sábado, 24 de janeiro de 2009

De Calçadas

Alberoni Lemos Filho. Foto sem crédito.

Alberoni Lemos Filho

Nada tenho contra os camelôs. Aliás, nada tenho contra qualquer cidadão que procura ganhar a vida da maneira mais difícil que há: trabalhando. Entretanto, amigos, vamos convir que está demais. Alguém tentou, nos últimos dias, transitar pelas ruas centrais da cidade? Claro, todos tentaram e, portanto, todos vão concordar comigo: cadê espaço para o povo andar?

Naturalmente, pode-se andar no meio da rua, onde há pouca gente. Mas, como Teresina tem uma porção de veículos, um passeio no meio do calçamento é hoje algo perigoso. "Lugar de pedes­tre é na calçada", dirão. E eu digo: era. Calçada hoje é do camelô, que vende "cinco lâminas de barbear por cem cruzeiros" e cuja mercadoria está sempre para acabar. ("Só tem estas de resto, leva uma ô meu prezado").

Mas bem. Nem só de camelô vivem as calça­das. Também de caixotes. Ainda ontem, ali na Simplício Mendes, imediações de "O Camiseiro" (juro que não é propaganda) havia alguns deles (caixotes). Melhor dizendo, caixões, pois devem ter servido de embalagem, a julgar pelo tamanho, a um elefante. Minto, a uma geladeira. Resultado...

...Sim, o resultado: ao tentar esgueirar-me entre um camelô e suas mercadorias e os tais cai­xotes, dei um memorável encontro num senhor gordo que fez "humph!", tive o pé pisado por alguém e quase atropelo um guri. É o diabo, podem crer. A situação, porém, não ficou só nisso: havia um grupinho de moços do cabelo grande a discutir a última festa, os novos modelos de sapatos (para calçar sem meias), - e o tal grupinho situava-se bem na estreitíssima passagem. Como o povo de Tere­sina é muito conformado, ninguém incomodou os tipos, e eles continuaram a debater, já agora calças justas.

Voltemos às calçadas: estavam cheias. E, para conseguir passagem, subornei um camelô, que deu-me licença para saltar por cima de suas bugigangas.

O suborno? Cem cruzeiros, em troca de cinco lâminas de barbear. Estão aqui na redação, à dispo­sição da autoridade que nunca andou em calçadas.

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Alberoni Lemos Filho escreveu diversas crônicas sob o título Minha Pena, Minha Vida, no jornal O Dia, e sob o título Coluna Por Todos, no jornal O Estado. Virgínia Lemos, filha do Alberoni, está digitando-as. Depois, o Albert Piauí fará capa e diagramação dos dois livros. A que publico hoje faz parte do livro Minha Pena, Minha Vida. Fiquem na Tocaia.

Um comentário:

Edmar Oliveira, disse...

Deliciosa crônica de Alberoni. Parabens a Virginia pela edição das cronicas maravilhosas do pia.
Edmar, Piauinauta.