
Eu irei na frente para mostrar-vos o melhor.
Ela nos guiará como guiou os Magos outrora.
Vinde. No Grande Caminho todos serão iguais:
ricos, pobres, fortes, fracos.
Todas as cabeças estarão na mesma altura.
Nenhum homem falará para o outro com os olhos no chão.
Outrora houve um reformador sábio e santo.
Ele veio. Pregou a igualdade e a fraternidade.
Os ignorantes a serviço dos déspotas não o compreenderam.
Os ignorantes o crucificaram. Mas não crucificaram o ideal.
Cristo! Senhor! Volta! As massas esperam pelo teu regresso.
Vem e repete a tua doutrina aos transviados do Grande Caminho.
Sicários de poderosos querem apagar a tua lei.
Volta antes que as massas desesperem.
Antes que os oprimidos tirem teu nome de dentro da alma.
Abandonados, decepcionados.
Nós não te desejamos em corpo.
Os déspotas crucificariam teu corpo novamente.
Vem em espírito. Que a força da tua presença derrube a tirania.
Queremos é o teu Poder. E a multidão se levantará invencível,
a multidão que não deixou de ter fé.
A multidão quer o teu reino aqui mesmo,
quer ouvir ao menos o ecoar da tua Palavra...
Poema discursivo, prosaico? Instintivamente, a posição estética do poeta é tática – como dissera certa vez Mário de Andrade em relação à sua própria obra. Depois do fervor romântico, da Escola anterior, o poeta se volta para uma para uma dicção intelectual, voltando à norma da língua, para mostrar que a Palavra, a poesia pode ter outros caminhos que não o das “figuras de palavra”, aqueles caminhos marcados por Mallarmé (o artista/ o intelectual) e Rimbaud (o vidente/ o sacrossanto).
É evidente que o leitor comum não entraria por essas áreas de especulação estética. E aqui é apenas um alerta para a alternância técnica e estilística da sucessão das Escolas literárias.
Enfim, José Newton de Freitas “é um poeta que deveria ser mais conhecido das novas gerações” – disse outro poeta piauiense, Chico Miguel de Moura: “não só pela introdução do verdadeiro Modernismo no Piauí, mas também pela delicadeza de sua poesia, não obstante cantar o seu sofrimento e a angústia de sua dor”.
Os estudos de José Newton de Freitas tiveram início na sua própria casa. A mãe, dona Celina Mello e Freitas, preocupava-se com a sua educação, e já o via escrever os primeiros poemas, frutos precoces de sua sensibilidade e inteligência. Depois o jovem poeta passa pelo Grupo Escolar Antonino Freire e já, em Teresina, dá início ao secundário no então Ginásio São Francisco de Sales. O curso é concluído no Liceu Piauiense (atual Colégio Estadual Zacarias Góis).
Os poetas piauienses, que se conhecem a sua obra, sempre o elogiaram, como J. Miguel de Matos: “José Newton de Freitas é o maior fenômeno poético do Piauí de todos os tempos”. Ele dá um salto qualitativo numa época em que os epígonos parnasianos e românticos ainda infestavam o inteiro Brasil. Lembrar que o poeta também foi um excelente prosador. E tudo isso, poesia e prosa, criadas entre seus 12 e 19 anos de idade.
Lembrar ainda que o poeta Rimbaud foi descrito por outro poeta, Verlaine, de uma maneira curiosa. Tal depoimento muito se assemelha à descrição que fez de José Newton de Freitas outro grande poeta piauiense, Celso Pinheiro (1887/1950): “Ele roçava pelos seus 17 anos e era bonito e fascinante rapaz.../ Vi-me, de momento, atraído para aquele jovem de feições delicadas, olhos de luz e cheios de sonhos, imberbe, simpático, atraente mesmo, na elegância de seu terno claro e distinto. / Algo dos céus o impelira, a esse tempo, ao abismo maravilhoso das letras”.
4 comentários:
Introdutor do modernismo no Piauí? Haja ignorância! José Newton de Freitas é romântico até à medula.
É preciso estudar a obra de Newton de Freitas de maneira mais sensata, mais criteriosa, evitando sempre cometer declarações exageradas e desnecessárias como esta:
“José Newton de Freitas é o maior fenômeno poético do Piauí de todos os tempos”.
Concordando com o Airton, também não vejo Newton de Freitas como introdutor do Modernismo no Piauí.
obrigada, você me ajudou pois tem muitas coisas em relação a ele
só cuidado com algumas coias como os outros comentarios diseram
De fato, José Newton de Freitas, de Piripiri, é o precursor "tardio" do romantismo no Piauí.
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