Paulo Andrade, matador de gatos.
Foto sem crédito.
Eu chegava ao "Nós e Elis" por volta das seis da tarde pra passagem de som, toda vez que lá ia tocar com o Candeia; afinava os instrumentos, ligava os pedais de efeitos que eram vários, coloridos, efeitos diversos, (tinha uma amiga que dizia que eram meus brinquedinhos; e ainda hoje tenho alguns) passava bateria, testava os microfones, as caixas, retornos, enfim, deixava tudo prontinho pra quando retornar às dez para o show; mas sempre que estava passando o som, chegava a Denise, que o Netinho batizou carinhosamente de "Re bordosa" em homenagem a uma personagem de uma tirinha do Angeli que tomava todas! A Denise não só tomava todas, tomava todas e alguma perdida que ainda restava! eita moleca pra beber! Saía da Ufpi e ia direto pro bar e quando chegava já ia gritando: "Paulinho, meu lindo, fofo!" e já pedia uma pra lavar o peri; era uma alma boa, alegre, um sorriso largo e lindo, uma personna grata do bar, e muito querida por todos, e tinha, assim como o Kenard, o Albert e o poeta Williams soares, um prego também; e ficava ali, bebendo, inticando com um e com outro, de mesa em mesa até chegar no Lauri, um poeta que estava sempre escrevendo, rabiscando poemas em guardanapos numa mesa do Nós e Elis, sempre na companhia inseparável de sua filhinha, uma bonequinha de uns dois anos, creio eu; a sacola do lado com tudo dentro: mamadeira preparada, toalha, fraldas, chupeta, agasalho, gorrinho, tudo! muitas vezes vi ele trocando fraldas lá, só não consigo me lembrar o nome da princesinha; e como cuidava bem dela! Só ficava no máximo, até às dez, porque a neném tinha que dormir; não é qualquer mãe que tem tanto zelo e carinho como tinha o Lauri pela filhinha, e ela gostava de ficar ali, sorrindo pra Denise que lhe fazia muitos dengos. Uma cena de um pai solteiro, de uma família de dois, uma cena surreal, linda de ver e viver.
Numa dessas noites em que lá estava, me surpreendi com o Lázaro que chegava eufórico com uma fita cassete na mão, me chamando pra ir até o carro ouvir, de primeira mão, uma prova da mixagem do seu segundo (era mesmo o segundo? eita memória) disco que acabava de gravar no Rio de janeiro; e como ele estava feliz e empolgado com o disco! Eu também gostei. Há alguns anos, dona Helena Conde, ex-primeira dama e mãe do Fernando Conde, ex- Ensaio Vocal e grande amigo, me ligou pra pegar uma caixa de LPs antigos que ela gentilmente me doara, e entre eles estava esse disco do Lázaro que eu acho que nem ele mesmo tem mais.
Não sei ao certo se foi nessa mesma noite que um fato pitoresco (e perigoso) aconteceu no bar: Paulo Andrade, um dos filhos do famoso bicheiro Castor de Andrade, andando por aqui, achou de praticar tiro ao alvo num pobre gatinho que estava passeando na cerca de dormentes que ladeava o bar; tiro vai, tiro vem mas o bichano assustado conseguiu escapar, o mesmo não acontecendo com o infeliz caubói que foi preso pela policia que foi chamada de imediato pelo Elias, e foi dormir no xadrez que é lugar de cabra valente (pra pobres gatinhos) que nem ele; menos mal que já era fim de noite, não tinha mais tanta gente e entre mortos e feridos, todos sairam ilesos, inclusive o bichano.
Acontecimentos como esses, inusitados, somados a outros surreais, como os citados acima, permeiam com perfeito equilíbrio um local que tinha de tudo, um bar entre anjos e “demônios”, entre o bem e o “mal” (?); 'Ebony and ivory live in perfect harmony, side by side of my piano," parafraseando Paul Mc Cartney nessa canção que diz tudo. Um bar assim, palco de tudo, certamente será inesquecivel, mesmo para os que, por um motivo ou outro, fazem de tudo para esquecer. Entre ser feliz e não ser, prefiro sê-lo, e lá, eu e meus amigos nunca fomos tão felizes. Ora, mas esse era o nome do bar dos “Três Mosqueteiros” Mendes, Brito e Fortes que, infelizmente não mais existe, mas também era um bar do bem e de pessoas de bem.
* Paulo Aquino, admirador do miau que o gato deu.
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