Régis Bonvicino. Foto sem crédito.
Régis Bonvicino nasceu na cidade de São Paulo, em 1955. Formou-se em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), em 1978. Trabalhou como articulista do jornal Folha de S. Paulo e de outros veículos até ingressar na magistratura, em 1990. Seus três primeiros livros, Bicho papel (1975), Régis Hotel (1978) e Sósia da cópia (1983) foram editados por ele mesmo e foram reunidos no volume Primeiro tempo (Perspectiva, 1995). Participou de diversas leituras de poesia internacionais, entre as quais se destacam as atuações em Buenos Aires, Miami (Miami Book Fair), Copenhague e em Paris, na III Bienal Internacional de Poetas em Val-de-Marne, com leituras na Maison de La Amerique Latine. Dirigiu as revistas de poesia Qorpo Estranho (três números), Poesia em Greve e Muda,entre 1975 e 1983. Em 2001, fundou a revista Sibila (http://www.sibila.com.br/), que co-dirige com Charles Bernstein. (Livio Oliveira).
LO: Há leis, hoje, para a poesia?
RB: Todo poeta maior, como Murilo Mendes, João Cabral ou Drummond, cria suas próprias “leis”, cria uma poética – que é menos uma “lei”, uma norma cogente, e mais uma constante dinâmica.
LO: Que momento vive a poesia brasileira?
RB: O de aceitação do presente capitalista como infinito, isto é, um momento decadente, epigonal, sem originalidade. Sem razão utópica, de mera produção, no sentido mecânico da palavra. A poesia brasileira atual é das mais provincianas do mundo. Um exemplo paradigmático é a poesia e a figura do “consagrado” Carlito Azevedo, que, aliás, não escreve há uma década. Carlito Azevedo, que pode ter 25 anos de tempo livre, sem trabalho formal para ganhar o pão.
LO: Que oportunidades a internet tem trazido ao debate intelectual e literário?
RB: Hoje, a mídia institucional não promove debate de idéias. Seu espaço é dominado pelo que, de modo geral, chamo de “Companhia das Letras”: letras vendidas! Há muita coisa deplorável na internet, mas ela cumpre papel importante. E a cada dia vai melhorar a qualidade do que se publica na internet sobre crítica literária e poesia. Os jornais em papel estão sem margem para crescer, a internet é “o” veículo, creio.
LO: Fale-nos sobre sua experiência como tradutor.
RB: É muito difícil traduzir bem, é sofrido. A tradução é uma atividade relevante numa poesia provinciana como a brasileira. Mas 90% dos poetas do mundo atual não são diferentes dos brasileiros. Tradução, no meu caso, é diálogo.
LO: No Brasil, quem você respeita no campo da tradução?
RB: Haroldo de Campos, por ter formulado uma teoria da tradução. Augusto de Campos por inúmeras traduções excelentes.
LO: Você fez um trabalho artístico com Yoko Ono. O que lhe trouxe de novidade, de diferente?
RB: Traduzi seus poemas-instruções, mais como homenagem ao grupo Fluxus e a John Lennon. São mais instigantes que 95% do que hoje se escreve no Brasil como “poesia”.
LO: Como exercer a crítica com ética?
RB: Não há crítica no Brasil, é isso que é falta de ética, cooptação. A crítica desvela os mecanismos de um objeto. Aqui ninguém está interessado em ser desvelado, e sim em ser consagrado.
LO: Por falar em crítica, é verdade que você não suporta Chico Buarque de Hollanda, uma quase-unanimidade deste país?
RB: Suporto, sim, mas não gosto. Acho o Chico Buarque branco demais, nepótico demais, mau cantor, um letrista “engenhoso”. Um produto para a classe média. Você já o ouviu cantar “Mulheres de Atenas”: é uma obra-prima às avessas, uma tortura. Ele foi endeusado no tempo da ditadura. É um mau prosador. Prefiro Caetano Veloso, o maior songwriter brasileiro dos últimos cinqüenta anos, pela quantidade de canções de qualidade, embora ele não tenha sabido calar-se no momento certo, acho. Hoje, de uns vinte anos pra cá, expõe-se muito, desnecessariamente. Falta um pouco de Caymmi nele, falta-lhe silêncio. E amigos sinceros. Mas é o Noel dos anos 60 e 70. A Tropicália foi um movimento superestimado no Brasil. A Tropicália é Caetano, o violão do ex-Gil e as letras de Torquato Neto. E Rogério Duprat. Qualquer um dos quatro principais trabalhos de Jimi Hendrix – Are you experienced? (1967), Axis: bold as love (1968), Eletric ladyland (1969) e Band of gypsyes (1970) – é superior a toda a Tropicália, como vanguarda e radicalidade.
LO: Conte-nos sobre sua experiência de dirigir revistas literárias.
RB: É ato de contribuição à literatura e de crítica. E também de autopromoção! (Ha, ha!)
LO: Foi gratificante ter escrito uma obra para o público infantil? Repetiria a experiência?
RB: Muito gratificante. Mas meus filhos cresceram e não tenho mais fonte de inspiração.
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