Clube dos Fofoqueiros I: Albert Piauí, Kenard Kruel, João Cláudio Moreno e ele, o Joca Oeiras, o maior deles (em todos os sentidos).
Foto: Graça Pires de Castro.
Paulo Moura
A fofoca goza hoje de reputação indiscutível sendo, inclusive, incentivada em vários setores da sociedade moderna. Muitos a praticam com zelo e competência invejáveis.
A sua origem remonta a épocas imemoriais, perdendo-se na noite misteriosa dos tempos. Dizem que surgiu no Jardim do Éden, logo após Adão e Eva terem comido do fruto proibido. A Serpente - causadora da expulsão do casal primordial do Paraíso -, não satisfeita, disse para Adão que ouviu dizer que Eva teria dito que achava o seu pinto pequeno. Se Adão acreditou, ou não, o certo é que logo depois tratou de cobri-lo com uma folha de parreira.
A palavra fofoca, usada nos nossos dias, sofreu mudanças com o passar dos séculos. Usava-se, a princípio, fuxico que vem do sânscrito “fujco” com o sentido de “ouvi dizer”. Daí, a derivação para o grego “phuxko” que traduz-se por “tá todo mundo sabendo”; pelo latim tardio “fulsicum” obtém-se a tradução “me contaram”. O termo chegou à terra dos bretões, quando da ocupação pelo Império Romano governado pelo imperador Adriano, traduzido para “fullshit” com o sentido de “você viu a merda que fulano fez?”
O fuxico alcançou grande notoriedade nas cortes européias, notadamente em França, ao tempo dos reis Luís XIV e Luís XV. Ali, era praticada com requinte aristocrático de causar inveja aos políticos da atualidade. Os nobres franceses denominavam “fois-tric” (pronuncia-se foá trique) às insinuações ouvidas de alguém que disse que alguém ouviu que uma pessoa contou que ouviu alguém dizer... Era tão difícil destrinçar a teia de um fois-tric que os envolvidos, quase sempre, perdiam a cabeça.
Dizem que foi um famoso escritor francês do século XVIII – omito o nome pra evitar confusão pro meu lado – quem primeiro fez um estudo científico sobre o tema. Em 1769 ou 1796 – quem me contou não sabe ao certo – escreveu o livro “Lê fois-tric c’est la mérde”, explorando com incrível riqueza de detalhes esse vasto e fascinante universo das futricas, como o termo ficou conhecido entre nós.
Ei, psiu! Escuta aqui: vocês sabem porquê Freud separou-se de seu discípulo Jung? Nem vos conto. Dizem que foi porque Jung estava escrevendo um tratado monumental que iria derrubar todas as teorias freudianas sobre a psique humana. Me disseram que a empregada de Jung, um dia, por curiosidade, viu sobre a mesa do escritório do renomado médico um manuscrito onde estava escrito: “Tratado Sobre a Futrica Como Gênese de Todas as Mazelas Humanas, Segundo me Contaram”. A empregada ficou tão curiosa que resolveu perguntar ao seu ex-patrão, doutor Charcot, sobre o significado daquele título tão instigante. Pronto. Foi o suficiente para que toda a comunidade científica da época tomasse conhecimento da obra. Menino, quando chegou aos ouvidos de Freud, ele ficou uma fera! A raiva dele era porque em conversas anteriores com Jung, havia lhe confidenciado que, na realidade, “tudo é futrica” e não “sexo” como supunha. Jung, que não é besta, pegou o gancho e começou a escrever sobre o tema. Quando Freud soube da “trairagem” de Jung, intrigou-se na mesma hora e disse-lhe que se ele tivesse vergonha não passasse na calçada da sua casa. O rompimento com o mestre fez com que Jung, com raiva, jamais publicasse o tratado. Há rumores de que o manuscrito teria ido parar na biblioteca particular de Adolf Hitler, que teria roubado de um amigo chamado Karl Haushoffer. Haushoffer era aquele mesmo que andava espalhando que os arianos seriam os descendentes dos gigantes que habitaram a Terra há muito tempo. Além de outras histórias que ele ouviu dizer. O resto, vocês já sabem no que deu. Um holocauto.
Há muito mais coisas por trás das coisas que nos são apresentadas como verdades irretocáveis. Existem segredos ocultos em cada lance do que acontece na vida particular e na vida das coletividades.
A futrica, dizem, governa invisivelmente o mundo, que é uma teia enorme de fofocas aumentando a cada segundo.
Há sempre uma boca para fofocar e muitos ouvidos prontos para acolher, distorcer, aumentar e passar adiante. Todos querem dar sua contribuição.
Eu não quero ser gente se tudo isso não for a mais autêntica verdade.
Paulo Moura - Jornalista Ilustrador, Designer gráfico e Camelô Blogueiro.
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