quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Lagoa do Jacaré, embate histórico

Lagoa do Jacaré, em Piracuruca

No dia 10 de março, na localidade Ilhós de Baixo, nas cercanias da Lagoa do Jacaré, em Piracuruca, um grupo de reconhecimento da tropa de Fidié, formado por 80 soldados, encontrou-se cavaleiros cearenses, em número de 40 ou 50, dando-se, aí, o primeiro confronto militar envolvendo soldados portugueses e independentes brasileiros na Província do Piauí. 

O professor e pesquisador Augusto Brito reclama que “ao embate da Lagoa do Jacaré deverá ser atribuída a importância de deflagrar, em campo de batalha, a ‘Guerra do Fidié’. O sangue de alguns possíveis cearenses anônimos, que jorra e se infiltra em solo da Piracuruca, sagra o firme ideal brasileiro de construção de uma pátria livre e soberana, com a unidade territorial na dimensão que a conhecemos atualmente. Prelúdio da Batalha do Jenipapo, a escaramuça piracuruquense – como, ademais, seus personagens – permanece amargando o desconhecimento e o descaso.”

O desconhecimento e o descaso, contudo, partem dos historiadores de hoje, porque os de antes, pelo menos os mais importantes, como F. A. Pereira da Costa, Abdias Neves, monsenhor Chaves e Odilon Nunes dele, ainda que em poucas linhas, fazem referência em seus livros. De lá para cá, porém, é que nada de novo foi feito para que o Embate do Jacaré tenha, sim, sua importância registrada nos anais da história da Independência do Brasil no Piauí. Vejamos os que dizem os mestres: 

F. A. Pereira da Costa, citando Vieira da Silva, consigna assim o referido embate: “Prosseguia o major Fidié a sua marcha sobre Oeiras. Chegando ao Ilhós de Baixo e desejando tomar a retaguarda dos independentes que havia evacuado para Piracuruca, mandou marchar 80 homens de cavalaria com dois oficiais para reconhecer o terreno. No dia 10 de março, encontrou-se este piquete com uns 40 ou 50 independentes também montados, com os quais tiveram uma escaramuça junto ao Lago Jacaré, sofrendo estes últimos algumas perdas e ficando da tropa portuguesa um soldado prisioneiro.” 

Odilon Nunes relata que Fidié na sua caminhada para Oeiras, em obediência a seu dever de militar e também de sua convocação de intimorato batalhador, “apresta suas forças, e ao primeiro dia de março já está em plena campanha, a esquadrinhar as trilhas e veredas que mergulhavam no sertão ignato, independente e, através das quais, procuraria abrir caminho, com o fim de restituir o antigo governo. Um piquete de oitenta cavalarianos faz sua vanguarda e, a partir de Ilhós de Baixo, ao perquerir as vizinhanças, surpreende na Lagoa do Jacaré um grupo de 40 a 50 cavalarianos recrutados entre aqueles negaceadores, em verdade mais efeitos aos rebuliços da vaquejada ou quando muito às lides da arte venatória, e, depois de ligeira escaramuça em que há perdas de ambos os lados, tem livre o caminho que conduz a Piracuruca, o mais poderoso acampamento de separatistas do Piauí.” 

Abdias Neves assim historia: “No dia seguinte, com efeito (10 de março), o exército português, maior de 1.100 homens, bem municiado e armado, garantido por 11 peças de artilharia, marchou rumo de Piracuruca - Fidié supunha encontrar defendida por tropas cearenses. E, a fim de lhes cortar a retirada e impedir que volvessem ao Ceará, destacou um piquete de 80 praças da cavalaria, apenas chegou a Ilhós de Baixo, determinando que fizesse explorações nos arredores do povoado. Pouco, entretanto, pode fazer porque, casualmente, se encontrou ele com um grupo de cearenses, dos que percorriam a vizinhança, e travada pequena escaramuça, fugiram os lusitanos deixando prisioneiro um soldado, que foi morto imediatamente. O encontro teve lugar perto da Lagoa do Jacaré e, desde então, não sabendo Fidié a que resistência teria de fazer face, marchou cautelosa e vagarosamente, preparado para tomar a defensiva ao primeiro sinal.” 

Monsenhor Chaves, assim expõe o ocorrido naquele dia: “Os espias de Fidié, que sempre o precediam na sua marcha colhendo informações, já o haviam prevenido da situação em Piracuruca. Nas alturas de ilhós-de-Baixo ele destacou uma força de 80 cavaleiros comandados por dois oficiais para fazerem um reconhecimento nas proximidades da povoação. Esta força, por acaso, encontrou-se no dia 10 com um grupo de 60 cearenses, armados e montados já em retirada, nas proximidades da Lagoa Jacaré. Travaram uma ligeira escaramuça. Os soldados de Fidié fugiram deixando um companheiro que foi aprisionado e morto. Os cearenses também tiveram alguma perda. Esse chamado Combate do Jacaré, o primeiro nas lutas de nossa independência, tornou Fidié mais cauteloso naquele dia. Dai por diante sua marcha foi lenta, como que apalpando o terreno, temeroso de uma cilada, sempre pronto a tomar a defensiva ao menor sinal de ataque dos independentes.” 

Acontece que, após o Embate da Lagoa do Jacaré, os patriotas rumaram para esconderijo seguro, esperando nova oportunidade de ataque às forças de Fidié. É que, para enfraquecê-lo, estavam adotando a tática de guerrilha, ou seja, de ataques relâmpagos.

Nenhum comentário: